A IDADE DO TEMPO >> Carla Dias >>
Na minha cabeça pipocam pensamentos metidos a ser sonhos. Então, sonho a arquitetura do silêncio, enquanto quadro negro para a história a ser vivida. E assim as cenas se formam. Nada nelas lembra a perfeição desabrochada dos olhares rigorosos... Estão mais para a sonsice dos olhares esfomeados pelas diferenças que tão bem combinam com o inovador.
Não caminho pela cidade como quem colhe tempo. Vou esvoaçando fiapos dele, cultivando passos, contando caracóis dos cabelos do moleque de sorriso lindo e despreocupado. Em segundos, então minutos, vou me aproximando das horas. E faço de conta que nunca conheci calendário. Assim, até mesmo os dias parecem mais longos, mas de um espreguiçar a doçura dos gestos e a vivacidade das cores.
O mais sedutor de se brincar de tempo como ando fazendo, é que assim tudo cabe num piscar de olhos. E um piscar de olhos cabe em qualquer tempo. Há uma afinidade verdadeira entre o que vivo e o que se esparge nos meus devaneios.
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O que se esparge nos meus devaneios é o que vivo... Levanto-me com desejo latente de ser feliz e vou para o trabalho, pronta para fazer o melhor. Trabalho por horas e, às vezes, fecho os olhos e busco nessa escuridão seqüestrada do horário comercial, a luz tênue que precede as boas novas. Volto para casa e assisto meus programas favoritos, leio livros de cabeceira. Leio a revista do bairro e jornal do magazine da esquina. E ouço músicas... As de amigos sempre me comovem. Adormeço a mercê de um emaranhado de possibilidades, provenientes de todas as informações que esse dia me ofereceu. E o ciclo se repete... Ainda bem! Porque meu flerte com o tempo que passa necessita de oportunidades diárias para se manifestar, e manter minha existência alimentada de desafios.
No tempo também desembaraço relacionamentos. São noites a vislumbrar um amor que virá em algum quando; dias sendo vividos ao lado dos amigos e familiares e de estranhos muito interessantes. Horas tentando decifrar de onde vem a feição alegre dos meus sobrinhos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQfCIteig5GXqwa1oWdUS747GOVo__Jh0aiDHJPR3Rnt4tNJp_mr3bAsJdP4Y3cNIv_I0582MaZFdV5Aqr-IiQjPzxoLmPsAYxSvEgp-G5aNjSlIboaKpnhfD95PH9ymAGSpz7_vvr2ZgM/s200/John+William+Waterhouse+-+Miranda,+the+Tempest,+1916.jpg)
Imagem#1 >> Hesferus, The Evening Star / Edward Bourne-Jones
Imagem#2 >> A Wind-Beaten Tree / Vincent Van Gogh
Imagem#3 >> Miranda, The Tempest / John William Waterhouse
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