BAIXO-MERETRÍCIO (Leonardo Marona)

Lembro que era uma mulher em fase de amamentação. E ela me perguntou quando eu disse espantado: “mas é doce”? “Você gosta, meu filhinho?” Olhei para os seus dedos, pintados de rosa, de unhas duras como cascos. Eram dedos incríveis, dedos grossos, visíveis, eram dedos explícitos. Pensei que deveria ser modelo de mãos. E não eram dedos bonitos, como ela não era bonita. Todos os homens deveriam, já velhos, tomar um pouco do leite materno, direto da fonte. Isso a tornava, não exatamente especial, mas intocável. E é claro que a rodela em volta do bico do seu peito lembrava o sentido perdido que se transformou em elo, de quando ainda tínhamos tudo concentrado e sem lógica. Havia brotoejas nas suas nádegas e ela já não era mais nova. Havia uma borboleta na altura do cóccix, um pouco borrada, talvez nem tão borboleta mais, e havia uma cicatriz escura na altura do púbis, que revelava um dom para a vida. Mas também era um convite à aniquilação, um lugar onde se pula antes de se ver. E de repente tudo não era mais do mesmo jeito. Havia gosto de chumbo entre seus lábios, finos e grossos. Havia um peso estático em seus olhos, algo que não muda com o tempo, e se agrava. Havia ali uma passagem aberta para a tristeza, um grito profundo anulado por um sorriso que demonstrava sabedoria e cansaço. Era mãe, estou convicto.

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