NÃO EM PÚBLICO! >> Carla Dias >>
Eu não choro em público, ainda que seja para o mirradinho, um espectador, uma única testemunha. Não que nunca tenha acontecido. Às vezes, o choro se solta da gente, aí não tem jeito. Ele precisa ganhar o mundo.
Tenho inveja de quem chora, sem qualquer constrangimento, diante da emoção despertada pelo filme, pela novela, pelo livro, pela canção, pela confissão, pelo outro, pela simples contemplação da possibilidade, sem se importar se está só ou acompanhado.
Não digo que não caio no choro nessas ocasiões, até mesmo em outras. Digo apenas que eu não choro em público, que já estou no estágio avançado de protelar o emaranhar os olhos. Sou quase profissional em evitar o feito.
Mas, definitivamente, eu choro. Não pensem que sou território árido, que em mim o sentimento morre, antes de cruzar a alma e lacrimejar. Apenas choro na distância dos olhares alheios.
Outro dia, liguei para um amigo, e duas palavras depois da minha pergunta, “tudo bem?”, ele começou a falar de um jeito, sabe? Quando as palavras não saem no som certo, parecem resmungos dolentes, e o ouvinte quer escutar direitinho, mas é tão difícil. Até que ele caiu num choro... Chorou um tanto, essa pessoa que eu nunca vira chorar antes, chorou e chorou, e depois pediu desculpas, e eu as rebati com um agradecimento, por ele ter me confidenciado seu choro.
Chorar, para mim, é coisa séria, mesmo ao se chorar de alegria. Mário Quintana diz e me resume: “Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas do lado de fora do papel...”. Não choro em público, mas registro o significado do choro contido em palavras escritas, poetizo as suas nuances. Não desprezo ou renego o choro compartilhado, quase o contrário: admiro quem o faz e sai de tal episódio inteiro.
Porque, quando choro, eu me despedaço no sentimento, e não importa se o choro é miúdo ou dos soluços. Choro na companhia de mim e de ninguém mais.
Invejo quem chora em público, abraçando o tempo do choro. São os que, depois, conseguem certo alívio. Invejo o alívio no momento em que ele cabe, não como transcrição do que seria.
E eu estico meu choro até a fronha do travesseiro, porque não choro em público, mas choro, isso é certo.
carladias.com
Tenho inveja de quem chora, sem qualquer constrangimento, diante da emoção despertada pelo filme, pela novela, pelo livro, pela canção, pela confissão, pelo outro, pela simples contemplação da possibilidade, sem se importar se está só ou acompanhado.
Não digo que não caio no choro nessas ocasiões, até mesmo em outras. Digo apenas que eu não choro em público, que já estou no estágio avançado de protelar o emaranhar os olhos. Sou quase profissional em evitar o feito.
Mas, definitivamente, eu choro. Não pensem que sou território árido, que em mim o sentimento morre, antes de cruzar a alma e lacrimejar. Apenas choro na distância dos olhares alheios.
Outro dia, liguei para um amigo, e duas palavras depois da minha pergunta, “tudo bem?”, ele começou a falar de um jeito, sabe? Quando as palavras não saem no som certo, parecem resmungos dolentes, e o ouvinte quer escutar direitinho, mas é tão difícil. Até que ele caiu num choro... Chorou um tanto, essa pessoa que eu nunca vira chorar antes, chorou e chorou, e depois pediu desculpas, e eu as rebati com um agradecimento, por ele ter me confidenciado seu choro.
Chorar, para mim, é coisa séria, mesmo ao se chorar de alegria. Mário Quintana diz e me resume: “Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas do lado de fora do papel...”. Não choro em público, mas registro o significado do choro contido em palavras escritas, poetizo as suas nuances. Não desprezo ou renego o choro compartilhado, quase o contrário: admiro quem o faz e sai de tal episódio inteiro.
Porque, quando choro, eu me despedaço no sentimento, e não importa se o choro é miúdo ou dos soluços. Choro na companhia de mim e de ninguém mais.
Invejo quem chora em público, abraçando o tempo do choro. São os que, depois, conseguem certo alívio. Invejo o alívio no momento em que ele cabe, não como transcrição do que seria.
E eu estico meu choro até a fronha do travesseiro, porque não choro em público, mas choro, isso é certo.
carladias.com
Comentários
Ótimo texto, Carla.
Nem sei se a mudança foi pra melhor, porque às vezes o choro é inconveniente.
Obrigada por dividir
Beijo
Fê
nunca me vi tanto em um texto como no seu, não estou sozinha e nem sou sem coração como acham algumas pessoas incluindo minha mãe.
Obrigada
"Choro na companhia de mim e de ninguém mais"...é isso. Não me disseram pra prender o choro, mas me fizeram ver que seria o melhor a fazer. Ainda hoje, seguro, sufoco tanto que sinto dor. E me emociono com aqueles que despudoradamente choram..E eu me permito sim chorar, no chuveiro, na fronha do meu travesseiro, ouvindo uma musica, vendo um filme. Aos poucos eu chego lá. Esticando as minhas lágrimas para q elas se tornem públicas.
Fernanda Gonçalves... Acho que a mudança foi pra melhor. Pense bem... Se água é bom pra tudo, porque não seria para despencar durante propagandas de sabão em pó? Enfim, que seu choro seja, sempre que possível, de felicidade.
Beijos!
Anônimo... As pessoas acham tantas coisas da gente... E a gente acha um tanto de coisas das outras pessoas. O bom é poder achar sem julgar. É difícil, mas pode ser.
Obrigada a você por ter me lido.
Albir... Minhas lágrimas sempre estarão à disposição para serem lidas : )
Marilza... Fico feliz por você ter gostado do meu texto! E vamos lá, firmes e fortes, corajosas até, aprendendo a libertar nossas lágrimas. Sou partidária de montarmos um palanque no meio da cidade, de qualquer cidade, de todas as cidades, e chorarmos, todos nós os desaprendidos dessa arte, a chorar em público. A tornar as nossas lágrimas públicas.
Beijos!