DOZE DEZEMBROS >> Fernanda Pinho

Chega dezembro e as festas pululam de todo canto. Tem festa de fim de ano da firma. Amigo oculto da turma da faculdade. A ceia com a família. O jantar beneficente. Os convites chegam em atacado. Provavelmente muito mais do que se estivéssemos, por exemplo, em maio. A impressão que tenho é a de que apenas em dezembro - quando existe a expectativa do fim e também do recomeço - é que temos consciência da finitude da vida. Aquela sensação de "já é natal de novo?" nos cutuca e nos faz cair na real sobre como o tempo está escapando pelas nossas mãos. Muito provavelmente não é por isso, mas acho que é um bom motivo para justificar a grande farra que vira dezembro. Outro dia alguém comentou no Twitter que a impressão que se tem é a de que o que vai acabar não é o ano, mas, sim, o mundo. E é bem isso mesmo. Gastamos o que não podemos. Anuciamos para aqueles que amamos o quanto eles nos são caros. Fazemos festas todos os dias. Mandamos toda e qualquer dieta para as cucuias. Afinal de contas, é tempo de aproveitar. Por que? Porque o ano vai acabar, oras! Mas logo vem outro ano, e, sabe-se lá porquê, entramos no modo monotonia outra vez. Economizando, sabe-se lá porquê. Camuflando nossos sentimentos, sabe-se lá porquê. Ficando em casa, sabe-se lá porquê. Deixando de apreciar comidas, engordativas sim, mas antes de tudo maravilhosas, sabe-se lá porquê. Enfim, sobrevivemos onze meses para viver em dezembro. A sexta-feira dos meses. Sabe o que eu quero para 2012? Doze dezembros e nada mais.

Comentários

Anônimo disse…
legal,o jeito que c expressa no final
paulyelson disse…
é mesmo até outro dia estava justamente pensando isto...parabéns,amo crônicas.
albir disse…
Que você tenha não doze, mas cento e vinte dezembros, Fernanda. E tem razão, dezembro é tempo de festas, mas é também um momento delicado, de consciência da precariedade da vida.
Anônimo disse…
Parabéns, Fernanda. Conseguiu captar muito bem esse frenesi natalino que todos vivemos. Vou usar sua crônica nas minhas aulas de Português (Educação de Jovens e Adultos).
Sílvia Cristina (Fortaleza-CE)
Eu adotei e adorei a expressão: dezembro é a sexta-feira dos meses. Nada mais propício. E eu, não bastasse nascer na sexta-feira, ainda desfrutei a estréia na hora da boemia.

Postagens mais visitadas