O VERDADEIRO PAPAI NOEL
>> Eduardo Loureiro Jr.

O leitor conseguiria lembrar o que sentiu ao descobrir que o Papai Noel não existia de verdade? Qual a sua sensação ao saber que eram seus pais que compravam e colocavam os presentes debaixo da cama (ou da rede, como às vezes era o meu caso, em noites de Natal sempre tensas, com medo de, dormindo, mijar em cima de meu presente)?

Mas voltemos ao leitor: como se sentiu? Ficou desapontado? Sentiu-se traído? Teve a sensação de que só podia ser assim mesmo, já que o Papai Noel não tinha como ir em todas as casas em uma única noite? Sentiu-se superior aos coleguinhas que ainda acreditavam naquela embromação?

Mas e se o leitor tiver apenas saído de um engano para outro? E se a inexistência do Papai Noel ainda não for toda a verdade?

Eu não lembro do dia, nem do ano, em que deixei de acreditar em Papai Noel. Para mim, talvez tenha sido um acontecimento banal. Mas será difícil esquecer o dia em que voltei a acreditar em Papai Noel...

Terça-feira passada, eu estava em pé na Praça do Ferreira, em companhia de minha família. Assistíamos à apresentação de um coral de crianças, todas vestidas como Papai Noel, dispostas em pares ou em trios nas sacadas de um prédio antigo do Centro, em Fortaleza. Confesso que eu estava um pouco enfastiado, com mais vontade de deitar no silêncio de uma rede que ouvir badaladas canções natalinas. E talvez esse estado meio sonolento, aliado àquela visão de dezenas de papais noéis, tenha alterado minha percepção em relação à verdade sobre o Papai Noel.

Enquanto o vento que vem da praia varria as folhas das árvores, as saias das moças e os meus pensamentos, ocorreu-me que o Papai Noel existe mesmo de verdade, e que ele é assim feito Deus: é sem ser e, não sendo, é. Papai Noel existe quando não é visto e, quando é visto, parece não existir. Cada pai e mãe é Papai Noel, no mistério de seu esconderijo, mas basta vermos um deles entregando um presente e nos enchemos de dúvida. É como um grande e complexo brinquedo do qual nós, crianças de todas as idades, não conseguimos desvendar os detalhes da engrenagem mecânica.

Ao desacreditar que Papai Noel era um só, não nos ocorreu pensar que Papai Noel é, na verdade, muitos. E, mesmo que acreditemos agora que Papai Noel seja muitos, corremos o risco de não voltar a acreditar que ele também é um só. Porque o que há que, sendo muitos, não é também um único? Não é assim com as árvores? O cajueiro não é muitos, sem deixar de ser o cajueiro?

Sim, caro leitor. Podemos voltar a crer em Papai Noel, no velho Tempo, branco de pureza e encarnado de entusiasmo, com um saco generoso de presentes para todos aqueles que ainda acreditarem.

Comentários

Puxa vida!!! Já tinha comentado esses dias que nunca acreditei em Papai Noel e lá vem você, Eduardo, me deixar cheia de interrogações na cabeça.... :)
Bjs
Tia Monca disse…
Linda, Junoca! Engraçado que não tenho lembranças de ter recebido presente de Papai Noel,quando criança, nem de ter dormido pensando nele, mas sempre acreditei :o) Talvez por isso, colaborei e curti muito para a crença dos meus filhos no bom velinho.
Que continuemos acreditando que " O bom velinho sempre vem". Pedro, da Paola, ontem cantou essa música no nosso Natal. Muito lindo! Bj. Tia Monca
Zoraya disse…
Puxa, Eduardo, que coisa boa eu senti lendo sua crônica. E, só para você saber, eu acredito em Papai Noel...
albir disse…
O que não existe é aquilo em que não se acredita. Daí a importância de só se acreditar no que vale a pena.
Grato, gente. Passei essa semana fora do ar da internet. Que seriam das minhas crônicas sem os acréscimos de vocês? :)

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