MINHA ÚNICA ESPERANÇA >> Fernanda Pinho
Naquela época,
90% das meninas queriam ser paquita. Eu fazia parte dos outros 10% que queriam
ser a Xuxa mesmo. Andava pra todo lado com um microfone na mão, maria-chiquinha
nos cabelos e botas. Era uma das minhas obsessões. A outra era o desejo de ter
um irmão ou irmã, não importava. Não queria ser filha única e não parava de
importunar minha mãe quanto a isso. “Mãe, por que a Karina, a Marina e a
Sabrina tem irmãs?”. “Porque elas são irmãs umas das outras”. “Então, eu quero
ser irmã de alguém também!”. Como eu nunca fui de pedir muita coisa, meus pais
acabaram cedendo e veio a gravidez. Fiquei encantada pela barriga da minha mãe.
Durante aqueles meses de espera, o que eu mais amava na vida era ficar alisando
a barriga e dizendo: “Ai, bebê, você é minha única esperança”. Sei lá o que eu
queria dizer com isso, mas virou até bordão familiar.
E então, no
final de novembro de 1988, minha única esperança veio ao mundo. Era uma menina.
Enorme, saudável, linda, loira e com olhos azuis. Opa! Aquilo não estava nos meus
planos. Como assim, linda, loira e com olhos azuis? A única pessoa linda, loira
e com olhos azuis que eu conhecia... era a Xuxa! “Isso mesmo, ela é a Xuxinha!
Que fofa!”. Os visitantes não paravam de repetir, estilhaçando meu
coraçãozinho. Alguns até tentavam um consolo, do tipo: “Nanda, você é a cara da
Mara Maravilha”. Só piorava. Eu odiava a Mara Maravilha.
Minha única
esperança virou meu único pesadelo. Tentei chamar a atenção destruindo uma
garrafa de Coca-Cola no chão e tudo o que ganhei foram cinco pontos na perna.
Parti para uma ação mais efetiva e teria dado com um guarda-chuva na cabeça do
bebê, se não tivesse sido pega no flagra pela minha mãe. “Que isso, Fernanda?”.
“Nada não, mãe. Vai que chove e a Menina fica molhada, né?”. Tinha isso também.
Eu não falava seu nome. Era sempre a Menina.
Mas as coisas
mudam. E mudou entre a gente também. A Menina cresceu e passei a usar seu nome,
Paula. O cabelo escureceu, o olho esverdeou, a Xuxa saiu de moda e eu aprendi a
amá-la. Nem sempre foi fácil. A diferença de cinco anos pesou em alguns
momentos. Hoje, parece não existir. Ou parece estar invertida. “Paula, que
remédio eu tomo pra dor de garganta”. “Fernanda, você vai sair na rua desse
jeito?”. “Paula, socorro, esse computador tá doido”. ”Fernanda, você pode
fazer o favor de arrumar sua cama?”. “Paula, quanto é 13% de 540?”. “Fernanda,
eu não acredito que você tá chorando por causa disso”.
A morena e a
loira, do papai. Eu das letras. Ela dos números. Eu sonhadora. Ela pragmática.
Eu caótica. Ela perfeccionista. Eu impulsiva. Ela analítica. Eu relaxada. Ela
vaidosa. Sempre diferentes. Para sempre, complementares.
E por que tudo
isso hoje? Bom, eu não preciso de motivos para escrever sobre ela, mas como
leitor adora motivos, tenho dois. Sábado passado ela terminou a faculdade
deixando uma banca examinadora boquiaberta com sua desenvoltura e perspicácia.
E sábado próximo ela completa 23 anos. Parabéns e parabéns para minha única esperança
de ter sempre alguém ao meu lado. Incondicionalmente.
Comentários
Você sempre me deixa sem palavras diante do que você escreve...
Muito obrigada por ser o meu exemplo, minha ídola...
Obrigada por acreditar sempre em mim!
Obrigada por me amar e por ter me ensinado como amar!
Sou uma pessoa privilegiada por ter uma irmã como você!!!
Te amo, pudim!!
Bjooos