DESEJOS BUROCRÁTICOS
>> Eduardo Loureiro Jr.
— Pois não, senhor, em que posso atendê-lo?
— Preciso de uma autorização.
— Pode falar.
— Aliás, uma não, várias.
— Aí complica.
— Tenho direito a quantas autorizações?
— Depende... o que o senhor deseja?
— Pequenas coisas sem importância.
— Costumam ser as mais difíceis.
— Mas têm muita importância pra mim.
— Não tenho o dia todo, senhor...
— Claro, claro, desculpe. Eu gostaria de ser feliz.
— Isso é o que o senhor chama de coisa sem importância?
— Felicidadezinha boba, pequenos prazeres...
— Só posso ajudar quando souber do que se trata.
— Posso tirar meleca do nariz?
— Aqui?
— Aqui, acolá, em qualquer lugar. E a qualquer hora. Quero uma autorização permanente.
— E o senhor já não faz isso?
— Tenho vergonha.
— E é pra ter mesmo.
— Mas eu gosto...
— Não é necessária autorização para isso.
— Mas eu preciso...
— Que mais o senhor deseja?
— Andar de pés descalços.
— Aqui não pode.
— Na praia. O dia todo. Sem trabalhar nem um minutinho sequer.
— Nessa cidade não tem praia, senhor.
— Eu sei. Mas eu...
— Se o senhor não tiver mais nada para pedir, eu preciso atender o próximo da fila. Aliás, a próxima...
— Quero olhar mulher bonita.
— É só se virar nesse instantinho mesmo.
— Olhar pra sempre, cada vez que eu quiser...
— Pede a mulher em casamento.
— Não posso pedir mais de uma mulher em casamento.
— Olhar não tira pedaço nem carece de autorização.
— Quero olhar com calma, devagar, sem pressa, sem ser acusado de traidor ou de tarado. Olhar assim pra mulher feito quem olha para uma escultura no museu.
— O senhor está brincando comigo?
— Por falar nisso, também gostaria de uma autorização para brincar.
— O senhor pensa que eu não tenho mais o que fazer.
— Desculpe, moço. Eu deveria ter começado direito...
— Última chance!
— Tenho uma dúvida.
— Sim...
— Eu preciso de uma autorização específica para pedir outras autorizações?
— O que eu sei é que eu não preciso de autorização para chamar os seguranças.
— Os seguranças, não! Por favor, não!
— Tá com medo, é?
— Sempre.
— Ok, meu amigo. Você me diz onde é que está a câmera, vocês me pagam pela pegadinha, eu assino a autorização e todos saímos ganhando.
— Qual autorização você assina?
— A que você quiser.
— Pode ser uma autorização em branco?
— Posso fazer melhor. Deixe seu e-mail que mando um modelo com firma eletronicamente reconhecida e espaço em branco para você preencher e imprimir quando quiser.
— Jura?
— Pegar ou largar.
— Você me dá uma autorização para pegar?
— Autorização dada.
— Preciso por escrito.
— Um momento... Aqui...
— Ah, obrigado, então eu... Opa, mas eu não pedi autorização para isso aqui.
— É tudo que eu tô podendo autorizar no momento.
— Posso mesmo?
— Vá fundo.
— Minha mulher vai reclamar.
— Mulher sempre reclama.
— Ela vai ficar furiosa.
— É só mostrar essa autorização.
— E a autorização para pegar a sua oferta de uma autorização genérica?
— O senhor pode usar essa mesma que acabei de lhe dar.
— Mas essa só me autoriza a eu me...
— É só você tirar cópia e entregar para as pessoas das quais o senhor tem vergonha.
— Mas aí elas vão se...
— A ideia é essa.
— Parece arriscada.
— Funciona.
— Se não funcionar, eu volto aqui.
— Se funcionar, volte também. Quero saber dos detalhes.
— Combinado.
— Passe bem.
— Obrigado. Até breve.
— Tchau. Próximo...
— Preciso de uma autorização.
— Pode falar.
— Aliás, uma não, várias.
— Aí complica.
— Tenho direito a quantas autorizações?
— Depende... o que o senhor deseja?
— Pequenas coisas sem importância.
— Costumam ser as mais difíceis.
— Mas têm muita importância pra mim.
— Não tenho o dia todo, senhor...
— Claro, claro, desculpe. Eu gostaria de ser feliz.
— Isso é o que o senhor chama de coisa sem importância?
— Felicidadezinha boba, pequenos prazeres...
— Só posso ajudar quando souber do que se trata.
— Posso tirar meleca do nariz?
— Aqui?
— Aqui, acolá, em qualquer lugar. E a qualquer hora. Quero uma autorização permanente.
— E o senhor já não faz isso?
— Tenho vergonha.
— E é pra ter mesmo.
— Mas eu gosto...
— Não é necessária autorização para isso.
— Mas eu preciso...
— Que mais o senhor deseja?
— Andar de pés descalços.
— Aqui não pode.
— Na praia. O dia todo. Sem trabalhar nem um minutinho sequer.
— Nessa cidade não tem praia, senhor.
— Eu sei. Mas eu...
— Se o senhor não tiver mais nada para pedir, eu preciso atender o próximo da fila. Aliás, a próxima...
— Quero olhar mulher bonita.
— É só se virar nesse instantinho mesmo.
— Olhar pra sempre, cada vez que eu quiser...
— Pede a mulher em casamento.
— Não posso pedir mais de uma mulher em casamento.
— Olhar não tira pedaço nem carece de autorização.
— Quero olhar com calma, devagar, sem pressa, sem ser acusado de traidor ou de tarado. Olhar assim pra mulher feito quem olha para uma escultura no museu.
— O senhor está brincando comigo?
— Por falar nisso, também gostaria de uma autorização para brincar.
— O senhor pensa que eu não tenho mais o que fazer.
— Desculpe, moço. Eu deveria ter começado direito...
— Última chance!
— Tenho uma dúvida.
— Sim...
— Eu preciso de uma autorização específica para pedir outras autorizações?
— O que eu sei é que eu não preciso de autorização para chamar os seguranças.
— Os seguranças, não! Por favor, não!
— Tá com medo, é?
— Sempre.
— Ok, meu amigo. Você me diz onde é que está a câmera, vocês me pagam pela pegadinha, eu assino a autorização e todos saímos ganhando.
— Qual autorização você assina?
— A que você quiser.
— Pode ser uma autorização em branco?
— Posso fazer melhor. Deixe seu e-mail que mando um modelo com firma eletronicamente reconhecida e espaço em branco para você preencher e imprimir quando quiser.
— Jura?
— Pegar ou largar.
— Você me dá uma autorização para pegar?
— Autorização dada.
— Preciso por escrito.
— Um momento... Aqui...
— Ah, obrigado, então eu... Opa, mas eu não pedi autorização para isso aqui.
— É tudo que eu tô podendo autorizar no momento.
— Posso mesmo?
— Vá fundo.
— Minha mulher vai reclamar.
— Mulher sempre reclama.
— Ela vai ficar furiosa.
— É só mostrar essa autorização.
— E a autorização para pegar a sua oferta de uma autorização genérica?
— O senhor pode usar essa mesma que acabei de lhe dar.
— Mas essa só me autoriza a eu me...
— É só você tirar cópia e entregar para as pessoas das quais o senhor tem vergonha.
— Mas aí elas vão se...
— A ideia é essa.
— Parece arriscada.
— Funciona.
— Se não funcionar, eu volto aqui.
— Se funcionar, volte também. Quero saber dos detalhes.
— Combinado.
— Passe bem.
— Obrigado. Até breve.
— Tchau. Próximo...
Comentários
Adorei...rs
Você é mesmo uma caixinha de surpresas, senhor criatividade! :)
Bjs