CELEBRAÇÃO E AGONIA COM BEETHOVEN
[Ana Gonzalez]
Oh, amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais agradável
E cheio de alegria!
Com esses versos, Beethoven nos convida a ouvir o quarto movimento de sua Nona Sinfonia. Um convite a outros tons diferentes dos que eram ouvidos então. E os sons que ele nos oferece nos movem a um espaço divinamente inspirado. Essa sinfonia é uma daquelas composições geniais que mexem com minha imaginação.
Há duas ou três semanas, assisti a uma palestra sobre essa peça musical. Preparei-me para ela com ansiedade, embora naquele momento eu talvez não soubesse bem o que eu queria.
Acompanhei uma interpretação geral da obra e informações a respeito do contexto em que ela foi realizada, além de conceitos técnicos sobre a forma musical que a caracteriza.
Perceber detalhes de sua composição e do contexto em que ela apareceu, entretanto, pouco ajudou a esclarecer sua grandeza. Por que será que quando recordada pela memória, nos lembramos apenas do tema entoado pelo coro com versos de Schiller, a Ode à Alegria, como se todos os outros movimentos não merecessem senão o lugar de uma introdução meio longa a esse quarto movimento?
As informações da palestra indicavam que seus três primeiros movimentos constroem um arco de tensão que somente se resolve no último. Talvez essa explicação justifique o que sinto ao ouvi-la. Uma tensão que não se resolve. Uma montagem de significados que se elevam, deixando-me no vácuo, à espera.
Tal explicação caiu como um bálsamo para algumas das minhas questões. Fico muda perante essa obra genial. Que força da natureza humana possibilita a construção de tal obra? Nada pode me dar essa resposta.
Tinha permanecido forte a impressão do arco de tensão que se alonga sem solução. Uma sustentação à espera, ansiando por algo, que nos enlaça do alto, de um obscuro vão quase a escapar de um perigo. Uma salvação? Pode ser essa a sensação que temos ao ouvir o quarto movimento. Solar nascimento, uma luz depois de uma travessia na escuridão.
Talvez nem se justifique a tentativa de encontrar explicação para esse arranjo musical. Bastaria talvez eu me apoiar no chamado à fraternidade entre os homens que mobilizou o compositor. Esse ideal que conduziu Beethoven à inspiração seria suficiente para me fazer alcançar o repouso.
Mesmo assim, seja pela harmonia cantante de sua melodia, seja pelos versos romanticamente mobilizadores de Schiller, o milagre da composição fica incólume. Inatingível. A complexidade desse mistério ultrapassa minha capacidade de compreensão. Só me sobram inquietações que não se aplacam, a obra e sua fruição.
E talvez ainda uma frase do palestrante, quase desafio, novo redemoinho a me incomodar: “Pena não termos mais o privilégio de ouvi-la pela primeira vez”. Ai, que certamente o registro dessa audiência privilegiada está perdido na memória. Como teria sido a primeira vez em que ouvi a Nona Sinfonia?
Entoemos algo mais agradável
E cheio de alegria!
Com esses versos, Beethoven nos convida a ouvir o quarto movimento de sua Nona Sinfonia. Um convite a outros tons diferentes dos que eram ouvidos então. E os sons que ele nos oferece nos movem a um espaço divinamente inspirado. Essa sinfonia é uma daquelas composições geniais que mexem com minha imaginação.
Há duas ou três semanas, assisti a uma palestra sobre essa peça musical. Preparei-me para ela com ansiedade, embora naquele momento eu talvez não soubesse bem o que eu queria.
Acompanhei uma interpretação geral da obra e informações a respeito do contexto em que ela foi realizada, além de conceitos técnicos sobre a forma musical que a caracteriza.
Perceber detalhes de sua composição e do contexto em que ela apareceu, entretanto, pouco ajudou a esclarecer sua grandeza. Por que será que quando recordada pela memória, nos lembramos apenas do tema entoado pelo coro com versos de Schiller, a Ode à Alegria, como se todos os outros movimentos não merecessem senão o lugar de uma introdução meio longa a esse quarto movimento?
As informações da palestra indicavam que seus três primeiros movimentos constroem um arco de tensão que somente se resolve no último. Talvez essa explicação justifique o que sinto ao ouvi-la. Uma tensão que não se resolve. Uma montagem de significados que se elevam, deixando-me no vácuo, à espera.
Tal explicação caiu como um bálsamo para algumas das minhas questões. Fico muda perante essa obra genial. Que força da natureza humana possibilita a construção de tal obra? Nada pode me dar essa resposta.
Tinha permanecido forte a impressão do arco de tensão que se alonga sem solução. Uma sustentação à espera, ansiando por algo, que nos enlaça do alto, de um obscuro vão quase a escapar de um perigo. Uma salvação? Pode ser essa a sensação que temos ao ouvir o quarto movimento. Solar nascimento, uma luz depois de uma travessia na escuridão.
Talvez nem se justifique a tentativa de encontrar explicação para esse arranjo musical. Bastaria talvez eu me apoiar no chamado à fraternidade entre os homens que mobilizou o compositor. Esse ideal que conduziu Beethoven à inspiração seria suficiente para me fazer alcançar o repouso.
Mesmo assim, seja pela harmonia cantante de sua melodia, seja pelos versos romanticamente mobilizadores de Schiller, o milagre da composição fica incólume. Inatingível. A complexidade desse mistério ultrapassa minha capacidade de compreensão. Só me sobram inquietações que não se aplacam, a obra e sua fruição.
E talvez ainda uma frase do palestrante, quase desafio, novo redemoinho a me incomodar: “Pena não termos mais o privilégio de ouvi-la pela primeira vez”. Ai, que certamente o registro dessa audiência privilegiada está perdido na memória. Como teria sido a primeira vez em que ouvi a Nona Sinfonia?
Comentários
quem sabe algo novo aparece no horizonte.