LIVRO DE PONTO >> Carla Dias >>
Inspirado no olhar de Lucas Dupin

Sei que minhas buscas, a você, que na falta de atividade mais acolhedora, permite que seu olhar encare minhas palavras, pouco importam. Então, apresento meus esquetes emocionais, eles sempre tão intrincados, em cenas de filme que você jamais assistirá, senão na tela do meu dentro.
E sem título... Sem rótulo... Sem ficha técnica, apenas vínculo.
Navego os pés na água da piscina, e no destempero do outro, que ao ser contrariado, aperta os dentes, como se mordesse a carne para garantir o alimento ao rebento faminto.
Há tanta fome no mundo. A minha, agora, neste imediatamente, é por adormecer.
E fome matada, enquanto durmo, como raramente encaro o sono, pesadamente, como se fosse uma dormidora profissional, não perco o eco da existência, enquanto ela constrói em terrenos descampados, árvores ziguezagueando e construindo a paisagem, as cores dançando neste sonho como se fossem divindades em seu momento de questionamento. E nessa dança, meu caro, há mais beleza do que se imagina quando, ao se envolver em um naufrágio.

Estou aqui para aprender, mas agora não sei o quê. Não há no semblante das coisas e causas e faltas e tolices e amores perdidos o que me ensine a reconhecer o tema de tal jornada.

Saio à caça do saber o que sequer sei se desejo, ou se algum dia desejarei. Noite pintada de calmaria, algozes saboreando um quase perdão. A luxúria de poder escolher um desfecho que seja. Aprender a abotoar a camisa sem sentir saudade dolente de quem um dia a desabotoou para mim.
Será que desejarei aprender as amarguras a fim de exorcizá-las?

Posso perder a bússola, o endereço, a roupa do corpo, o dinheiro do banco. Porém o rumo, este não preciso perder, porque declaro-me, aqui, neste agora acanhado, porém competente, uma dessas pessoas que sabem como viver o destino, ainda que ele não bata com o desejado, com a leitura das cartas, com o que diz o mapa astral, com as profecias feitas pelas tias em dia de chá da tarde, com os cartões de felicitações, com as previsões do tempo, com as cartas de amor rasgadas, tampouco com o passado embrenhado nas fotografias.
Que venha o destino, com suas mãos equipadas com pedras, e penas, e tapas, e afagos. Eu o espero, enquanto contemplo a vida, meus pés em uma poça d'água, em dia de chuva, enquanto tomo banho na avenida... Ou enquanto tomo sol, sabe-se lá...
Imagens: Lucas Dupin >> http://www.flickr.com/photos/lucasdupin
carladias.com
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