AMOR EM CORES >> Eduardo Loureiro Jr.
Estou preparando uma série de crônicas sobre o tema casamento. Mas — para não assustar meus leitores do sexo masculino — vou começar falando de amor, que, como todo homem sabe, nem sempre tem muito a ver com casamento. Enfim...
Dizem que os esquimós têm mais de cem palavras para se referir àquilo que para nós é apenas branco. O que me levou a pensar que mereceríamos ter pelo menos duzentas palavras para falar daquilo que chamamos apenas de amor.
Porque o amor está na boca de todo mundo e, muitas vezes, ninguém sabe aquilo que a palavra realmente quer dizer. Ou alguém aí é capaz de me dizer o ponto em comum entre "eu amo você", "eu amo acessórios", "eu amo Frank Sinatra", "eu amo pimenta"? Ou então entre "amar o amor" e "amar os bichos"? Ou ainda entre "morrer de amor" e "matar por amor"? Convenhamos que a palavra amor está se tornando muito parecida com a palavra coisa, que serve para qualquer coisa. Mas serve mesmo? A palavra amor serve para qualquer amor?
Tudo bem, o leitor — principalmente a leitora — que gosta de discordar do cronista e não aceita ser facilmente conduzido pela prosa alheia, vai argumentar que já existem outras palavras: paixão e caridade, por exemplo. Caridade, vá lá, é uma boa palavra. Mas paixão... ah, paixão... essa palavra só não está na mesma situação da palavra amor porque não é tão fácil de ser dita em verbo. É muito mais prático dizer "eu amo pimenta" do que "eu sou apaixonado por pimenta". Então paixão não nos serve aqui — enquanto palavra, que fique claro, porque paixão, em um de seus muitos significados, é muito útil para algumas coisas como, por exemplo, virar a vida de uma pessoa de cabeça para baixo. Mas voltemos ao amor, melhor dizendo, à palavra amor.
Como inventar duzentas palavras para reduzir o fardo simbólico da palavra amor é coisa para um povo inteiro, e não para um cronista isolado, apresento um esboço, uma pequena tentativa de criação de novas palavras que aliviem a tão sobrecarregada palavra amor.
Já que comecei a crônica falando na cor branca, por questão de coerência interna da crônica, apresento-lhes o amor em palavras de cor.
Amorelho seria o amor-vermelho. Aquele tipo de amor que envolve sangue, rosas, maçãs, néon, cortinas de teatro. Então o homem que vai pegar sua namorada em casa levando um buquê de rosas, que a leva para assistir a uma peça, que na saída lhe compra uma maçã do amor e que depois a leva a um motel onde transam mesmo ela estando menstruada, poderia dizer "eu te amorelho".
Caso bem diferente é o amorelo, o amor-amarelo. Aqui estamos falando de sol, de canário, de banana. O casal que passa a tarde num bucólico piquenique, à sombra de uma árvore, ouvindo o canto dos pássaros e que até faz, de pedrinhas na grama, uma amarelinha, há de se olhar nos olhos e dizer "eu te amorelo".
Mas há quem não se amorelhe nem se amorele. Gente que vive o amorzul, o amor-azul. Gente para quem importa mais a noite, o jeans, o anis. Gente da balada, que não se ama apenas a dois, mas a dez — tudo azul naturalmente. Gente que diz, várias vezes por noite, a múltiplos parceiros: "eu te amorzulo".
E eu fico por aqui, com as três cores básicas, porque, como já falei, criar palavras — duzentas delas — não é tarefa para um homem só, ainda mais para um homem preguiçoso como eu. Deixo ao leitor a incumbência de deduzir por si mesmo mais uma dezena de amores: o amorerde, o amoraranja, o amorinza, o amoreto, o amoranco... E às leitoras, para quem um verde não é só um verde — é musgo, esmeralda, oliva, floresta, menta —, deixo o mais delicado encargo de completar as duzentas palavras que nos permitirão falar com mais propriedade daquilo que a simples e humilde palavra amor já não consegue mais dar conta.
E — se é que vocês me entendem — eu amoxo vocês.
Dizem que os esquimós têm mais de cem palavras para se referir àquilo que para nós é apenas branco. O que me levou a pensar que mereceríamos ter pelo menos duzentas palavras para falar daquilo que chamamos apenas de amor.
Porque o amor está na boca de todo mundo e, muitas vezes, ninguém sabe aquilo que a palavra realmente quer dizer. Ou alguém aí é capaz de me dizer o ponto em comum entre "eu amo você", "eu amo acessórios", "eu amo Frank Sinatra", "eu amo pimenta"? Ou então entre "amar o amor" e "amar os bichos"? Ou ainda entre "morrer de amor" e "matar por amor"? Convenhamos que a palavra amor está se tornando muito parecida com a palavra coisa, que serve para qualquer coisa. Mas serve mesmo? A palavra amor serve para qualquer amor?
Tudo bem, o leitor — principalmente a leitora — que gosta de discordar do cronista e não aceita ser facilmente conduzido pela prosa alheia, vai argumentar que já existem outras palavras: paixão e caridade, por exemplo. Caridade, vá lá, é uma boa palavra. Mas paixão... ah, paixão... essa palavra só não está na mesma situação da palavra amor porque não é tão fácil de ser dita em verbo. É muito mais prático dizer "eu amo pimenta" do que "eu sou apaixonado por pimenta". Então paixão não nos serve aqui — enquanto palavra, que fique claro, porque paixão, em um de seus muitos significados, é muito útil para algumas coisas como, por exemplo, virar a vida de uma pessoa de cabeça para baixo. Mas voltemos ao amor, melhor dizendo, à palavra amor.
Como inventar duzentas palavras para reduzir o fardo simbólico da palavra amor é coisa para um povo inteiro, e não para um cronista isolado, apresento um esboço, uma pequena tentativa de criação de novas palavras que aliviem a tão sobrecarregada palavra amor.
Já que comecei a crônica falando na cor branca, por questão de coerência interna da crônica, apresento-lhes o amor em palavras de cor.
Amorelho seria o amor-vermelho. Aquele tipo de amor que envolve sangue, rosas, maçãs, néon, cortinas de teatro. Então o homem que vai pegar sua namorada em casa levando um buquê de rosas, que a leva para assistir a uma peça, que na saída lhe compra uma maçã do amor e que depois a leva a um motel onde transam mesmo ela estando menstruada, poderia dizer "eu te amorelho".
Caso bem diferente é o amorelo, o amor-amarelo. Aqui estamos falando de sol, de canário, de banana. O casal que passa a tarde num bucólico piquenique, à sombra de uma árvore, ouvindo o canto dos pássaros e que até faz, de pedrinhas na grama, uma amarelinha, há de se olhar nos olhos e dizer "eu te amorelo".
Mas há quem não se amorelhe nem se amorele. Gente que vive o amorzul, o amor-azul. Gente para quem importa mais a noite, o jeans, o anis. Gente da balada, que não se ama apenas a dois, mas a dez — tudo azul naturalmente. Gente que diz, várias vezes por noite, a múltiplos parceiros: "eu te amorzulo".
E eu fico por aqui, com as três cores básicas, porque, como já falei, criar palavras — duzentas delas — não é tarefa para um homem só, ainda mais para um homem preguiçoso como eu. Deixo ao leitor a incumbência de deduzir por si mesmo mais uma dezena de amores: o amorerde, o amoraranja, o amorinza, o amoreto, o amoranco... E às leitoras, para quem um verde não é só um verde — é musgo, esmeralda, oliva, floresta, menta —, deixo o mais delicado encargo de completar as duzentas palavras que nos permitirão falar com mais propriedade daquilo que a simples e humilde palavra amor já não consegue mais dar conta.
E — se é que vocês me entendem — eu amoxo vocês.
Comentários
Obrigado
:)
beijos
Perfeito, Anônimo. O sentido é sentido.
Bela imagem, Juliêta. O amor é arco-íris.
You tell me, Kika. :)
Amoranjei o seu texto!