SE EU PULASSE >> Albir José Inácio da Silva
Se eu pular agora, não terei de ouvir o gerente dizendo que não devia mas, como é muito generoso, vai refinanciar em setenta e duas prestações. E que também por generosidade vai devolver da minha conta o saldo sequestrado para compensação de dívidas.
Fico livre, se pular, de uma vez por todas daquele agiota e assassino que passou a me perseguir e ameaçar meus parentes caso eu não pague o que nunca se acaba.
Se eu pular agora, ficam pela metade os remédios faixa preta que vão empurrando a vida e garantem minutos de sono entrecortado por pesadelos com cheques e duplicatas e cartões e vencimentos.
Não terei mais que ouvir aquela mulher reclamando de não ter a sorte das outras peruas, nem a roupa, nem os sapatos, nem o marido bem sucedido e esperto nos negócios.
Se pular, não vou participar de correntes da prosperidade, entregando o meu tudo, nem recitar versículos geneticamente modificados como “O pastor é o meu senhor e nada lhe faltará”.
Se eu pular agora, o simbolismo é perfeito: meu sangue tingindo o logotipo do banco na calçada – um cifrão estilizado em pedra mármore - com a multidão em volta, e os flashes registrando o último e definitivo pagamento.
Mas não vou pular porque aqui é só a sobreloja, e o máximo que eu vou conseguir é ser um aleijado ridículo e endividado. Melhor tomar outro comprimido que minhas mãos já estão tremendo.
Fico livre, se pular, de uma vez por todas daquele agiota e assassino que passou a me perseguir e ameaçar meus parentes caso eu não pague o que nunca se acaba.
Se eu pular agora, ficam pela metade os remédios faixa preta que vão empurrando a vida e garantem minutos de sono entrecortado por pesadelos com cheques e duplicatas e cartões e vencimentos.
Não terei mais que ouvir aquela mulher reclamando de não ter a sorte das outras peruas, nem a roupa, nem os sapatos, nem o marido bem sucedido e esperto nos negócios.
Se pular, não vou participar de correntes da prosperidade, entregando o meu tudo, nem recitar versículos geneticamente modificados como “O pastor é o meu senhor e nada lhe faltará”.
Se eu pular agora, o simbolismo é perfeito: meu sangue tingindo o logotipo do banco na calçada – um cifrão estilizado em pedra mármore - com a multidão em volta, e os flashes registrando o último e definitivo pagamento.
Mas não vou pular porque aqui é só a sobreloja, e o máximo que eu vou conseguir é ser um aleijado ridículo e endividado. Melhor tomar outro comprimido que minhas mãos já estão tremendo.
Comentários
Como vou ficar sem ler seus textos?...:)
Wanderley, obrigado. Volte sempre!
Nem pense nisso, Marisa. Não dá pra ficar sem sua leitura.
Dyego, que gentileza! Venha sempre que puder.