EDREDOM, CHEETOS & ROCK'N'ROLL
>> Fernanda Pinho
Era só eu manifestar meu desejo de trocar um prato de comida
por um pacote de Cheetos que minha mãe avisava: "Quando você crescer, você
vai saber o que é bom e nunca mais vai querer essas porcarias com cheiro de
chulé". Cresci, até muito, me tornei adulta e nada mudou em relação a
isso. O que aguça meu paladar infantil continua sendo Cheetos, pipoca,
Toddynho, algodão doce, minichicken da Turma da Mônica e congêneres. Talvez
esse tenha sido o único aviso da minha mãe que falhou e, certamente, também foi
meu único gosto que permaneceu intacto ao passar do tempo. Fora isso, muito
pouco do que me levava ao delírio antigamente ainda me apetece.
Cheguei a essa conclusão assistindo, pela televisão, aos shows do Rock in Rio do fim de semana. Ficar horas de pé, enfrentar fila, se esmagar na multidão, ter que fazer xixi na roupa devido à impossibilidade de deslocamento, aguentar gente suada se esfregando em você, levar cutucão e cotovelada de tudo que é canto, passar fome, sede, frio, calor e, na hora tão esperada, ver seu artista amado a metros de distância, como se fosse um pontinho brilhando no horizonte... Ufa! Cansei só de escrever. Isso não é mais pra mim.
Cheguei a cogitar a possibilidade de ir ao Rock in Rio esse ano, mas alguma parte mais esperta do meu cérebro me sabotou e eu não consegui comprar ingresso. Que bom. Acho que desenvolvi uma certa intolerância a excesso de calor humano. E falo com a categoria de quem já foi viciada em show, muvuca e confusão. Porque também não sou de dizer que não suporto mais alguma coisa sem antes conhecê-la bem.
Durante alguns anos da minha vida, minha existência se resumia a estudar e planejar o próximo show ao qual eu iria. De preferência, da minha banda preferida. E era uma existência até agitada porque planejar o próximo show envolvia muitos trâmites. Tinha que comprar ingresso, decidir quais amigas iriam, escolher a roupa, ensaiar as músicas, convencer a mãe, pensar no penteado (que desfaleceria vinte segundos após o início do show), armar uma estratégia para falar com a banda, uma estratégia para pegar palhetas, uma estratégia para pegar baquetas. Isso quando o show era na minha cidade. Quando era em outra, ainda envolvia outras urgências como organizar a viagem, comprar passagem, arrumar uma casa de amigo ou um hotel módico pra se hospedar, descobrir como chegar ao local do show e economizar centavos para tudo caber no orçamento estudantil. E, olha, sem dúvidas, foi a fase mais divertida da minha vida. Sobrevivi a shows debaixo de chuva, caronas com desconhecidos, confusões com a polícia, briga por causa de palheta... Já voltei para casa em êxtase de tanta felicidade. Já voltei para casa frustrada jurando (com os dedos cruzados) que nunca mais voltaria a um show. Mas o importante é que emoções eu vivi e a frase soaria perfeita se os tais shows fossem do Roberto Carlos mas, pelo nível dos acontecimentos, vocês podem imaginar muito bem que não eram.
Hoje seria. Hoje eu acharia um ótimo programa assistir a um show do Roberto Carlos sentadinha, e dos outros artistas e bandas que eu admiro também. Meu gosto musical não mudou, só se expandiu. Mas, agora, meu amor pelo conforto é maior que meu amor por qualquer artista. Estou adorando acompanhar os shows do Rock in Rio do aconchego dos meus edredons, enquanto me esbaldo com Cheetos, Toddynho, pipoca e minichicken da Turma da Mônica, é claro.
Aos que não me conhecem e ficaram curiosos para saber qual banda eu seguia, um segredinho aqui.
Imagem: www.uol.com.br
Cheguei a essa conclusão assistindo, pela televisão, aos shows do Rock in Rio do fim de semana. Ficar horas de pé, enfrentar fila, se esmagar na multidão, ter que fazer xixi na roupa devido à impossibilidade de deslocamento, aguentar gente suada se esfregando em você, levar cutucão e cotovelada de tudo que é canto, passar fome, sede, frio, calor e, na hora tão esperada, ver seu artista amado a metros de distância, como se fosse um pontinho brilhando no horizonte... Ufa! Cansei só de escrever. Isso não é mais pra mim.
Cheguei a cogitar a possibilidade de ir ao Rock in Rio esse ano, mas alguma parte mais esperta do meu cérebro me sabotou e eu não consegui comprar ingresso. Que bom. Acho que desenvolvi uma certa intolerância a excesso de calor humano. E falo com a categoria de quem já foi viciada em show, muvuca e confusão. Porque também não sou de dizer que não suporto mais alguma coisa sem antes conhecê-la bem.
Durante alguns anos da minha vida, minha existência se resumia a estudar e planejar o próximo show ao qual eu iria. De preferência, da minha banda preferida. E era uma existência até agitada porque planejar o próximo show envolvia muitos trâmites. Tinha que comprar ingresso, decidir quais amigas iriam, escolher a roupa, ensaiar as músicas, convencer a mãe, pensar no penteado (que desfaleceria vinte segundos após o início do show), armar uma estratégia para falar com a banda, uma estratégia para pegar palhetas, uma estratégia para pegar baquetas. Isso quando o show era na minha cidade. Quando era em outra, ainda envolvia outras urgências como organizar a viagem, comprar passagem, arrumar uma casa de amigo ou um hotel módico pra se hospedar, descobrir como chegar ao local do show e economizar centavos para tudo caber no orçamento estudantil. E, olha, sem dúvidas, foi a fase mais divertida da minha vida. Sobrevivi a shows debaixo de chuva, caronas com desconhecidos, confusões com a polícia, briga por causa de palheta... Já voltei para casa em êxtase de tanta felicidade. Já voltei para casa frustrada jurando (com os dedos cruzados) que nunca mais voltaria a um show. Mas o importante é que emoções eu vivi e a frase soaria perfeita se os tais shows fossem do Roberto Carlos mas, pelo nível dos acontecimentos, vocês podem imaginar muito bem que não eram.
Hoje seria. Hoje eu acharia um ótimo programa assistir a um show do Roberto Carlos sentadinha, e dos outros artistas e bandas que eu admiro também. Meu gosto musical não mudou, só se expandiu. Mas, agora, meu amor pelo conforto é maior que meu amor por qualquer artista. Estou adorando acompanhar os shows do Rock in Rio do aconchego dos meus edredons, enquanto me esbaldo com Cheetos, Toddynho, pipoca e minichicken da Turma da Mônica, é claro.
Aos que não me conhecem e ficaram curiosos para saber qual banda eu seguia, um segredinho aqui.
Imagem: www.uol.com.br
Comentários
(Em tempo: ótimo gosto musical)
e pra não dizer que é coisa da idade, tenho uma ótima desculpa (rs). digo, pois fui no rock in rio de 2001 e no pearl jam em 2005, então os melhores shows de 2011 eu "pulo" :)
adorei o texto!