A PEQUENA MAIS VELHA >> Kika Coutinho
Foi assim, de um dia para o outro.
Saí de casa rumo a maternidade e deixei um bebê à minha espera. Uma menina de 1 ano e 7 meses que era um bebê...
Eu a abracei forte antes de entrar no carro, carregando minha malinha: “Filha, a mamãe vai sair com o papai para buscarmos a Olivia. Quando a gente voltar, traz a sua irmãzinha junto, está bem?”. Ela me olhou, desconfiada, encostou a mão na minha barriga de nove meses, fazendo uma referência à tal irmã, de que tanto falávamos. Senti meu coração apertar, um misto de preocupação e susto me invadiram, e meus olhos ficaram quentes num instante, quando dei mais um abraço naquela que, até então, era minha filha única.
Como tinha sido diferente da primeira vez... Quando ela estava para nascer, eu não deixara nada para trás. Ninguém me esperava em casa, ninguém gritava por mim à noite, ninguém erguia os bracinhos na minha direção quando se machucava, ninguém gargalhava com qualquer bobagem que eu fazia. Ninguém. A vida era de uma leveza tão grande que chegava a ser vazia. Nada com o que me preocupar, e eu ainda vivia em tensão. Pura tolice. A tolice dos jovens, eu pensava, como se já me tornasse velha.
Passou rápido, logo eu estava na sala de parto vivendo tudo de novo, tão depressa que tinha a nítida sensação de tudo aquilo ser um enorme déjà vu.
Naquela noite de inverno, quando a minha segunda filha nasceu, eu vi o quanto um bebê poderia ser pequeno. Tinha me esquecido quão frágeis e escorregadios eles eram...
A mais nova gritou quando a tiraram de minha barriga. E a mais velha, longe dali, jantava na casa dos amigos: “Comeu tudo mamãe!”, ela me contaria depois, como sendo o fato mais importante da noite.
Nesse dia seguinte, quando ela chegou na maternidade para conhecer a irmã, correndo com suas perninhas roliças e falando atropeladamente, foi quando tomei um susto. Ela não era mais um bebê... Era uma moça grande a minha filha, onde estava o bebê que eu deixara em casa?
Foi de um dia para o outro que minha filha mais velha cresceu, e tornou-se a “mais velha” sendo ainda tão nova. Ela assiste à caçula desenvolver-se e tenta se situar na nova rotina que a vida lhe impôs.
Eu sinto um misto de alegria e dor, um estilhaço no coração quando vejo que ela se frustra, tentando caber nas pequeninices da irmã, que não lhe servem de maneira nenhuma. Ela já não tem meu colo por tanto tempo, já não tem meus pulos e até mesmo minha alegria - antes tão farta e abundante. Vez ou outra, fica perdida nas noites em claro que um recém-nascido nos oferta.
Mas minha filha mais velha puxa-me pela mão com tamanha força e empenho, que me levanto do combate e lhe ofereço o meu amor. Ela é uma menina grande, afinal, e, assim também tornou-se o meu amor. Ainda maior...
www.embuchada.blogspot.com
Saí de casa rumo a maternidade e deixei um bebê à minha espera. Uma menina de 1 ano e 7 meses que era um bebê...
Eu a abracei forte antes de entrar no carro, carregando minha malinha: “Filha, a mamãe vai sair com o papai para buscarmos a Olivia. Quando a gente voltar, traz a sua irmãzinha junto, está bem?”. Ela me olhou, desconfiada, encostou a mão na minha barriga de nove meses, fazendo uma referência à tal irmã, de que tanto falávamos. Senti meu coração apertar, um misto de preocupação e susto me invadiram, e meus olhos ficaram quentes num instante, quando dei mais um abraço naquela que, até então, era minha filha única.
Como tinha sido diferente da primeira vez... Quando ela estava para nascer, eu não deixara nada para trás. Ninguém me esperava em casa, ninguém gritava por mim à noite, ninguém erguia os bracinhos na minha direção quando se machucava, ninguém gargalhava com qualquer bobagem que eu fazia. Ninguém. A vida era de uma leveza tão grande que chegava a ser vazia. Nada com o que me preocupar, e eu ainda vivia em tensão. Pura tolice. A tolice dos jovens, eu pensava, como se já me tornasse velha.
Passou rápido, logo eu estava na sala de parto vivendo tudo de novo, tão depressa que tinha a nítida sensação de tudo aquilo ser um enorme déjà vu.
Naquela noite de inverno, quando a minha segunda filha nasceu, eu vi o quanto um bebê poderia ser pequeno. Tinha me esquecido quão frágeis e escorregadios eles eram...
A mais nova gritou quando a tiraram de minha barriga. E a mais velha, longe dali, jantava na casa dos amigos: “Comeu tudo mamãe!”, ela me contaria depois, como sendo o fato mais importante da noite.
Nesse dia seguinte, quando ela chegou na maternidade para conhecer a irmã, correndo com suas perninhas roliças e falando atropeladamente, foi quando tomei um susto. Ela não era mais um bebê... Era uma moça grande a minha filha, onde estava o bebê que eu deixara em casa?
Foi de um dia para o outro que minha filha mais velha cresceu, e tornou-se a “mais velha” sendo ainda tão nova. Ela assiste à caçula desenvolver-se e tenta se situar na nova rotina que a vida lhe impôs.
Eu sinto um misto de alegria e dor, um estilhaço no coração quando vejo que ela se frustra, tentando caber nas pequeninices da irmã, que não lhe servem de maneira nenhuma. Ela já não tem meu colo por tanto tempo, já não tem meus pulos e até mesmo minha alegria - antes tão farta e abundante. Vez ou outra, fica perdida nas noites em claro que um recém-nascido nos oferta.
Mas minha filha mais velha puxa-me pela mão com tamanha força e empenho, que me levanto do combate e lhe ofereço o meu amor. Ela é uma menina grande, afinal, e, assim também tornou-se o meu amor. Ainda maior...
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Comentários
Ela terá um amor tão grande pela irmã mais nova, mesclado em cuidado e preocupação que um dia, talvez, ela vá pegar uma boneca e colocar nela o nome da irmãzinha para ter a sensação, por alguns instantes, que aquela é, também um pouco, a sua filhinha.