PULSANTE >> Eduardo Loureiro Jr.
Às vezes, leva tempo. Às vezes, demora. Às vezes, nem acontece. Às vezes, aflora.
Tenho um amigo poeta, e sei que muitos leitores devem ter um amigo poeta. Mas o meu amigo poeta é daqueles capazes de batizar gentes (Os internos do pátiO) e gente (É do ar do Pátio).
Foi esse amigo poeta, o Fabiano dos Santos, que me fez acontecer poesia pela primeira vez, quando me mostrou umas escritas palavras numa arrancada folha de pautado caderno, com a esquerda margem picotada:
Você passou
e feito pluma jogou
um beijo em mim
me deixando assim
feito criança
quando ganha brinquedo
a pluma
bateu no meu vidro
quase quebrando
o meu medo.
A pluma do poema de meu amigo trincou o vidro da minha prosa sem graça e comecei a aprender poesia. (Daqui a umas três encarnações, eu aprendo de vez.)
Meu amigo poeta é também compositor e musicou muitas outras palavras que ele mesmo escreveu e que outr'Os internos do pátio escreveram. Quando ainda éramos estudantes na Universidade Federal do Ceará, Fabiano participou de um dos festivais culturais da universidade com uma canção chamada "Maracatu Pulsante":
Rio riso raso
Vazio viso no vaso
Minha dor
Plantada no não tempo
Fincada na terra
Levada ao som do vento
Flor floriu flores
Corro risco
Risco cores
Na cor pintada de meu sentimento
Preto em branco
Na alegria do meu sofrimento
Vou no impulso
No pulo do pulso
Tramo e traço
Vou no bago
Bagana em bagaço
Braço e abraço
De meu amor
Corto Rio
Riso raso
Corre o sangue
Encarna a cor
Vazio viso no vaso
O sorriso de minha dor
Hoje pela manhã, bem cedinho, antes de sair para trabalhar (sim, domingo às vezes também é dia de dar aulas), recebi um e-mail de um outro interno, também poeta, também compositor, também interno do pátio: Manu Kelé. O e-mail tinha um título, Maracatu Pulsante, e um link para um vídeo em que um coral interpretava a canção de meu amigo Fabiano dos Santos, com arranjo feito pelo maestro Orlando Leite.
Após ver o vídeo do link, descobri que havia dois outros vídeos com o mesmo título, também interpretações da canção de meu amigo. Um deles, este aqui:
Uma obra-prima, boa como só as primas sabem ser.
Ouço as vozes e os instrumentos do Conjunto Pequiá, mas ouço também o violão de Hélder Ramalho criando, num dos bancos do pátio interno, a harmonia da melodia que Fabiano havia trazido apenas na voz. E ouço a voz rouca de meu amigo Fabiano, bela como costuma ser a voz de quem canta sua própria composição. E escuto também o violoncelo tocado durante a apresentação no festival. E há ainda o eco da voz do mestre de cerimônias anunciando que Maracatu Pulsante ficara em segundo lugar no festival.
Escuto os sons de hoje e o som de há vinte anos. Os sons de para quem Maracatu Pulsante é só música das boas e o som de para quem o Maracatu Pulsante era o pulso diário das rodas de violão no pátio. Todos tocam juntos no Coral do Tempo. E muitos sons ainda se juntarão a esses...
O Maracatu continua pulsando. Fabiano continua pulsando. Ontem mesmo me ligou para falar do sorriso de sua dor. E no pulso do tom do telefone, eu doí a sua dor sorrisada e sorri o seu dolorido sorriso.
Tenho um amigo poeta, e sei que muitos leitores devem ter um amigo poeta. Mas o meu amigo poeta é daqueles capazes de batizar gentes (Os internos do pátiO) e gente (É do ar do Pátio).
Foi esse amigo poeta, o Fabiano dos Santos, que me fez acontecer poesia pela primeira vez, quando me mostrou umas escritas palavras numa arrancada folha de pautado caderno, com a esquerda margem picotada:
Você passou
e feito pluma jogou
um beijo em mim
me deixando assim
feito criança
quando ganha brinquedo
a pluma
bateu no meu vidro
quase quebrando
o meu medo.
A pluma do poema de meu amigo trincou o vidro da minha prosa sem graça e comecei a aprender poesia. (Daqui a umas três encarnações, eu aprendo de vez.)
Meu amigo poeta é também compositor e musicou muitas outras palavras que ele mesmo escreveu e que outr'Os internos do pátio escreveram. Quando ainda éramos estudantes na Universidade Federal do Ceará, Fabiano participou de um dos festivais culturais da universidade com uma canção chamada "Maracatu Pulsante":
Rio riso raso
Vazio viso no vaso
Minha dor
Plantada no não tempo
Fincada na terra
Levada ao som do vento
Flor floriu flores
Corro risco
Risco cores
Na cor pintada de meu sentimento
Preto em branco
Na alegria do meu sofrimento
Vou no impulso
No pulo do pulso
Tramo e traço
Vou no bago
Bagana em bagaço
Braço e abraço
De meu amor
Corto Rio
Riso raso
Corre o sangue
Encarna a cor
Vazio viso no vaso
O sorriso de minha dor
Hoje pela manhã, bem cedinho, antes de sair para trabalhar (sim, domingo às vezes também é dia de dar aulas), recebi um e-mail de um outro interno, também poeta, também compositor, também interno do pátio: Manu Kelé. O e-mail tinha um título, Maracatu Pulsante, e um link para um vídeo em que um coral interpretava a canção de meu amigo Fabiano dos Santos, com arranjo feito pelo maestro Orlando Leite.
Após ver o vídeo do link, descobri que havia dois outros vídeos com o mesmo título, também interpretações da canção de meu amigo. Um deles, este aqui:
Uma obra-prima, boa como só as primas sabem ser.
Ouço as vozes e os instrumentos do Conjunto Pequiá, mas ouço também o violão de Hélder Ramalho criando, num dos bancos do pátio interno, a harmonia da melodia que Fabiano havia trazido apenas na voz. E ouço a voz rouca de meu amigo Fabiano, bela como costuma ser a voz de quem canta sua própria composição. E escuto também o violoncelo tocado durante a apresentação no festival. E há ainda o eco da voz do mestre de cerimônias anunciando que Maracatu Pulsante ficara em segundo lugar no festival.
Escuto os sons de hoje e o som de há vinte anos. Os sons de para quem Maracatu Pulsante é só música das boas e o som de para quem o Maracatu Pulsante era o pulso diário das rodas de violão no pátio. Todos tocam juntos no Coral do Tempo. E muitos sons ainda se juntarão a esses...
O Maracatu continua pulsando. Fabiano continua pulsando. Ontem mesmo me ligou para falar do sorriso de sua dor. E no pulso do tom do telefone, eu doí a sua dor sorrisada e sorri o seu dolorido sorriso.
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