O CÉU ECLIPISCOU PRA MIM
>> Eduardo Loureiro Jr.

Tem gente que não sabe cantar. Tem gente que não sabe estalar os dedos. Tem gente que não sabe dar coió — tem gente que nem sabe o que é coió. Eu já não sei piscar.

Claro que todo mundo pisca involuntariamente para lubrificar os olhos, mas estou falando aqui do piscar intencional para paquerar ou simplesmente dar um sinal para uma outra pessoa. Pois não sei piscar. Quero piscar um olho, pisco os dois.

Lembram-se daquela brincadeira de Detetive, Vítima e Ladrão, em que o Ladrão fazia suas Vítimas piscando o olho e o Detetive ficava tentando descobrir quem era o piscador? Nunca me dei bem naquela brincadeira, pelo menos não quando eu era o Ladrão. As prováveis Vítimas não se deixavam atingir pelo meu piscar deficiente.

Piscar é um charme. É de apaixonar. (Mulheres, por favor, não usem demasiadamente essa informação.) E, se as intenções são só amigáveis, piscar é capaz de proporcionar uma duradoura amizade. Então estou assim, meio apaixonado, meio melhor amigo de quem piscou para mim essa semana: o Céu, com seu olho de Lua.

Foi um piscar lento, como são as coisas do Céu. Começou na minha derradeira volta ao redor do parque e só terminou quase uma hora depois. Deu tempo de chegar em casa, preparar uma sopa rápida, encher a caneca, tomar a sopa na varanda e ainda ficar abraçadinho com a família. Um piscar perfeito, desses de quem sabe mesmo o que faz — coisa de Céu.

Nesse demorado piscar, enquanto a Lua me apaixonava, o Céu mandava o sinal: "É isso aí, tá no caminho certo. Continue firme. Bom trabalho". E eu quis piscar de volta, dizer que havia entendido o recado, confirmar a amizade. Mas, como já disse, eu canto, estalo dedo e faço coió, mas piscar não é o meu forte.

Sorte minha que o Céu é um sujeito esperto, sabedor das coisas. Ele com certeza percebeu que uma daquelas minhas piscadelas, supostamente involuntária, não foi apenas para lubrificar os olhos.

P.S.  — Se eu soubesse piscar como o Céu, daria uma bela piscadela para aqueles leitores que já contribuíram com o livro ACABA NÃO, MUNDO!, lá no Catarse.


Trilha sonora desta crônica:
SKY - Vivaldi.

Comentários

Alba Mircia disse…
É..., mas por não saber esse picar ;) de um olho só, como em qualquer deficiência que temos, você desenvolveu bem outros charmes... he he.
A propósito: o que é coió, querido?
Eduardo: eu não sei assobiar e nem falar do que eu não sei de forma tão especial assim.
Anônimo disse…
Oi, Eduardo. Pois é, eu também não sei assobiar coió... desde a minha distante infância que eu tento, tento, depois passei muitos anos sem tentar de novo. Ultimamente, voltei a tentar... mas acho que nasci com alguma deficiência coiocônica ou algo assim. Não sei assobiar coió. Nasci assim e vou morrer assim, como a Gabriela. Mas sei fazer outras coisa beeeem mais úteis, que bom, né? Beijão.
albir disse…
Edu,
como não sabe? Esse texto foi uma piscadela para os que já contribuíram e um assovio coió para os que ainda não.
Eclipiscar é muito poético.
Marilza disse…
Eduardo, vc nos presenteia todos os domingos com belíssimas crônicas e particularmente eu prefiro ler seus escritos que imaginar suas piscadelas à distância.
Depois lhe conto, Querida. :)

É só inventar, Marisa. :)

Anônimo, essas "coisas beeem mais úteis" atiçaram a minha curiosidade. :)

Quer dizer que fiz coió sem saber? Boa essa, Albir. :)

Grato, Marilza.
Unknown disse…
Eu pisco muito bem. Mas do que adianta tanto talento se eu não sei o que é coió? rs
Fernanda, você sabe o que é coió, só não deve estar ligando o nome à "pessoa". :)
albir disse…
Edu,
Fernanda tem cara de quem sofre coió todos os dias, na ida e na volta.
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse…
Hahahahaha...Albir e Eduardo, vocês vão me enlouquecer. Só consegui descobrir que isso é nome de peixe e nada mais...rs
albir disse…
Fernanda,
digamos que coió é o equivalente sonoro da piscadela.

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