NÃO É NORMAL >> Fernanda Pinho
Sentada num restaurante de frente para o mar da paradisíaca Canoa Quebrada, comentei com minha amiga e companheira de viagem, Laís, paranaense, sobre como aquela paisagem me impressionava.
— Não é possível que a Sam ache isso normal — eu disse, meio embasbacada, me referindo à outra amiga, cearense, nossa anfitriã.
Ao voltar para Fortaleza, ainda deslumbrada pelo choque emocional que para mim foi Canoa Quebrada e Morro Branco, tive que interpelar a própria Sam.
— Por que você nunca me disse que era tão lindo assim?
Perguntei sabendo que "lindo" não era suficiente, mas não me ocorreu outra palavra na hora.
— Ah, mas eu também não disse que era feio.
— Mas também não disse que era deslumbrante. Acho que você deveria ter me preparado melhor pra isso.
Dessa vez, eu usei "deslumbrante", mas ainda não era suficiente. Ela apenas riu, talvez por saber que é mesmo lindo/deslumbrante, mas achar normal. Afinal, ela nasceu ali e todos ao seu redor, que também nasceram ali, parecem conviver com tudo aquilo, como se realmente fosse normal. Mas não é. Não aos meus mineiros olhos que já viu muitas praias e continua se comovendo a cada vez que é apresentada a uma nova. Sobretudo, quando se tratam de praias estonteantes como as do Ceará (estonteante... não, ainda não é suficiente).
Porque o mar é uma coisa muito mineira, como bem disse meu amigo Felipe, alagoano, numa crônica aqui do Crônica do Dia mesmo. O mar está presente nas nossas conversas, nas nossas recordações, nos nossos planos para as férias ou para a velhice. O mar é nosso ideal de uma vida mais saborosa (Belo Horizonte é deliciosa, mas falta sal, convenhamos). O mar é nosso amor impossível. A paixão platônica. Tão platônica que eu quase prefiro só observá-lo. Dos dias que estive no Ceará, por exemplo, só entrei no mar em um deles. O grande deleite está na observação das nuances de suas cores e da coreografia das ondas.
E não se trata apenas de um deleite visual. O mar é para todos os sentidos. O mar é a lufada de ar quente e úmido que nos envolve quando colocamos o pé pra fora do avião, ao chegarmos numa cidade litorânea. O mar é o gosto salgado que os mineiros provam discretamente quando vão à praia pela primeira vez. O mar é a música que fica guardada dentro das conchas. O mar é o cheiro de fruto do mar capaz de inebriar até quem não aprecia frutos do mar. O mar é felicidade, energia, inspiração. O sexto sentido.
Não posso dizer que é lindo, deslumbrante, estonteante. Pois ainda assim estaria sendo injusta. O que posso dizer é que, definitivamente, não é normal.
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Foto: Morro Branco, por Laís Bastos
Comentários
Contemplar o mar é uma daquelas coisas que sou capaz de fazer um dia todo e não enjoar!
Adorei seu texto, deu vontade de ir pro Nordeste agora.
Beijo.
grande abraço!
Brincadeiras à parte, adorei a crônica. Abraços. Paz e bem.
Eu tb tenho fascínio pelo mar. PEnso que se morasse numa cidade com praia ia ser bem menos estressada, porque é só olhar pra ele que tudo de ruim vai embora.
Agora vc precisa conhecer o litoral norte de Sampa...a Tha pode confirmar!rs
Beijooocas