MEUS QUERIDOS TAXISTAS >> Fernanda Pinho



Como se isso realmente fosse uma questão importante, as pessoas sempre me perguntam por que eu não dirijo. "Porque eu não tenho o menor senso de direção", "porque eu me disperso com extrema facilidade", "porque eu não pretendo morrer nem matar ninguém", são respostas que me ocorrem, mas costumo dar outra. Bem mais simpática e que não deixa de ser verdade: porque eu adoro andar de táxi.

Os taxistas de Belo Horizonte são um evento. Digo de Belo Horizonte porque é aqui que eu vivo. São por essas ruas confusas, mal sinalizadas e charmosas que circulo com motoristas-astrólogos que me explicam tudo sobre meu signo, com motoristas-compositores que cantam para mim o último rock rural que compuseram, com motoristas galanteadores que encerram a corrida me entregando um cartão e informando gentilmente: "estou à sua disposição. Para qualquer coisa".

E foi numa dessas ruas confusas, mal sinalizadas e charmosas que eu e duas amigas entramos no táxi do Fábio. Era sábado à noite e chovia. Uma daquelas situações em que é mais fácil achar o homem dos seus sonhos do que um táxi disponível. Mas encontramos. E era o Fábio. Entramos no carro sem ter dinheiro para pagar a corrida e pedimos que ele nos ajudasse a encontrar um banco para fazermos um saque. Não sei o que aconteceu naquela noite, mas parece que nossos bancos haviam evaporado. Só encontramos um caixa 24 horas, dentro de uma loja de conveniência de um posto de gasolina. Eu e uma das amigas descemos em direção ao caixa (enquanto a outra ficou no carro, como garantia de que iríamos voltar). A gente corria por causa da chuva mas, ainda assim, fomos alcançadas por um frentista. "Moças, a loja de conveniência está fechada". "Ah, não, moço. Não brinca com a gente não. Precisamos muito ir ao banco. Você não tem a chave da loja?". "A chave da loja eu não tenho. Mas tem uma janela aberta, se vocês quiserem pular". Eu não lembro qual foi o fator motivador que me levou a fazer isso. O fato é que eu pulei a janela, saquei o dinheiro, despulei a janela e voltamos ao táxi.

O que eu não esperava é que toda essa peripécia para conseguir a grana seria desnecessária pois, empolgado com nosso espírito aventureiro, Fábio decidiu que era nosso melhor amigo de infância. Resolveu encerrar seu expediente na porta da boate onde nos levou, não cobrou a corrida, entrou com a gente e ainda nos levou em casa na volta (apenas uma carona, não estava trabalhando, afinal). Pacote completo: te leva, te busca e ainda espanta os malas que vêm te alugar (e não cobra).

Mas, claro, existem taxistas e taxistas e às vezes acontece de eu cruzar com figuras não tão simpáticas. É raro, mas acontece. Como o motorista que arrancou antes que eu fechasse a porta e saiu dirigindo desgovernado, cantando pneu, furando sinal, ignorando quebra-mola e eu suplicando: "moço, por favor, eu não estou com pressa". Nem me deu ideia e eu tive que apelar para Deus. Deve ser por isso que cheguei em casa viva. A corrida deu R$ 20 e eu lhe entreguei uma nota de R$ 50, louca pra ficar livre daquilo. Ao que ele dispara: "você é muito folgada, primeira corrida do dia e acha que eu tenho que ter troco?". Aí já era demais. Tomei minha nota de volta e fui saindo do carro dizendo: "Ok, eu tenho o dinheiro, você não tem troco, o problema é seu". O cavalheiro não deixaria por menos. Saiu do carro e me cercou na rua: "Me dá esse dinheiro aí que eu vou trocar ali no bar". Pegou a nota e eu fiquei esperando, perto do táxi. Não demorou muito e ele voltou com aquela cara de dragão, entregou meu troco e saiu acelerando, enquanto apreciava a latinha de cerveja que comprou pra trocar o dinheiro.

Sim, eu deveria ter anotado a placa. Mas a ideia não me ocorreu na hora. No fim das contas, prevalece meu amor por essa classe de trabalhadores que torna minha vida muito mais inusitada e divertida. 

Comentários

Anônimo disse…
Pois eh, essa eh uma das nossas aventuras q ta marcada na historia das nossas vidas, ri demais!!! kkkkkkkkkkkk
Bjuusss
Loreyne
Jujú disse…
Adorei as suas histórias com os taxistas, principalmente o Fábio! Mto bom...

Eu posso contar nos dedos as vezes que peguei taxi em Sampa, e na maioria das vezes foi com meu padrinho que era taxista! Infelizmente meu dindo já se foi, mas o irmão dele (meu primo) também é, então eu fiquei feliz com a homenagem. Aliás, vou mandar pra ele ;-)

E amiga, eu tenho certeza que um dia eu ainda faço vc virar uma bela motorista!!! Vai ver, e a Tha vai me ajudar!rs

Beijos, beijos
Fernanda, eu ia dizer que você tem sorte com taxistas, mas a verdade é que eles têm sorte com você. :)
Thalita Maia disse…
gosteii muito do seu blog. Criei o meu hoje, e quero fazer meus proprios textos. queria q vc visitasse meu blog, e dizer o q achou deele.
beijos
just-a-girl21.blogspot.com
Marilza disse…
Fernanda, sorte sua andar de taxi pq vc não se estressa com o trânsito, nem com motoristas folgados e cheios de querer levar vantagem e ainda tem estórias divertidas pra contar. Como sempre, uma crônica leve, gostosa de ler.
Carla Dias disse…
Manda o Fábio pra São Paulo, Fernanda!!!! Aqui tem Fábio, mas eles estão todos ocupados.
Cida Versiani disse…
Você precisa pegar o táxi do meu cunhado, vai ouvir cada história se tiver paciência ele nem vai te cobrar a corrida!!! Serão casos e causos de um taxista entusiasmado.
Fernanda Arruda disse…
ai Fer, penso seriamente em vender meu carro e sair por aí andando de táxi, ônibus, metrô, mesmo com todas as inconveniências que isso possa trazer: questão de $, tempo, gente, lotação. Mas ser motorista em SP é punk e envelhece qualquer um antes do tempo :S

anotei sua dica :)
Unknown disse…
Gente, que for de BH e quiser o telefone do Fábio é só falar :)

Quem não for, eu convido pra dar uma voltinha no táxi dele. A corrida é por minha conta...rs

Obrigada, gente!

Beijos!!!

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