PALAVRAS GUARDADAS NO SUOR DAS MÃOS >> Cristiana Moura



Nesta madrugada eu disse palavras destas que ficam guardadas por tempos. O leitor pode pensar, num primeiro momento, que me refiro aos absurdos sociais que vivemos, às falas anti-racistas tão imprescindíveis, entre outras. Poderia ter sido, mas não. Falei mesmo (de fato escrevi em mensagens de whatsapp), daqueles segredos-sentimentos guardados numa gaveta, no suor das mãos, num porão, nas células esquecidas do próprio corpo.

O leitor deve ter alguma curiosidade sobre o que falei (ou não). Mas não trata-se de vida a ser desvelada assim, toda de uma vez. Há de se tirar véu por véu e respirar o ar do que ainda é diáfano.

Aí, lembrei que hoje é dia de Santo Antônio. No sincretismo afro-brasileiro, dia de Exú, orixá que abre caminhos e destribui bençãos de fertilidade, fartura e prosperidade. Laroyê Exú!!! E respirei pela pele e em canto.

Não me recordo, agora, as exatas palavras com as quais Leminski escreveu sobre o fantasma das coisas não ditas — mal que nos adoece. Esta madrugada respirei profundamente e melhor a cada palavra dita. Descobri que medo de dizer é também é medo de ouvir. Eu poderia, aqui, escrever que re-descobri. Porque, enfim, sabemos disso, não é? Mas não, eu descobri como algo novo, como o deslumbramento da criança com o concha trazida pela onda, como se fora um presente do mar para ela.

Essa madrugada, eu emagreci em palavras.

Comentários

Zoraya Cesar disse…
"Descobri que medo de dizer é também é medo de ouvir.". Massa! Muitos de nossos problemas poderiam ser resolvidos se nos conscientizássemos verdadeiramente disso!
Albir disse…
Maravilha essa lembrança do Leminski:
"à noite
fantasmas das coisas não ditas
sombras das coisas não feitas
vêm
pé ante pé
mexer em seus sonhos"
Cristiana Moura disse…
Albiirrrr, obrigada!
Procurei , procurei e nada de achar.
Um presente!

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