UM PRATO CHEIO DE INCOERÊNCIA
>> Mariana Scherma
Eu
sou expert em pegar conversas alheias engraçadas, confusas, suspeitas, enfim...
Vai ver é por isso que vivo me perdendo pelo caminho, chegando meio atrasada ou
esquecendo o que tinha pra fazer: ouvir desconhecidos conversando é sempre mais
interessante. Mas admito que o bate-papo de mulheres e seus regimes malucos
ainda é o tipo de conversa que mais desperta a minha atenção. Talvez por elas
acreditarem num milagre que não existe.
Essa
semana dei pause em todos os meus pensamentos só pra ouvir o bate-papo na hora
do lanche. Eu, que sou a mais cética quanto a dietas milagrosas, estava feliz
com a minha laranja. As moças na mesa ao lado também estavam felizes, mas com
um lanche tão cheio de molho, maionese e cia. que dava quase pra tomar de
canudinho toda aquela gordura. E, pra minha surpresa, explicavam uma para a
outra, como é (sofrido) o regime de cada uma. Uma conversa meio surreal aos
meus ouvidos.
—
E como anda seu regime?, perguntou uma delas pra outra.
— Tá difícil. No almoço, eu como só uma saladinha de alface com uns tomates,
respondeu.
— Eu como só um omelete de claras, emendou a outra.
— Pra mim, os resultados estão demorando a aparecer, fechou a outra.
Precisa
dizer que eu olhei assustada pra elas? Ok, no almoço a sujeita come só uma
salada, a amiga um pratão de omelete, mas lá pelas 10h30 da manhã elas devoram
uma quantidade de gordura trans que poderia entupir fácil qualquer artéria
desprevenida. Incoerência, a gente vê na mesa ao lado.
É
certo que essa história de conselho é a maior besteira. E, se eu virasse pra
dar uma dica a elas, provavelmente seria apedrejada com um pedaço de bacon. Mas
perder peso tem a ver com fechar a boca e com força de vontade. Falar em regime
quando se devora um x-absolutamente-tudo não vai fazer a gordura passar reto no
seu organismo. A maioria das mulheres que abusam das calorias adora virar e
dizer que alguém é magra de ruim. Odeio essa expressão. Genética conta, ok. Mas
nenhuma genética é superpoderosa o suficiente pra aguentar os seus deslizes
diários.
Uma
vez, um amigo me disse que as pessoas não querem emagrecer, querem ser
emagrecidas. Ele tem toda a razão. Vai ver por isso que esses cosméticos que
garantem que você perde medidas dormindo e ainda deixam seu corpo sarado (pausa
pra risada incrédula) fazem sucesso. É muito mais fácil reclamar que você anda
com dificuldade pra emagrecer sentada, botando um montão de caloria pra dentro,
do que ir todo dia à academia, comer com moderação e encarar uma vida saudável.
Minha
teoria é que, quando você come algo com a consciência pesada, seu peso também
aumenta. Já recebi um monte de crítica por isso, mas comigo funciona. Eu amo um
docinho e repito a sobremesa nos finais de semana, mas como feliz porque malhei
com vontade e comi (de fato!) só uma saladinha na hora do almoço durante toda a
semana. A gente faz escolhas nessa vida. O que você põe no prato é só uma
delas.
A
mulherada gasta mais energia falando que odeia fazer esporte, odeia quem ama
academia, odeia ficar de dieta, odeia a Gisele Bündchen, que acabou de ter
filho e está magérrima, enfim, odeia. Eu sugiro que levem esse ódio pra
academia. Depois de uma hora de exercício, ele se transforma em serotonina. E,
olha, isso sim é o milagre da felicidade. Nele eu acredito.
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