NINGUÉM NUNCA ME DISSE >> Fernanda Pinho
Alguém deveria ter me dito que a culpa não foi minha. Não
aliviaria a dor, mas pelo me tiraria esse fardo das minhas costas. E a dor sem
fardo tem a obrigação física de ser mais leve. Teriam me poupando do peso e da
perda de um tempo irrecuperável que passei me questionando: por que eu fui
ligar na hora errada? Por que eu fui reclamar por estar sendo tratada
friamente? Por que eu fui pedir demais se, ai que pretensão, eu nem mereço
tanto assim? Sempre com a sensação de ter feito a coisa errada, sempre com a
sensação de ter estragado tudo. Mais uma vez.
Quando é que eu vou aprender? Eu queria saber quando eu iria
mudar de fase e ser perfeita. Porque eu achava que eu precisava ser outra.
Porque eu achava que eu tinha que parar de criar motivos que culminassem no fim
de todas as minhas relações. Já que ninguém me disse, precisou a vida me dizer.
E veio a grande descoberta: nunca existiu motivo algum. Sempre existiu
pretexto. E sabe qual é a diferença entre motivo e pretexto? Pretexto pode ser
qualquer um. Pode ser um telefonema na "hora errada". Mas pode ser
também uma caneta que você deixou cair no chão. Simples assim. Pretexto é a
arma de quem está na relação por estar, sem vínculo, para passar o tempo ou
coisa assim. Arma que, mais cedo ou mais tarde, vai ser apontada pra você. Não
adianta se iludir, achar que as coisas vão mudar, que vai acontecer um acidente
nuclear e a radiação vai fazer a pessoa te amar loucamente. Não vai. Isso
também ninguém me disse. Foi a vida.
O amor não vinga em canteiro que não é diariamente regado.
Aprendi e anotei no meu bloquinho, onde consta também que: se uma pessoa te
ama, ela não vai terminar com você por qualquer crise de choro. Nem pela
diferença de idade entre vocês, nem pela diferença de escolaridade, nem pela
diferença econômica. Nem por nenhum outro pretexto. Nem mesmo pela famigerada
distância. Eu que já me culpei por morar no lugar errado (o cúmulo da
"síndrome do mosquito do cocô do cavalo do bandido", eu sei. Mas não
se preocupem, já fiz terapia) aprendi que a pessoa que te ama vai atrás de você
seja onde for!
Não vou fazer a vítima e dizer que aprendi a duras penas.
Aprendi a macias e sedosas penas. Plumas de ganso eu diria. Mas os momentos
bons também ensinam, sabia? Eu não sabia. Agora eu sei. Sei também que não
preciso me culpar por não ter sido perfeita. Culpa e perfeição, aliás, sequer
precisam fazer parte do meu vocabulário. No momento, só uma palavra interessa:
agradecimento. À vida, por ter me mostrado, de um jeito tão bonito, o que
ninguém nunca me disse.
Comentários