O QUE CHICO BUARQUE TEM A VER COM ESSA HISTÓRIA >>Zoraya Cesar

Sempre sonhara com o dia em que Chico Buarque e ela se encontrariam, se apaixonariam e ficariam juntos para sempre, trocando beijos e juras de amor, sem se desgrudarem um minuto sequer. Ela se via dizendo para a atual namorada dele, Taís Gulin, desculpe, amiga, mas perdeu, eu sou o verdadeiro amor do Chico.

Quando soube que ele se apresentaria na cidade, tratou de se preparar. Deixou de sair com as amigas, de comprar chocolates, de fazer qualquer coisa que implicasse despesas, tudo para juntar dinheiro que sobrasse para o ingresso (uma fortuna! mas valia a pena), roupa, sapatos e perfume novos, cabeleireiro, manicure, imagine se ela ia encontrar o seu amor como quem vai a um show na praia, jamais! Também comprou calcinha e sutiã sensuais, vai que tem um incêndio, ou acontece um acidente, e ela aparece com roupa de baixo velha? Melhor morrer. Até porque ela não queria simplesmente ver o espetáculo. Ela queria falar com o Chico. Entrar no camarim, pedir autógrafo, tirar foto, tocar nele, desmaiar.

Nossa amiga leu todas as notícias referentes aos shows anteriores, entrou em fóruns de discussão de outras fãs, juntando informações para montar uma estratégia que a levasse ao camarim. E conseguiu.

Tudo deu certo até chegar ao último segurança. O guardião da sala onde descansava o seu grande amor era implacável. Barrou até uma louraça belzebu que tentou aplicar uma variação do mesmo golpe que ela tão cuidadosamente planejara. Vendo que seu plano seria tão infalível quanto os criados pelo Cebolinha para delotar a Monica, ela se desesperou.

Mas o amor dá forças ao mais tímido dos mortais e, sem pensar no que estava fazendo, foi até o segurança e disse:

- Eu amo o Chico Buarque de todo meu coração. Eu queria muito entrar e mostrar isso pra ele – emocionada, as mãos tremendo, tirou da bolsa um scrap book com fotos dela e do Chico entremeadas de motivos românticos.

O segurança olhou bem para ela e gostou do que viu. Uma moça de óculos, cheinha e baixinha, voz fininha, toda inha. E gostou também do que não viu: uma tentativa de sedução barata ou suborno – que ofendiam sua integridade – ou história mirabolante – que atentava contra sua inteligência.

–  Moça, agora não tem como. Mas volta aqui depois do show, que eu deixo você entrar.

Ela boquiabriu-se, incrédula. Seria verdade?

–  Sério? – ela hesitou – E se você não estiver aqui quando eu voltar? 

–  Sério, riu ele. Vou estar, sou o chefe da segurança – e, olhando profundamente para ela, completou: – Mas eu estaria aqui te esperando de qualquer jeito.

Mais calma, pela primeira vez olhou para ele com olhos de ver. Bonito, pensou. E sentiu uma espécie de tremor por dentro, delicioso e assustador, que a impeliu irresistivelmente a dizer:

–  Eu não vou demorar. Preciso ir pra casa e não tenho carro.

–  Não esquenta, eu levo você – disse ele, despreocupadamente.

–  Você não sabe se eu moro longe, retrucou ela.

–  Não preciso saber. Eu te levo. Agora vá curtir o seu show. Depois volte. Por favor. – E o sorriso dele a deixou meio confusa.

E ela assistiu ao melhor espetáculo de sua vida, nunca se sentira tão estranhamente feliz. E, depois, ela falou, tocou, abraçou, beijou e foi beijada por Chico Buarque em pessoa, e entregou seu álbum e CDs para ele autografar, e tirou foto e não desmaiou.

Numa alegria maior ao sair do camarim que ao entrar, ela esperou e esperou e nada aconteceu. Como eu sou boba, pensou. Imagine se um cara como aquele ia realmente me levar pra casa. Ele só ficou com pena de mim. E saiu, segurando seus troféus, parte de sua alegria esvaziada.

–  Ei, aonde você vai? – ela parou, antes mesmo de a frase terminar, o coração batendo ainda mais forte ao vê-lo do que ao próprio Chico. – Eu tive de terminar o serviço, desculpe, devia ter avisado que iria demorar um pouco. Vamos?

Os descrentes das coisas do amor podem parar por aqui. Os românticos, por favor, leiam mais um pouco (mas não sejam indiscretos, não adianta perguntarem se valeu ela estar com sutiã e calcinha sensuais, eu não vou contar).

Ele, que sempre desprezara fãs de artistas, apaixonou-se por ela. Ela, que nunca pensara em ficar com alguém que não lembrasse ao menos um pouco o seu ídolo de toda a vida, apaixonou-se por um moreno de olhos negros que, de música, entendia menos que de física quântica.

Trocando beijos e juras de amor, sem se desgrudarem um minuto sequer, já estão preparando o casamento. E Chico Buarque, que soube da história toda, prometeu que ela teria entrada franca em todos os seus espetáculos e gravações.

Não sei quanto a vocês, mas eu, que estou à procura de um amor, certamente irei à próxima apresentação do Chico. Vou tentar entrar no camarim. Quem sabe...

Comentários

Alexandre Durão disse…
Oi, Zoraya.
Tanta coisa boa, logo pela manhã: acordar tarde, feriado e crônica da Zoraya.
Sempre adorei os (bons) cronistas, mas como não tenho mais paciência para os jornais, me sentia abandonado por eles. Agora isso mudou, tenho você.
Qual é problema disso tudo? É que você estará obrigada, comigo e com muitos outros, a colocar essa cabecinha pra funcionar e nos fazer felizes.
Muitos beijos e obrigados.
albir disse…
Isso, Zoraya, nos bastidores é que acontecem as grandes histórias. E você enxerga através das cortinas.
aretuza disse…
Puxa, que romantico! quero um desses! Nao um Chico; um segurança para mim!!!!!!
Érica disse…
Adorei, Zozô! Até fiquei torcendo para o segurança estar lá na saída! E, é claro, li até o fim, torcendo pelo final feliz. Pena que na vida nem todos os finais são felizes, mas vale a pena procurar por ele, o final feliz. Afinal os seres humanos estão sempre em busca disso. E se o final não foi feliz, é porque ainda não acabou. Ui! Piegas? Mas a pura verdade... bjs
:) Até eu, cética incurável, dei sorrisinhos com a sua história e tô na torcida: ZÔ, vai pro camarim!

Beijocas
Zoraya, capaz do Chico fazer uma canção sobre o assunto. :)
Anonymous Guardacostatum disse…
Que coincidência essa, hem! Também ando procurando pela mesma coisa que a cronista. Só não contem com me encontrar na porta do camarim de um show do Chico (não pelo mérito artístico, indubitável, mas em protesto, porque soube que ele batia na Marieta), mas, talvez, segurando a porta de um camarote do Theatro Municipal. Vem pro camarote, vem! Quem sabe!?...
Aglae disse…
Oi Zo, só agora pude ler, nesse domingo chuvoso dia 29 e sabe? romantismo nunca é demais...a vida é o melhor camarim e sua personagem entrou nele...beijos
Carla Dias disse…
Ok, Zoraya, pode me colocar na lista de quem vai ao show do Chico. A gente se encontra lá.
Cecilia Radetic disse…
Oi Zoraya, não precisa dizer que amei a crônica, e você sabe que eu amo o Chico - só ele é quem não sabe - rsrsrs. Vou Fazer como a Carla - me pôe na lista de quem vai ao show!
bjs
Talita disse…
Olá Zoraya, adorei a sua crônica, parece um romance de ficção! Mas vém cá, nos conte essa tática para passar pelos seguranças no início, sério, meu email é tata_objetivo@yahoo.com.br, também tenho um cantor que adoro, gostaria muito de poder vê-lo, quem sabe suas dicas não servem para mim também XDDD
Abração e muito sucesso!

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