RECONCILIAÇÃO >> Fernanda Pinho
A divisão do tempo em anos é, para mim, uma das grandes invenções da humanidade - juntamente com a chapinha de cabelo e o pão de queijo. Sem medo de soar clichê, acredito que virar o ano seja, de fato, uma oportunidade de zerar o jogo e começar de novo. Se a gente não aproveita a chance e volta a repetir os mesmos erros, aí já é problema é nosso. A oportunidade foi dada, não podemos reclamar. Há quem acredite que estes sentimentos de reflexão, solidariedade e disposição que nos acometem nas viradas dos anos já estão banalizados demais e não passam de conversa fiada sem efeito, posto que durante o resto do ano persistimos na mediocridade. Eu sou da turma dos tolerantes. Melhor que esse clima exista apenas em uma época do ano do que não existir nunca.
E eu tenho me aproveitado dele ao longo da vida. Faço retrospectiva, lista de resoluções, agradeço a todos que contribuíram para meu crescimento ao longo daquele período, faço muita questão de demonstrar aos meus a importância que têm em minha vida. A vida. Essa que, apesar de todo esse meu empenho em ser uma ativista do espírito natalino, pouco muda depois que rompemos o ano novo e engrenamos outra vez.
Não muda porque insisto em algum erro que ainda não havia identificado mas acredito ter me dado conta nessa virada de 2011 para 2012. Às vésperas do dia 31, li alguma coisa no jornal sobre reconciliação. Era a palavra que faltava para a cruzadinha onde já havia preenchido "promessas", "balanço", "análise", "declarações", "altruísmo".
Eu precisava me reconciliar. Não com os meus desafetos. Nem os tenho, a verdade é essa. Ok, talvez exista um ou outro que, por alguma rusga, possa me considerar um desafeto. Mas eu não considero. Minha memória não tem capacidade para armazenar arquivos corrompidos. Falo de me reconciliar comigo mesma. De relevar minhas falhas. De parar de me jogar na cara: "olha aí você estragando tudo outra vez". De aceitar que eu vou errar sempre, o que não significa que eu seja uma vilã, que receberá um castigo implacável no fim da história. Não erro porque sou má. Erro porque sou gente.
Então, ao oferecer um copo de leite (a flor) para a Iemanjá, enquanto os fogos faziam um lindo espetáculo no céu, não pedi, não agradeci. Me preocupei apenas em me perdoar. Me perdoei por não ter engolido um sapinho sequer num ano cheio de brejos. Me perdoei por ter acreditado em falsas promessas. Me perdoei por sempre ter me precipitado. Me perdoei por ter me pegado pensando em trabalho enquanto dançava no meio de uma boate. Me perdoei por não ter tido uma alimentação saudável. Me perdoei pela minha falta de paciência. Me perdoei por ter diminuído meu tempo de vida sofrendo por insignificâncias. Me perdoei pelos momentos em que não fui a filha/irmã/amiga/profissional que esperavam. E comecei o ano com uma rara e genuína sensação de estar desculpada.
E eu tenho me aproveitado dele ao longo da vida. Faço retrospectiva, lista de resoluções, agradeço a todos que contribuíram para meu crescimento ao longo daquele período, faço muita questão de demonstrar aos meus a importância que têm em minha vida. A vida. Essa que, apesar de todo esse meu empenho em ser uma ativista do espírito natalino, pouco muda depois que rompemos o ano novo e engrenamos outra vez.
Não muda porque insisto em algum erro que ainda não havia identificado mas acredito ter me dado conta nessa virada de 2011 para 2012. Às vésperas do dia 31, li alguma coisa no jornal sobre reconciliação. Era a palavra que faltava para a cruzadinha onde já havia preenchido "promessas", "balanço", "análise", "declarações", "altruísmo".
Eu precisava me reconciliar. Não com os meus desafetos. Nem os tenho, a verdade é essa. Ok, talvez exista um ou outro que, por alguma rusga, possa me considerar um desafeto. Mas eu não considero. Minha memória não tem capacidade para armazenar arquivos corrompidos. Falo de me reconciliar comigo mesma. De relevar minhas falhas. De parar de me jogar na cara: "olha aí você estragando tudo outra vez". De aceitar que eu vou errar sempre, o que não significa que eu seja uma vilã, que receberá um castigo implacável no fim da história. Não erro porque sou má. Erro porque sou gente.
Então, ao oferecer um copo de leite (a flor) para a Iemanjá, enquanto os fogos faziam um lindo espetáculo no céu, não pedi, não agradeci. Me preocupei apenas em me perdoar. Me perdoei por não ter engolido um sapinho sequer num ano cheio de brejos. Me perdoei por ter acreditado em falsas promessas. Me perdoei por sempre ter me precipitado. Me perdoei por ter me pegado pensando em trabalho enquanto dançava no meio de uma boate. Me perdoei por não ter tido uma alimentação saudável. Me perdoei pela minha falta de paciência. Me perdoei por ter diminuído meu tempo de vida sofrendo por insignificâncias. Me perdoei pelos momentos em que não fui a filha/irmã/amiga/profissional que esperavam. E comecei o ano com uma rara e genuína sensação de estar desculpada.
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Beijos