É COM VOCÊ, LOMBARDI! [Carla Cintia Conteiro]

Se você já estava vivo e morando no Brasil entre o final dos anos 1970 e início dos 1980, há de lembrar de um quadro do Agildo Ribeiro no humorístico Planeta dos Homens em que ele representava um professor de mitologia que tinha a seu lado um mordomo que tocava uma campainha toda vez que ele falava bobagem ou ficava mais ousado. A Múmia Paralítica, como o personagem era chamado pelo seu patrão, ficava especialmente ativo com seu equipamento quando o acadêmico começava a falar de sua musa, a Bruna Lombardi.

Dizem que este quadro está presente também naquela “atração” chamada Zorra Total. Infelizmente, não posso confirmar, já que considero estar em casa na noite de que “todo mundo espera alguma coisa” tortura suficiente. Assim, me mantenho afastada da TV aberta nesse dia e horário.

Lembro daquele quadro desde que a mesma Rede Globo do antigo programa começou a apresentar o remake de O Astro. Na nova versão, além da previsível repaginada na história, uma edição ágil para tentar manter os telespectadores acordados nos últimos minutos que antecedem a madrugada. E, evidentemente, como só hoje em dia, muito sexo e muita nudez. Neste último quesito, o corpo masculino nu talvez jamais tenha sido tão exposto. Apenas este fato já tornaria o folhetim inviável para exibição em sua época original, também ao fim da década de 1970, em plena ditadura militar, com todo seu poder de censura. A clássica cena franciscana do filho se despindo do poder econômico do pai saltou da colocação esperta de objetos cenográficos em pontos estratégicos para longos takes do corpinho sarado de Thiago Fragoso. Só não teve frontal. Será que liberdade de expressão e igualdade de direitos é isso?

A idade deve estar fazendo de mim uma pessoa mais chata, imagino. Ou não ficaria me perguntando se certas coisas são mesmo necessárias. E dei a imaginar a Múmia Paralítica soando loucamente sua sineta não pela simples menção à Bruna Lombardi, mas diante da bunda do Lombardi, do Rodrigo Lombardi.

Somos não apenas um país calipígio. A simples menção ou visão relâmpago de um derrière entre nós faz disso assunto para dias, tanto nas rodinhas de amigos, quanto no lugar mais nobre da pós-modernidade, os trending topics do Twitter. Estão aí a Sandy e o Louco Abreu que não me deixam mentir. Este é mesmo um tema sobre o qual se versar? E eu que pensava que ele havia se esgotado com a submersão do É O Tchan e congêneres ou ficado restrito ao Carnaval... Será que tamanho interesse é uma fixação na fase anal e um sintoma da nossa falta de amadurecimento como nação, principalmente no que diz respeito à obtenção da atenção alheia?

Espelho, espelho meu, estou me transformando numa Múmia Paralítica? “Coisa horrorosa!”

Comentários

Caca disse…
Eu acho que a nossa evolução é progresso material, tecnológico e sanitário apenas. E a modernidade é sinônimo de superexposição. Uma superposição de carências assola o mundo. Excelente a sua crônica, Carla! Abraços.
Enquanto o povo se distrai calipigisticamente, o governo nos assola com mais um escândalo, desta vez no Ministério dos Transportes. E a população calada... em outros países, tal nível de corrupção já teria desencadeado uma revolução nas ruas. Mas aqui é Brasil...
Excelente crônica, gostei!
Abner Martins disse…
Belo texto. Sobretudo se fosse escrito há anos atrás. Porque há anos atrás, um texto como esse, alertaria uma sociedade levada pelas mãos-de-ferro do militarismo. Essa mesma sociedade não deixaria o corpo nú da mulher e o sexo tornarem-se o banal que são hoje - visualmente falando, claro!
Mas os brasileiros quiseram sempre imitar os europeus e os afins do norte. Bom, hoje somos especialistas em exportar novelas cultuando o corpo da mulher. As curvas da mulher deveriam ser imaginadas e desejadas, não expostas. Deveriam ser um ponto de interrogação em nossa mente, não fáceis como são. As "Samambaias" lá de casa que o digam.

Em outra ponta está o pobre do homem, que vai pelo mesmo esgoto que a mídia o oferece. Mas não se preoculpe, a culpa não é sua. Só deveria ter nascido em outro tempo.

Múmias? Todos somos! O pessoal lá de Brasília que o diga. KKK... Mas isso é assunto para outro texto.

saudações do ABner

abnerlmesmo.blogspot.com
Unknown disse…
Obrigada, Cacá.
Agradecida, Violeiro.
Valeu, Abner.

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