PRESIDENTE OU PRESIDENTA?
>> Albir José Inácio da Silva

Ainda nos nossos ouvidos os ecos da campanha eleitoral que chafurdou no fundamentalismo e no preconceito. Frases de efeito foram repetidas milhares de vezes como se ditas a retardados mentais que supostamente votariam por mero induzimento, incapazes que são de raciocinar. Isso, é claro, não agrada a ninguém.

Mas o fato é que hoje temos presidente eleita. Em todas as disputas há vencidos e vencedores, satisfeitos e insatisfeitos. Ideologias partidárias de lado, uma mulher acordou presidente (ou presidenta – vamos ver o que vai pegar) do país. Setenta por cento dos brasileiros votaram em mulheres no primeiro turno e agora confirmou-se essa tendência com a eleição de uma mulher presidente - presidente de homens e mulheres. Sem traumas, com as instituições funcionando e os perdedores reconhecendo a legitimidade do processo eleitoral. Se há preconceito, é velado. Publicamente ninguém ousou dizer que mulher não era capaz de concorrer ou de governar. Se disse, foi envergonhado, olhando para os lados a ver se não lhe ouviam as bobagens. Isso é um avanço, não se pode negar. É um marco memorável na história republicana deste país. Principalmente se lembrarmos que há cem anos as mulheres nem sequer votavam.

Ninguém faz bom ou mau governo por ser mulher, assim como não se dirá que é bom ou ruim o atual presidente por ter sido operário. Assim também como o grande feito de Nélson Mandela não foi ter sido o primeiro presidente negro da África do Sul, e sim ter unificado aquele país.

A presidente eleita diz, parafraseando o atual presidente, que não pode errar porque as mulheres ficarão desacreditadas. Mas isso é retórica, não é possível não errar. Não se erra por ser mulher, operário ou negro. Erra-se por ser humano. E não há nada de errado em errar, por paradoxal que possa parecer. Que ela erre, que acerte, que corrija, que aprenda, que insista. Que seja humana e competente e entre para a história por suas realizações. Que seja apenas uma curiosidade na sua biografia o fato de ter sido a primeira presidente eleita.

Há muito a ser feito, mas hoje sabemos que todos somos capazes e consequentemente responsáveis. Operários e intelectuais, de todas as raças e da mistura dessas raças, homens e mulheres, por ação ou omissão, estamos assumindo, todos os dias, querendo ou não, o papel de escrever nossa própria história, ou o ônus de permitir que a escrevam por nós. Lembremo-nos: não existe poder não exercido. Exercemos ou delegamos, com ou sem consciência disso. Sejamos presidentes ou cidadãos.

Comentários

vanessa cony disse…
Albir,gostei muito...Agora só nos resta fazer aquilo que podemos.Torcer para que tudo saia certo.Que os erros sejam corrigidos e que nós ,povo,fiquemos tranquilos.
Bela crônica, Albir. Espero que a Dilma leia. :)
Tânia Batista disse…
"Exercemos ou delegamos, com ou sem consciência disso". Interessante essa frase. Eu sempre tive a serena sensação de que não há neutralidade política em nossa caminhada. Oxalá tenhamos dias melhores para um povo que "ri quando deve chorar" e acredita na esperança e no amor.
albir disse…
Obrigado, Vanessa, fiquemos tranquilos e atentos.

Espero, Edu, que a Dilma leia cada brasileiro.

Tânia,
que bom vê-la de novo. Abraço.
Unknown disse…
Questões partidárias à parte, acho que foi uma evolução de mentalidade. No início da campanha eleitoral, eu cheguei a dizer que duvidava que a Dilma ganhasse, justamente por ser mulher. Não imaginava que o Brasil estivesse pronto pra isso.

Adorei a crônica!
Carla Dias disse…
Ótima crônica, Albir. Que assim seja!
albir disse…
Pois é, Fernanda. O Brasil frequentemente surpreende.

Obrigado, Carla. Que assim seja!

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