PRATICANDO A ARTE DO DESAPEGO
>> Clara Braga

Se tem algo que eu estou acostumada a fazer, é escrever. Não digo só crônicas, mas e-mails, trabalhos de faculdade, lembretes etc. Cada texto que eu escrevo, trato como uma obra de arte, afinal escrever é, sim, uma arte. E eu concordo com a filosofia de que meu texto só existe a partir do momento que alguém lê. Ninguém tira de si algo e coloca em um papel se não for para alguém ler, nem que seja eu mesma lendo os lembretes na minha agenda, mas para eles existirem alguém precisa ler.

Exatamente por pensar assim, sempre escolhi muito bem as palavras e assuntos sobre os quais iria escrever, nunca tive necessidade de usar um vocabulário rebuscado ou escrever de forma parnasiana nem nada do tipo, pelo contrário, busco sempre a simplicidade, porque no final das contas o que eu quero mesmo é ser entendida. Quero compartilhar minhas experiências e mostrar a minha forma de ver o mundo. E quanto mais pessoal o texto, mais clara eu procuro ser. Por isso meus textos são cheios de "não me entendam mal", "não achem que com isso eu quero dizer...", "não estou aqui criticando...", tudo isso vem dessa minha preocupação em ser entendida.

Porém, recentemente, entendi algo que foi muito importante pra mim nessa minha relação com meus textos. Em uma aula da faculdade de artes plásticas, um colega meu disse à professora que não entendia o porquê, mas sempre que acabava uma obra ele não conseguia mais olhar para sua obra da mesma forma, nem tinha os mesmos sentimentos em relação a ela, e então a professora respondeu que isso acontecia porque a partir do momento que a obra está pronta ela não é mais sua.

É exatamente isso que acontece, não importa o quanto eu escolha as palavras que vou usar ou a forma como vou tratar de um assunto, cada pessoa vai entender meu texto diferente, vai entender a partir da sua própria vivência e experiência, e é isso que faz com que elas gostem ou não dos meus textos. Cada uma vai ler, interpretar e criar um novo texto, que é o texto que ela entendeu.

Foi só eu entender isso e já consegui me desapegar mais das coisas que escrevo. Não achem que vou parar de escrever de forma simples ou até mesmo parar com essa minhas mania de explicar as coisas, me desapegar significa apenas que agora eu quero mais é que vocês usem e abusem dos meus textos.

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