EU NÃO SEI FALAR DE AMOR >> Carla Dias >>
O título desta crônica eu emprestei da música do meu amigo Kléber Albuquerque. Não sei por que, essa frase, essa constatação, ficou pipocando na minha cabeça, nos últimos dias. Obviamente, escutei o CD no qual tem essa música, ainda ontem. Porém a sensação vem de antes, de um eco.
Amor é o tipo de palavra que me deixa à mercê dos enganos. Se durante a minha existência, até este ponto-agora, falar é um perigo ao tentar me fazer compreender, imagine só falar de amor! Não nasci para oradora, jamais serei atriz, de jeito maneira conseguirei falar aos que aguardam ansiosos pelo dizer o amor.
Woody Allen decretou: todos dizem eu te amo. Acho que ele se esqueceu de me incluir nesse balaio, ou simplesmente ficou indiferente ao meu não saber falar de amor.
Porque eu não sei mesmo...
Certo dia, minha mãe me colocou de cara com a tevê, apertou play e me mostrou um vídeo institucional de uma cadeia de supermercados. Comemorando o Dia das Mães, o tal filme mostrava um filho que não disse eu te amo para a mãe dele e ela morreu. Assisti aquilo com o coração na mão... Todos dizem eu te amo, meu colega Woody? Mas quem disse que tem de ser assim: EU TE AMO?
No final do filme, entreguei os pontos: eu te amo, mãe, mas as palavras saíram mancas. Eu demonstro meu amor à minha mãe todos os dias, não é o amor que é manco, é apenas o jeito de falar de amor... Eu não sei falar de amor, mas sei senti-lo, demonstrá-lo, ao invés de dizê-lo.
Mas as pessoas sentem falta de escutar...
Há quem fale de amor com uma simplicidade, como se toda complexidade que vem embutida nele não existisse. Como quando a minha sobrinha diz “eu te amo, tia”. Há uma honestidade no dito que não vem com peso, com dúvidas, com cobranças. É o dizer o amor da forma mais pura impossível. Falar de amor com ela, por exemplo, é fácil. É só desfiar verbos: cuidar, abraçar, aninhar, sorrir, brincar, cantar, ler... Ela adora que leiam para ela, apesar de ela mesma poder fazê-lo numa boa.
Falar de amor, eu sei, nem sempre se trata de se declarar. Porém, espantam-me, mas de um jeito elogioso, aqueles que sabem sobre ele falar sem qualquer acanhamento. Que assumem que o amor dito com tanta naturalidade que não há como não apreciá-lo, mesmo ele não sendo seu.
Falar de amor requer um traquejo que não tenho. É preciso a voz sair na temperatura certa, as palavras evocarem a intimidade do sentimento.
Eu não sei falar de amor, por isso escrevo sobre ele. Portanto, se eu me calar e empunhar uma folha de papel onde o amor está escrito, acredite, não é performance... É falar sobre o amor, mas em silêncio.
Comentários
é fácil falar de amor: decore seus próprios textos.
Acho que a mãe do filme morreu porque era a hora dela, simples assim, não é? Beijos
Albir... Obrigada : )
Mas devo confessar que acho que continuarei sem saber falar de amor, se isso depender de decorar os meus ou os textos de outros. Confesso: eu não sei decorar...
Marisa... Também acho que atitudes definem melhor o amor do que as palavras. Mas mesmo nos sentindo acanhadas, sem saber o que responder, todos nós precisamos da confissão, em algum momento, vindo de alguém que elegemos ser capaz de dizer sem nos torturar.
E penso como você... A mãe morreu porque era a hora dela : )
Bjs!
Ká... Obrigada pela confiança, que é uma declaração de amor não declarada, mas das mais bacanas. Bjs, minha irmã.