PARADAS E SÍMBOLOS NACIONAIS >> Albir José Inácio da Silva
Uma crônica por escrever, uma chuvinha absurda no novembro do Rio e uma rinite por causa da chuvinha são razões suficientes para resistir ao som dos trios elétricos que na Avenida Atlântica conclamam à participação politicamente correta.
Mas como a crônica não veio e a rinite é crônica, eu fui.
Claro que se há uma coisa que não falta numa passeata GLBT são as cores. Mas me chamou a atenção, às vésperas do aniversário da proclamação da república, o uso das cores e símbolos pátrios. Difícil não notar o verde e amarelo nas cabeças, nas tangas, nos biquínis. Ao contrário da minha geração, que desenvolveu verdadeira alergia pelas cores pátrias, hoje as pessoas usam verde e amarelo com a certeza de que enfeitam. Bandeiras nacionais embrulham corpos nus, canta-se o hino nacional a todo momento e todos, de todos os partidos, se sentem brasileiros.
Quando eu era jovem não se permitiam primeiro passeatas e segundo o uso da bandeira. Não se podia vestir e nem mesmo hastear sem formalidades o pavilhão. O hino igualmente não se podia cantar a não ser em solenidades oficiais por soldados perfilados, estudantes imóveis ou atletas carrancudos. A ditadura considerava desrespeito o uso dos símbolos por parte da população.
Por outro lado, ninguém usaria mesmo que eles permitissem ou até incentivassem. As pessoas desenvolveram verdadeira ojeriza pelas cores nacionais. Se por descuido se juntasse no traje o verde com o amarelo, alguém logo perguntava: “Você vai de bandeira hoje?”. Fora dos quartéis e da propaganda oficial, a vergonha impedia certas combinações.
Agora, bem na minha frente, um travesti vestido de presidente eleita, faixa presidencial, cabelos, unhas, roupas e saltos de bandeira brasileira, dá show em cima do trio elétrico. Fico pensando no que aconteceria com um travesti com faixa presidencial, vestido de Médici, no início dos anos setenta. Como, recolhido a um quartel, lhe fariam as unhas, os cabelos, massagem corporal e até alguns procedimentos médicos como endoscopia, cirurgia etc. Mengele baixaria em alguém que faria experimentos científicos no travesti como se ele fosse o ET de Varginha.
Felizmente os tempos são outros. Canta-se o hino nacional em todos os lugares, até com ritmo de samba, e sem traumas. Usam-se as cores da bandeira nos cabelos, no rosto, nas roupas, no corpo, e a pátria mãe gentil não se envergonha com isso. Não com isso.
Verdade que há os saudosistas e insatisfeitos, enxergando desrespeito onde se quer homenagem. Não precisamos ir longe. Durante a campanha eleitoral, um candidato a deputado usava camiseta estampada por foto do General Médici e os dizeres: “Eu era feliz e sabia”.
Mas eles não contam. Os brasileiros finalmente se reconciliaram com seus símbolos. Ufanismos a parte, parece que atingimos a maturidade de outros povos na utilização de nossas marcas. Não são proibidas nem envergonham ninguém.
Mas como a crônica não veio e a rinite é crônica, eu fui.
Claro que se há uma coisa que não falta numa passeata GLBT são as cores. Mas me chamou a atenção, às vésperas do aniversário da proclamação da república, o uso das cores e símbolos pátrios. Difícil não notar o verde e amarelo nas cabeças, nas tangas, nos biquínis. Ao contrário da minha geração, que desenvolveu verdadeira alergia pelas cores pátrias, hoje as pessoas usam verde e amarelo com a certeza de que enfeitam. Bandeiras nacionais embrulham corpos nus, canta-se o hino nacional a todo momento e todos, de todos os partidos, se sentem brasileiros.
Quando eu era jovem não se permitiam primeiro passeatas e segundo o uso da bandeira. Não se podia vestir e nem mesmo hastear sem formalidades o pavilhão. O hino igualmente não se podia cantar a não ser em solenidades oficiais por soldados perfilados, estudantes imóveis ou atletas carrancudos. A ditadura considerava desrespeito o uso dos símbolos por parte da população.
Por outro lado, ninguém usaria mesmo que eles permitissem ou até incentivassem. As pessoas desenvolveram verdadeira ojeriza pelas cores nacionais. Se por descuido se juntasse no traje o verde com o amarelo, alguém logo perguntava: “Você vai de bandeira hoje?”. Fora dos quartéis e da propaganda oficial, a vergonha impedia certas combinações.
Agora, bem na minha frente, um travesti vestido de presidente eleita, faixa presidencial, cabelos, unhas, roupas e saltos de bandeira brasileira, dá show em cima do trio elétrico. Fico pensando no que aconteceria com um travesti com faixa presidencial, vestido de Médici, no início dos anos setenta. Como, recolhido a um quartel, lhe fariam as unhas, os cabelos, massagem corporal e até alguns procedimentos médicos como endoscopia, cirurgia etc. Mengele baixaria em alguém que faria experimentos científicos no travesti como se ele fosse o ET de Varginha.
Felizmente os tempos são outros. Canta-se o hino nacional em todos os lugares, até com ritmo de samba, e sem traumas. Usam-se as cores da bandeira nos cabelos, no rosto, nas roupas, no corpo, e a pátria mãe gentil não se envergonha com isso. Não com isso.
Verdade que há os saudosistas e insatisfeitos, enxergando desrespeito onde se quer homenagem. Não precisamos ir longe. Durante a campanha eleitoral, um candidato a deputado usava camiseta estampada por foto do General Médici e os dizeres: “Eu era feliz e sabia”.
Mas eles não contam. Os brasileiros finalmente se reconciliaram com seus símbolos. Ufanismos a parte, parece que atingimos a maturidade de outros povos na utilização de nossas marcas. Não são proibidas nem envergonham ninguém.
Comentários
Saudades de te ler!
Aos poucos, vou voltando, espero que não voltem os costumes não-pátrios de antigamente...rs.
Confesso que gosto desse colorido pelas ruas, por mais que saiba que, muitos deles, nem o usam com o orgulho que eu sempre estampei, mesmo em outras cores, mas sempre em alto e bom som! :)
Que saudade!!!
Bom saber que você está de novo colorindo o Crônica do Dia.
Beijos.