PERDE-GANHA >> Eduardo Loureiro Jr.
aquela estrela nasce e se põe às 6 horas
quando é de manhã aquela estrela vai embora
tem uma maior e tem outra mais miudinha
tem uma acesa e outra mais apagadinha
seis horas da noite é que pega a aparecer
quando é de manhãzinha ela torna a se esconder
só de noite ela brilha em cima do firmamento
Sim, perdemos. E daí? Perder é coisa mais comum do que a gente gostaria de admitir.
Já perdemos útero de mãe, dente de leite, casca de ferida, fios de cabelo, noites de sono, dias de aula, ano de escola, espetáculos, guerras, quilos. Já perdemos a hora, a chave, a colheita, a cor, o amor, a virgindade, a criança, a fala, o gosto, a saúde, os direitos civis, a memória, a oportunidade, o senso, o trem, o ônibus, o avião. Já perdemos processo, dinheiro, guarda-chuva, amanhecer, pôr-do-sol. Já perdemos na bolsa de valores, em divagações, em conjecturas, no horizonte, na bruma. Já perdemos a nós mesmos, tantas vezes. E, mais que tudo, perdemos tempo, muito tempo, o tempo todo.
Agora perdemos uma Copa. Mais uma. Nos orgulhamos de sermos os únicos pentacampeões, mas esquecemos que somos dodecaperdedores: já perdemos a Copa do Mundo por catorze vezes.
Sim, perdemos, mas poderíamos ganhar. Sempre. Não deixando de perder, mas ganhando apesar da perda. Se torcemos apenas pelo Brasil, então perdemos, está perdido e pronto. Mas quantas coisas deixaríamos de ganhar se fosse só isso?
Por que não ganhar com os pênaltis perdidos e com o choro do ganense Gyan e do paraguaio Cardozo, que nos umedeceu também os olhos? Por que não ganhar com o milagre uruguaio, em cima da linha, e com o ataque espanhol que precisou de três bolas na trave antes do gol? Por que não ganhar com uma Holanda que aprendeu a ganhar até quando não joga melhor, depois de tanto dar espetáculo e ser eliminada? Por que não ganhar com o beijo de Maradona em cada um de seus jogadores na expectativa da vitória e no desespero da derrota? Por que não ganhar com o futebol bonito e vistoso da até então apenas burocrática e eficiente Alemanha? Por que não ganhar com essa reunião do mundo todo, presencialmente, na África do Sul e, à distância, acompanhando via satélite?
Um perde aqui, outro ali, mas podemos todos ganhar mais do que perdemos se pensarmos a nós mesmos com mais grandeza, com mais abrangência. Continuaremos perdendo copas, cabelos, dentes, anos, tempo. Bem que podíamos perder também a mania de pensar que estamos mesmo perdendo.
Comentários
Como sempre, amei!
Beijo.
Fábio, você tá que tá imperdível. :)
É, Albir, nossa seleção é campeã. Agora só falta sua crônica sobre a Copa, no dia seguinte à grande final, para encerrar o ciclo com gol de ouro. :)
Dilma, Dilma, Dilma! Há quanto tempo! Quanta saudade. Ainda bem que nos re-achamos. :)
Pois é, Fernanda, o que um Eduardo leva uma crônica inteira pra dizer, um Guilherme diz em dez palavras. :) Acho que tô escrevendo demais.
Lindo texto!!