ENVELHECER [Debora Bottcher]
Andei pensando sobre isso que é envelhecer.
Um fato, antes de qualquer coisa. Algo que não se pode mudar, estancar, retardar: envelhecemos e pronto. A questão, nesse momento, é quando envelhecemos.
Todos os dias nos olhamos no espelho. O rosto que se reflete no último olhar da noite, é o mesmo com o qual nos deparamos pela manhã - um pouco amassado, talvez com olheiras, quem sabe mal dormido, mas ainda assim, a mesma face.
Não se percebe, de um dia pra outro, uma linha de expressão nova, uma ruga diferente, um fio de cabelo esbranquiçado que até então não existia.
O processo, embora vagaroso, quando descoberto soa repentino: envelhecemos todos os anos acumulados entre o ocaso e a alvorada. É um segundo e você se vê com outra casca: ficou pra trás o viço da pele, o brilho acentuado dos olhos, o rubro dos lábios. De repente, tudo é palidez - e saudade... Outro você o olha através da imagem...
Esse é o jeito mais simples de caminhar entre as eras - e, você sabe, envelhecer é a única maneira de não morrer jovem.
Mas eu me lembro de duas ocasiões em que pareci envelhecer dez anos em algumas horas: foi o susto e a dor do que eu chamo de tragédias sem sentido. Isso hoje me somaria vinte a mais nos meus quarenta e dois.
Acontece que só enruguei por dentro. E se hoje vou cumprindo o ritual do tempo, na sua cadência impossível de apressar ou atrasar, minha alma vai percorrendo o caminho inverso: quer ser criança - pura luz! -, enquanto o corpo anoitece...
Um fato, antes de qualquer coisa. Algo que não se pode mudar, estancar, retardar: envelhecemos e pronto. A questão, nesse momento, é quando envelhecemos.
Todos os dias nos olhamos no espelho. O rosto que se reflete no último olhar da noite, é o mesmo com o qual nos deparamos pela manhã - um pouco amassado, talvez com olheiras, quem sabe mal dormido, mas ainda assim, a mesma face.
Não se percebe, de um dia pra outro, uma linha de expressão nova, uma ruga diferente, um fio de cabelo esbranquiçado que até então não existia.
O processo, embora vagaroso, quando descoberto soa repentino: envelhecemos todos os anos acumulados entre o ocaso e a alvorada. É um segundo e você se vê com outra casca: ficou pra trás o viço da pele, o brilho acentuado dos olhos, o rubro dos lábios. De repente, tudo é palidez - e saudade... Outro você o olha através da imagem...
Esse é o jeito mais simples de caminhar entre as eras - e, você sabe, envelhecer é a única maneira de não morrer jovem.
Mas eu me lembro de duas ocasiões em que pareci envelhecer dez anos em algumas horas: foi o susto e a dor do que eu chamo de tragédias sem sentido. Isso hoje me somaria vinte a mais nos meus quarenta e dois.
Acontece que só enruguei por dentro. E se hoje vou cumprindo o ritual do tempo, na sua cadência impossível de apressar ou atrasar, minha alma vai percorrendo o caminho inverso: quer ser criança - pura luz! -, enquanto o corpo anoitece...
Comentários
Muito bonito e verdadeiro.
Obrigada pela leitura e pelo carinho, sempre. Envelhecer é um processo que a gente tem que aceitar - é uma das coisas para as quais não se tem alternativa. Além do que, idade é uma questão de espirito: às vezes, a gente envelhece muito tempo num segundo, para em outras, voltar no tempo e dar de cara com uma alma adolescente, até infantil. De vez em quando, a gente tem a impressão que o tempo nem existe...
Beijo pra vcs.