O ANO EM QUE SOU FELIZ >> Eduardo Loureiro Jr.

Matthias Kulka / corbis.com
Você já tentou puxar um ano pela memória? Não é fácil. O tempo de agora não olha para o tempo passado como se olha para um calendário organizado dia após dia.

O que lhe aconteceu no dia 13 de fevereiro? Ou em 21 de maio? Que tal 5 de setembro? Nesse mesmo dia 30 de um mês atrás, novembro, o que lhe aconteceu?

Eu não me lembro o que aconteceu comigo em qualquer uma dessas datas, mas meu programa de e-mail lembra.

13 de fevereiro. Indiquei para a minha família um site de cálculos de todos os tipos (financeiros, trabalhistas, horários, imobiliários). Conversava com meu caro amigo Fabiano sobre a fundação de uma ONG. Solicitei inscrição numa lista de audiovisual. Parabenizei meu primo Guto enviando pra ele uma imagem de Ekeko, uma divindade boliviana da prosperidade. Conversava com minha querida amiga Inês, uma de minhas correspondentes mais constantes nesse ano, sobre possíveis mudanças de cidade que faríamos.

21 de maio. Eu e minhas irmãs conversávamos sobre o presente que daríamos a minha mãe, que aniversariaria sete meses depois. Enviei para meu mestre amigo Antônio de Pádua um início de melodia para uma idéia de letra que ele tinha.

5 de setembro. Eu tentava encontrar um designer gráfico que fizesse as ilustrações do meu site de Astrodramaturgia. Escrevi para uma desconhecida, Kristina, astróloga e moradora de Redonda — a praia que inspirou meus dois primeiros livros infantis. Pedi a Manon, uma amiga canadense morando na Austrália, que reenviasse uma imagem que eu não tinha conseguido abrir. Explicava para meu amigo Manu como acessar os textos antigos do Crônica do Dia, que estava de cara e estrutura novas. Conversava com Inês sobre "O Segredo". Trocava impressões com minha amiga e talentosa escritora Carla Dias sobre a retomada do Crônica do Dia. Conversava com minha amiga Patrícia sobre pathwork e estar me permitindo novas experiências amorosas. Brincava com Felipe, meu mais assíduo correspondente virtual, sobre um problema no computador dele. Retomava o contato com minha amiga Alemilda. Conversava com minha querida amiga Nininha sobre uma de minhas crônicas. Avisava a família sobre uma nova promoção da GOL: trecho de volta por 10 reais.

30 de novembro. Acertava com a "comissão organizadora" do aniversário de 60 anos de minha mãe os detalhes sobre o convite, e relembrávamos histórias curiosas sobre a vida dela. Questionei minha amiga Gisneide sobre umas previsões amorosas que ela estava fazendo pra mim. Trocava apresentações PPS com Nininha. Dava pitacos no rascunho de uma crônica do Felipe. Tentava reanimar minha querida Cris após um dia particularmente cheio. Terminava de corrigir a tradução para o inglês de uma de minhas crônicas feita por Manon.

Essa microlista parece confirmar a suspeita de Platão sobre a escrita e a memória humana: segundo ele, a escrita tornaria os homens esquecidos. Registrar eventos e conversas é uma forma de perpetuar acontecimentos, mas não diz muito sobre o sentido da vida. Que ano foi esse pra você e pra mim?

2007 foi o ano em que fiz coisas impublicáveis — perdoe-me desde já o leitor curioso. Foi o ano em que saí pela primeira vez do Brasil. O ano mais musical, em que mais compus canções. O ano mais sexual, de fala e de fato. O ano mais espiritual, compassivo. O ano em que sistematizei a Astrodramaturgia. O ano em que... Mas isso, também, o que diz?

O ano que está terminando de passar foi, para mim, o ano de ouvir o coração e não julgar. Ouvir meu coração e não me julgar. Ouvir o coração do outro e não julgá-lo. Como é leve o mundo e a vida quando reduzimos o julgamento.

2007 não foi apenas o melhor ano da minha vida — até agora —, mas também o ano em que descobri que cada próximo ano será melhor ainda, não importa o que aconteça.

Um ano assim só pode terminar, da minha parte, com um profundo sentimento de gratidão. Ao tempo, esse "senhor tão bonito", esse "mano velho", que tanto tem me ensinado. E a todas as pessoas, a você, que esteve perto de mim durante esse ano. Ver, ouvir, ler, tocar, beijar, abraçar, cheirar... você foi o meu principal prazer durante 2007. E fique por perto em 2008, porque o melhor está apenas começando.

Comentários

Anônimo disse…
Muito interessante seu texto. Estou tentando puxar o ano de 2007 pela memória.Gostei do final da crônica qdo vc deixa seu coração a amostra transbordando de amor e felicidade. Mesmo sabendo que vc começou muito bem o 2008, vale desejar ainda mais e mais amor, alegria e felicidade, assim vc terá maiores inspirações para continuar escrevendo seus surpreendentes textos.
Anônimo disse…
Linda, profunda, enraizada na vida como tudo o que você escreve.

Você também foi um dos meus correspondentes mais constantes e sua amizade me engrandeceu muito, me ensinou a ser mais bondosa, a aceitar melhor as surpresas do cotidiano que transtornam meus planos e dão novo rumo ao meu dia e, às vezes, a minha vida.

A propósito, não considere muito o e-mail mal escrito que lhe enviei hoje. Eu estava no meu momento "bruxa"...

Beijo de amiga que lhe quer bem
Anônimo disse…
Escuta do coração, leveza, gratidão, aprendizado com o tempo, pessoas por perto. Aproveitar de tudo isso só pode mesmo dar certeza de dias sempre melhores. Pra nós, a boa esperança pelas crônicas que virão por mais este ano.
Abraço.

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