BRASIL, MOSTRA A TUA CARA! << Carla Dias >>

Fui a um show no último domingo no SESC Pinheiros, aqui em São Paulo, que fazia parte do projeto Mais Arte, Menos AIDS, uma parceria entre o SESC e a Agência de Notícias da AIDS. Este mesmo show foi apresentado no sábado, marcando o dia internacional de luta contra a AIDS.

Dois compositores deixaram o repertório autoral de lado para participarem do Cazuza In Concert, com o show Mentiras Sinceras, no qual as canções deste também compositor, que revolucionou o cenário musical brasileiro, apesar da sua morte prematura, foram apresentadas com peculiares arranjos, destacando ainda mais a força das suas obras.



Falar sobre AIDS e chegar ao Cazuza acontece com freqüência. Um ícone da música que contraiu a doença, mas não se permitiu vitimar por ela; alguém que sempre assumiu suas opiniões e escolhas, assim como a crueza e a poesia das suas canções.

Quando cantou Brasil, mostra a tua cara!, pedindo satisfações ao país, melhor, aos que alimentavam as mazelas pelas quais passava o país, certamente Cazuza não sabia que, futuramente, também serviria este clamor para apontar o trabalho de outros artistas; aqueles que, com originalidade, dedicação e muita paciência, vêm mostrando a cara ao Brasil.

Foi essa a idéia que passou pela minha cabeça, enquanto Kléber Albuquerque (voz, violão e tecladinho de brinquedo) e Luiz Gayotto (voz, violão e percussão), acompanhados por Estevan Sinkovitz (violão e guitarra), apresentavam uma versão da canção Brasil como eu nunca ouvira antes. Não com “nova roupagem”, tirando um quê daqui e colocando acolá, mas com vestimentas próprias. Se o pedido é para que o Brasil mostre a cara, torço para que seja essa uma das suas faces.

Kléber Albuquerque e Luiz Gayotto souberam se aproveitar, no sentido mais inspirado e bacana, das obras de Cazuza. Mostraram que a poesia é forte, que arranjos peculiares só acentuavam a beleza das melodias e a sapiência das palavras. E foram além: era possível reconhecer Cazuza, relembrá-lo, celebrá-lo, mas também conseguíamos participar dos universos particulares destes artistas, como se os três tivessem se encontrado para bater um longo papo, antes da apresentação.






Eu cresci ouvindo as músicas de Cazuza e o que mais me encantava era o que ele tinha a dizer. Luiz Gayotto, durante a apresentação, falou sobre como ao ler as letras de Cazuza era possível descobrir verdadeiras pérolas. Então, ele leu a letra de Ritual: Pra que sonhar / A vida é tão desconhecida e mágica / Que dorme às vezes do teu lado / Calada / Calada / Pra que buscar o paraíso / Se até o poeta fecha o livro / Sente o perfume de uma flor no lixo / E fuxica / Fuxica / Tantas histórias de um grande amor perdido / Terras perdidas, precipícios / Faz sacrifícios, imola mil virgens / Uma por uma, milhares de dias / Ao mesmo Deus que ensina a prazo / Ao mais esperto e ao mais otário / O amor na prática é sempre ao contrário / O amor na prática é sempre ao contrário / Ah, pra que chorar / A vida é bela e cruel, despida / Tão desprevenida e exata / Que um dia acaba.





Se vocês quiserem conhecer uma das caras do Brasil, sugiro que confiram o trabalho desses artistas. Eles foram ótimos ao levarem ao palco as músicas de Cazuza, mas também têm muito a acrescentar à música popular brasileira, através de suas próprias obras:


www.kleberalbuquerque.com.br

www.luizgayotto.com.br


Aproveitem para conferir o site da Agência de Notícias da AIDS:

www.agenciaaids.com.br

Imagem 1 >> Flávio Colker
Imagem 2 >> Flyer eletrônico do show Mentiras Sinceras, foto: Drika Bourquim.
http://www.dbproducoes.com.br
Imagens 3, 4 e 5 do show>> Fernanda Serra Azul
http://flickr.com/photos/serrazul

Comentários

Legal você ter trazido o show até nós. E quando sairá sua primeira video-crônica? :)

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