PEDRA >> Sergio Geia



Se você chegou aos cinquenta, dispenso-me de maiores explicações. Se não chegou, sugiro que se contente em saber apenas isso: com a idade, as dores, sim, elas aparecem.

Dia desses senti algo estranho na boca do estômago com irradiação pelas costas. Considerei perigoso o sintoma. Não era. Mas procurei médico, fiz exames, e obtive o diagnóstico de que o meu mal se resumia a uma pequenina pedra. 

O mais interessante não foi o diagnóstico, mas a simpatia do médico. Como você deve saber, há médicos calados, de mal com a vida, que na hora do exame fazem perguntas tão misteriosas, que nos deixam tão aflitos, que o melhor a fazer é se calar e aguardar o resultado. 

Depois de se inteirar sobre as razões que me levaram ao exame; depois de passear com seu ratinho gelado e melequento na minha barriga; depois de demarcar as imagens do que existe dentro desta casca meia-vida, ele concluiu o exame e me despachou o resultado sem maiores delongas: 

— Um pequeno cálculo no rim esquerdo, pequenininho, nada mais que meio centímetro. Basta tomar água. Bastante água. Ele sai. 

Cá entre nós, já tenho experiências sobre esse negócio de cálculo. Certa vez, quando meu corpo expeliu areinhas que me queimaram o canal na saída, fui parar no pronto-socorro, tamanha a dor. Então não era nada. Uma pedrinha, do tamanho de uma semente de mamão. 

Considerando a sua disponibilidade em conversar, indaguei: 

— Não há o que se possa fazer para eliminar essa pequena pedra? Um remédio, por exemplo? Certa vez, areias me custaram uma visita ao pronto-socorro. Imagina uma pedra, ainda que pequenininha. 

A resposta me surpreendeu: 

— Seria interessante o senhor procurar um especialista. Essa pedrinha sai pelo canal da urina. Pode ficar presa no canal. Mas resolve-se facilmente com uma simples intervenção. 

Achei melhor não perguntar mais nada. 

Outro dia, contando a história a um amigo, ele me receitou: 

— Chá de semente de quiabo. No meu caso resolveu. 

E completou: 

— É ruim de danar. 

Comparei o que tinha em mãos. 

Não foi difícil resolver, embora não seja um grande amante dos chás. 


Ilustração: Os Quebradores de Pedra   Gustave Courbet

Comentários

Zoraya Cesar disse…
hahahaa, Sergio, o seu médico do ratinho melequento é mto tranquilo mesmo. uma semente de mamão é grande! que Deus te guarde e o Quiabo te livre dessa!
sergio geia disse…
Nem me fale kkkkkkkk. Beijos, querida!

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