ELE CHEGARÁ >> Whisner Fraga

o medo atocaia meus passos, que pretendem a fuga. os postes na rua balbuciam uma claridade que nada ilumina. o medo é uma vasta sombra a abraçar tudo. eles não aceitam a existência do medo, mas a pontaria falha e trancam as portas. os dedos sapateiam ferozmente sobre a tela do celular propagando o medo: eles acreditam em mentiras e me acusam de não pactuar com a traição. o medo entra, liga a tv, senta no sofá e pede uma cerveja. uns passaram a acusar outros e ninguém tem razão: um dia todos acusarão o medo no outro e tentarão resolver isso a tiros. eles não sabem mais o que é mentira, mas sabem o preço das coisas, e o medo é mercadoria também. tenho medo que me enganem e me convençam que a desordem prevalecerá. tenho medo que me arranquem o medo e o substituam por uma arma. tenho medo desse novo diálogo. tenho medo que, em nome da justiça, implorem a mediação da bala. tenho medo. e isso é bom.

Comentários

Zoraya Cesar disse…
Nao sei que sincronicidade foi essa entre os cronistas Sergio, Carla, Paulo e vc que todos os finais, todas as últimas frases dos textos foram incrivelmente 'lacradoras'.
Agora, fora o final (que final!), que texto, hein, Whisner? Uau.
Albir disse…
O medo está na ordem do dia.

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