NATAL, PANETONE, HOT WHEELS E SABONETE >> Mariana Scherma


Natal não é dos meus feriados preferidos, nem de longe. Sou meio do contra, um pouco Grinch e considero ser muito mais romântico e agradável um domingo chuvoso, preguiçoso, meio sem ter o que fazer, meio sem ter que confraternizar. Natal é o feriado da gulodice, dos presentes pra quem você, por várias vezes, falou ou pensou mal durante o ano, mas aí dá uma caixa de sabonete e beleza, sua barra está limpa. Ou você pensa que está.

Natal é o dia de fazer velhinhos barbudos sofrerem embaixo daquela roupa quente que é o caramba. Aliás, cada dia mais eu tenho dó do bom velhinho. Você já reparou que os enfeites com o Papai Noel estão cada vez mais perigosos? Toda vez que me deparo com um Noel pendurado em uma janela de um andar bem alto do prédio (mesmo sendo um brinquedo) fico com vontade de ligar para os bombeiros. O velho não tem mais idade (nem porte físico, nem dons de Homem-Aranha, veja bem...) para essas estripulias, coitado.

Não acredito que as pessoas são quem realmente são no Natal. Elas fingem. Fingem uma simpatia que não têm, uma alegria disfarçada de excesso de álcool, uma bondade que beira o irreal pra ganhar seu Hot Wheels novo. Natal é uma grande festa à fantasia com ares de realidade. Ok, ok, nem todo mundo encara um Natal assim, fantasiado de sua melhor versão, mas uma boa maioria veste a carapuça.

Meus pais nunca me ensinaram que você-precisa-ser-boazinha-pra-ganhar-presente-no-dia-25. Eles só me ensinaram que você precisa ser honesta porque é o melhor caminho. E pronto. Eu fico pensando no tanto de criança sendo educada só pra constar na lista do seu Noel no fim do ano. Eu não tenho filhos, mas acho esse tipo de educação bem errado. Se tivesse pequenos, eu os ensinaria que ser bonzinho é a melhor forma de dormir gostoso, de ter sonos leves, coisa e tal. Diria que ser honesto vai ajudar o universo ser honesto com você – pensando que, no fim, tudo dá voltas. Jamais mandaria minha filhota ser gente boa porque, senão, Papai Noel vai esquecer seu brinquedo do filme Frozen. Alô, mundo!


Então, já que é Natal, vamos dar sorrisos sinceros e presentes que nosso coração nos peça para dar, não nossa consciência mais pesada que o peru da ceia. Vamos nos fartar de bons sentimentos, não de pavê. Vamos nos lembrar de fazer o bem no dia 26, 27, em janeiro, em fevereiro e assim vai, não apenas nos dias 24 e 25 de dezembro. Ah, só pra não parecer que sou totalmente anti-Natal, gostaria de deixar claro que escrevo esta última coluna de 2014 com os dedos sujos de panetone. 

Comentários

Pamela Kiill disse…
Concordo com você, prefiro mil vezes um dia chuvoso, debaixo do cobertor, assistindo aquele filminho com meu marido, do que comemorar o "dia da falsidade livre". Me desculpe, mas "hoje" é assim que eu vejo o Natal. Ninguém está preocupado com o "nascimento de Cristo", as pessoas só querem o presente e fingir que está tudo beleza. Eu te amo, você me ama e pronto. Aí chega o dia 26 e volta tudo de novo, Joana não presta, Maria engordou e é chata, o Cláudio é esnobe e por aí vai...
Renata Kelly de Alcantara. disse…
Adorei a realidade de todos os natais, são poucos os realistas. Um feliz "DESNATAL". KKKKKK

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