OS EX-AMIGOS >> Mariana Scherma
Porque
as pessoas mudam, porque o mundo dá voltas numa quantidade suficiente pra
deixar a gente com tontura e porque sentimentos não são estáticos. É por isso
que eu acredito que as amizades não são eternas. Se nem casamento, com juras
perante a padres e juízes de paz, é forever and ever, que dirá as amizades, que,
se possuem algum tipo de juramento, muitas vezes acaba sendo feito após vários
copos de cerveja em um boteco ou de whisky e energético em uma festa open bar.
Tem
quem culpe a distância por tornar grandes amigos ilustres desconhecidos. Não
concordo. Acho que a distância apenas potencializa o que há de acontecer nas
amizades. Se é uma amizade que vai durar, ela dura mesmo com quilômetros e
oceanos entre duas pessoas. Agora, se a relação já está capengando e vem uma
estrada (enorme ou não) no meio do caminho, ih, pode esquecer. Tenho amigos que
moram distante e toda vez que nos vemos é como se tivéssemos nos encontrado no
dia anterior. Muito assunto, as piadas internas seguem firmes e fortes, a gente
continua se entendendo em um levantar de sobrancelhas. O problema é quando
grandes amigos do passado se encontram e perdem a sintonia...
É triste, mas é a vida. E eu juro que não sei
como agir. Veja bem, sou dessas que leva a vida sem ostentação. Não preciso
ficar medindo minha felicidade em promoções de trabalho, salário de namorado
nem closet cheio. Minha felicidade é medida por sorrisos, viagens, livros
lidos, saúde, carinho, ar puro e o conforto de chegar a pé no trabalho, sem
trânsito e sem buzinaço. De repente, me pego tentando entender o que aconteceu
entre mim e essa pessoa que precisa medir tudo em salários e roupas de grife.
Sabe quando alguém deprime você e a faz questionar: “fui eu ou foi ela quem
mudou assim?”. Na verdade, eu sempre fui assim e ela, desse jeito. O problema é
que, quando convivíamos, a gente passava por cima das diferenças. Com a
distância, o tempo e os amigos novos que surgiram, essas diferenças se tornaram
colossais (pelo menos pra mim) e perdeu completamente o sentido insistir numa
amizade que não é mais amizade.
O
que se faz nesse momento? Se fosse em períodos sem redes sociais e a gente só
se falasse por telefone, essa amizade já entraria na lista do: “o que será que
aconteceu com o fulano mesmo?”, “nossa, verdade! Éramos tão amigos...”. Mas em
tempos de Facebook, Instagram, WhatsApp e cia., essa amizade fica agonizando
eternamente. Pode parecer cruel da minha parte, mas não consigo insistir numa
relação que não acrescenta nada (ou acrescenta só depressão). Todo mundo fala
dos fins de namoro, casamento e noivado, mas os fins de amizade são igualmente
tristes, ainda mais quando parece ser só você que vê o pôr do sol da relação. A
vida acontece e chacoalha as pessoas, reorganiza o coração, as prioridades e as
afinidades, alguns percebem de cara, outros, não. Pra quem acha difícil dizer
“não amo mais você”, experimenta tentar falar “não sinto mais amizade nenhuma”.
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