EI, VOCÊ NÃO É SHELDON COOPER! >> André Ferrer
Revi alguns episódios
de The Big Bang Theory (TBBT). Voltei
à primeira temporada e consegui tirar uma teima.
Sheldon
apresenta, sim, algumas características da Síndrome de Asperger. Isto é inegável. Trata-se, no entanto, de uma sitcom e Sheldon é plano tanto quanto é possível a
um personagem ser plano nesse gênero de entretenimento. Até mesmo o Charlie (Sheen) Harper de Two and a half men (Dois homens e meio)
apresenta algumas curvas no seu design
psicológico.
Para quem não lembra ou
não sabe, personagens de narrativas podem ser classificados como planos ou
esféricos de acordo com a sua complexidade. Em geral, os personagens dos
grandes romances são esféricos, o que dificilmente acontece nas novelas e nas
séries de TV.
A Síndrome de Asperger é um problema que traz muito
sofrimento às pessoas desde a infância. Encontrei comunidades na web onde fãs de TBBT se dizem “aspies” enquanto comentam as peripécias
do Sheldon e sua turma! Um absurdo
motivado por modismo e ignorância. Insisto, portanto, neste conselho para quem
acha o Sheldon o máximo: leia um
artigo ou assista a um vídeo sobre os aspies.
Aprender com os problemas de quem realmente tem problemas conduz à reflexão.
Muita gente amadurece e abandona o papel adolescente de “poser” (imitador inconsequente) queixoso.
Como eu ia dizendo, procurei
um site para fazer o download da primeira
temporada da série. Queria me certificar de que Sheldon era mais caricato e dramaticamente pobre do que Charlie Harper, o compositor beberrão,
mulherengo e chauvinista que hospeda o irmão e o sobrinho em Malibu. Revi, cuidadosamente, o início
de TBBT e, para ser exato, empreguei uma amostra de três episódios. Descobri,
então, que já era o bastante.
Eu não encontrei
nenhuma profundidade em Sheldon e,
novamente, perguntei a mim mesmo: o que, afinal de contas, justificaria tanta
badalação ao redor de TBBT?! Por que tantos jovens se autoproclamam fãs número um de
um sujeito como aquele? Ora, uma pessoa como Sheldon, no mundo real, faria e seria tudo o que qualquer jovem simplesmente
não desejaria fazer e ser nem por duas horas nas suas vidas sensacionais, ou
seja, estudar muito (sim, até os gênios precisam estudar!) e ter um comportamento
esquisito. Agora, eu pergunto: alguém seria assim por escolha? Claro que não.
Para os jovens fãs e
imitadores (que, aliás, ficam ainda mais planos que o original), Sheldon é como aqueles aparelhos
vibradores que prometem “exercício físico e perda de calorias sem o menor esforço”.
Sintam-se geniais! Basta fazer de conta que é o Sheldon sem ser um equivalente real do Sheldon porque, agora, existe a modinha de ser nerd sem ser nerd. Porque
simplesmente capitalizaram em cima da rica e profunda figura do pária (excluído).
Como se a existência do nerd tivesse
alguma coisa a ver com popularidade e “espírito descolado”.
Um pedido: respeite
quem não tem escolha. Não imite nem se divirta com caricaturas de gente que só
pode ser como é.
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