MELANCOLIA >> Clara Braga

Eu adoro assistir filmes. Pode ser em casa no DVD mesmo, mas melhor ainda é se for no cinema. Tão bom ir ao cinema, comer pipoca (não tem pipoca igual à pipoca de cinema), ir com a galera, ir com o namorado, tanto faz. Só não gosto de ir sozinha, preciso de alguém com quem comentar o filme, mesmo quando já estou assistindo pela segunda vez. Afinal, filme é assim, sempre que a gente assiste mais de uma vez tem grandes chances de descobrir coisas novas.

Aqui em Brasília está tendo uma mostra de filmes que não entraram no circuito comercial. O primeiro filme exibido foi o tal do Melancolia, do Lars Von Trier. Todo mundo estava falando tanto desse filme que acabei ficando curiosa. Só tinha visto outros dois filmes do diretor, um que não gostei muito e nem lembro direito da história, e outro que eu adorei. Essa era a hora do desempate. E o melhor de tudo, a mostra é de graça. Convenhamos, ir ao cinema está cada vez mais caro.

Levei comigo logo três pessoas que era pra ter bastante gente com quem comentar depois, afinal, sem querer criar rótulos nem nada, mas já criando, se o filme não entrou em circuito comercial e é do Lars Von Trier, a probabilidade de eu não entender de primeira era muito grande. E agora que eu já assisti ao filme, a probabilidade de eu ver de novo pra entender melhor é bem pequena.

Não é porque o filme é ruim, na verdade eu até agora não consegui decidir se gostei ou não, se é que isso é possível, mas o filme trata da melancolia de uma forma tão diferente e te passa sensações tão reais que eu, pela primeira vez, passei mal dentro do cinema. Mal de verdade, de ficar enjoada. Filme que me fez chorar tem um monte, mas me sentir mal, esse foi o primeiro.

A fotografia é lindíssima, os efeitos maravilhosos, as cenas são de deixar qualquer um de boca aberta, mas desde o início, pelas imagens lentíssimas que são mostradas e você quase não define se são fotografias animadas ou vídeos rodados extremamente lentos, já dá pra captar a mensagem de que o filme vai ser cansativo e que se você não tiver paciência vai acabar dormindo.

Eu não dormi, mas achei que podia ser mais curto. O que me preocupa é que a única conclusão a qual eu consigo chegar é essa de que poderia ser mais curto. Mesmo depois de discutir sobre o filme com quem viu comigo, depois de ler críticas e pensar sobre, eu ainda não consigo dizer se gostei ou não gostei. Tem coisas boas, mas tem coisas chatas que não me agradaram muito. É por isso, leitor, que se você não viu o filme, assista, e se você já viu, me dá uma ajuda, porque até agora não sei se entendi.

Comentários

Clara, estava até pensando em ver esse filme... Depois da sua crônica, pensei em desistir. Mas o trailer me pareceu interessante, então talvez eu dê uma chance ao filme quando ele chegar em DVD.
Clara, Eu vi o filme e entendi, mas também achei cansativo. É só sobre o fim do mundo que, nessa ficção, se dará através do 'encontro' do planeta Melancholia com a Terra. A primeira parte, traz a melancolia, propriamente dita, quase como uma doença da personagem de Kirsten Dunst. O resto, é como a família toda lidará com isso - o fim do mundo. Não tem muito que entender, só sentir - o que vc fez muito bem. Eu também fiquei muito cansada, quase triste... O que se vê na tela contagia. :) Beijo.
Carla Dias disse…
Clara, sou obrigada a dizer que adoro a lerdeza fotográfica dos filmes do Lars Von Trier :)
Mas entendo o que você disse. Não assisti ao Melancolia e vou, porque gosto do diretor, mas me senti como você ao assistir o Anticristo, um filme difícil de digerir, mas que nos últimos segundos nos faz entender por que a coisa é tão complicada, obscenamente violenta. O Anticristo é um filme que, como você com o Melancolia, não sei se gostei. Às vezes gosto, depois nem tanto...
Pobre vida rica

Um homem recebeu por herança uma enorme fortuna e passou a viver no luxo, uma vida que ele nunca havia experimentado nem em seus sonhos mais ousados.
O homem morava só, não tinha ninguém para usufruir de todo aquele luxo junto com ele, além disso, ele não conseguia se adaptar com tanta mordomia, afinal sempre teve uma vida simples e sem muito conforto e essa nova vida estava incomodando a ele.
Pois bem, num certo dia ele resolveu voltar a sua vidinha simples de catador de latinhas e papelões, andar pelas ruas sem se preocupar em administrar tanto dinheiro.
Resolveu que iria doar tudo para as obras sociais da igreja do bairro, afinal ele ainda era bem jovem e não precisava do dinheiro para ser um homem feliz e realizado.
Assim ele fez, procurou a igreja e doou tudo que havia herdado, não ficou com nada. Quiseram prestar uma grande homenagem ao homem de coração generoso, porém com toda sua humildade o bondoso cidadão recusou tal homenagem, pois se estava abrindo mão das pompas do luxo, é porque não queria nenhuma glória para si.
O tempo passou, a igreja cresceu com muito luxo, suas obras sociais foram realizadas e melhorou a vida de muitos, a partir do ato generoso de um anjo quase anônimo, pois poucas pessoas envolvidas com os trabalhos conheceram o doador.
O homem nunca mais foi visto e ninguém o procurou, mas sempre era lembrado nas celebrações mesmo que não soubesse qual era seu verdadeiro nome.
Depois de muitos anos a generosidade daquele homem ainda era lembrada, mas as pessoas que testemunharam esta ação já não estavam mais naquela igreja, novos membros vieram, a vida continuou andando normalmente naquele bairro.
Um dia e muito tempo depois já não conseguindo mais juntar latinhas, vender papelões, o homem já estava velho e com a saúde debilitada, estava vivendo na dependência da caridade alheia, poucas pessoas o ajudava, o pobre homem já não tinha forças e se lembrou de pedir ajuda na igreja onde ele havia sido tão generoso.
Se arrastando e tentando vencer sua fraqueza, procuro um dos membros atuais e pediu ajuda. Para sua surpresa a igreja não o acolheu, deram como resposta que a casa de repouso mantida pela igreja já estava com lotação máximo e não tinha lugar para mais ninguém. Porém um dos fiéis o reconheceu, era um velhinho e contou que não podiam dizer não aquele homem, pois ele era o responsável pela beleza e crescimento do templo. Deram risadas do velhinho, zombaram do catador de papelão, diziam que era insanidade creditar uma obra faraônica a um pobre mendigo.
O velinho se juntou ao moribundo e deixaram o lugar sem dar nenhuma palavra e nunca mais foram vistos naquela igreja tão freqüentada pelas pessoas ricas do bairro!

Autor: J. Venuto
byClaudioCHS disse…
Tratado sobre o suicídio

Decididamente: eu não admiro os enforcados.
Estar ali, pendurado
instalação surreal
arte macabra, inusitada
lentos movimentos
cronometrando o tempo
emulando pêndulos
que não estimulam o gênio
de Galileus ou Galileis.
Afora o trabalho que dá
muitos elementos a considerar
precisa-se de uma corda
um banquinho bem alto
uma viga para amarrar a corda.
Massa corpórea
vezes altura do banquinho
vezes comprimento da corda
vezes pressão atmosférica
vezes força da gravidade
vezes alinhamento de Marte com Saturno
vezes cotação do dólar:
haverá na física uma fórmula
que possa livrar o suicida
da tortura do último cálculo?
Não, essa forma não me cabe
imagino o desconforto
não gosto que nada aperte-me o pescoço
afrouxo a gravata nos dias ensolarados.
Um tiro na cabeça é outra forma de despedir-se
os neurônios remanescentes nem tem tempo de reagir
mas... descarto...
meu ouvido é sensível
não quero levar para o além o cheiro da pólvora
nem o eco do estampido
do último tiro
disparado próximo ao ouvido.
Outros preferem saltar de edifícios
executam evoluções aéreas até que mergulham em lagos de granito
A turba está agitada,
não é todo dia que se assiste um suicídio
A área é isolada,
alguém empunha uma faixa
"Por favor, não pule !"
Chegam a imprensa, os bombeiros, o celular com a voz de um amigo
A multidão quase não pisca ou respira
Oh, meu Deus! Tomara que não pule! Ele não pode pular!
Mas lá no fundo, bem no fundo, torcem pelo pior,
para que possam chegar em casa e anunciar em primeira mão:
"Eu estava lá, eu vi, foi horrível ! ..."
Eu gostaria de frustrar essa gente que não torce por nós
que põe holofotes sobre nossas tragédias
que assentam-se em arquibancadas
e assistem nossa vida como se ela fosse um picadeiro de circo.
Eu iria lá no fundo do prédio,
onde ninguém estivesse olhando e,
sem nenhum sinal ou aviso,
pularia e diria bem baixinho: good bye.
Mas ... não ... não faria isso...
poderia cair sobre um passante, um transeunte.
E... se jogar na frente de um carro?
Não, também não, muito deselegante
estragaria a lataria do carro alheio
e não ficaria por aqui para pagar o conserto...
há de considerar-se, ainda,
que o atropelado não pode ser tocado
até chegar a perícia
torna-se um morto inconsequente
ao causar um dos maiores suplícios das grandes metrópoles:
tráfego - de - veículos - interrompido.
Não concordo com isso ou aquilo
A morte deve causar o mínimo de consequências possíveis
para aqueles que não tem nada a ver com isso
não pode atrapalhar o trânsito de veículos ou destinos.
E... queimar-se?
Sem chance, só se o cérebro morresse primeiro.
lanço a polêmica: incinerar-se não é suicídio, é auto-punição
o corpo arde enquanto o cérebro
fica protegido, blindado,
dentro da caixa craniana
cada segundo é eterno
e a mente consciente espera
uma morte tão lenta que parece que nunca chega...
Então... afogamento? Sufocamento? Tipo, morte por asfixia?
Nem pensar, já tô ficando com falta de ar...
Todas as formas são horríveis
tudo causa angustia, dor, sofrimento...
Ah... quem dera...
morrer sem sofrer
morrer sem sentir dor
morrer uma morte suave
morrer com beleza, com poesia...
como estar assim,
sentado sobre o piso de azulejos
a água quente caindo do chuveiro
uma névoa branca de vapor
perfumada, por misturar-se ao cheiro
de sabonetes e xampoos
e um líquido vermelho, viscoso, jorrando
do corte profundo no pulso
diluindo-se na espuma branca
e criando belos degrades
que vão do vermelho sangue ao rosa-bebê
esvaindo-se pelo ralo junto com a água, junto com a vida
e essa dormência, e esse torpor, e essa tontura...
e essa deliciosa... vontade... de dormir...

byclaudiochs - http://progcomdoisneuronios.blogspot.com

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byClaudioCHS disse…
Minha humilde contribuição: o texto que postei logo acima, anterior a este comentário, na sua leitura, acredito, desperta a mesma sensação que a autora do post experimentou ao assistir o filme. Quem disser "gostei do texto (poema)" pode assistir o filme sem medo de ser feliz(?) pois as sensações serão as mesmas. Valeu.

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