A DEDICATÓRIA >> Maurício Cintrão
Para mim, é o momento mais difícil, sempre. Você até pode achar engraçado, mas não é. Estar ali sentado (ou em pé) e cravar algumas palavras agradecidas ao leitor é mais difícil do que escrever o que está no livro. Compreenda, posso ter levado dias para escrever o que foi publicado. A dedicatória não. É instantânea, curta e grossa. Tem que ser resolvida ali.
Vou contar um segredo: eu já errei meu próprio autógrafo. Isso não é mentira. Fui assinar meu clássico “Cintrão” e a mão enroscou no meio. Não saiu nada parecido com meu nome. Não sei se alivia, mas já errei a assinatura no cheque. Assim, não se trata de uma resistência ao marketing pessoal, é leseira mesmo. Imagine, então, escrever palavras coerentes, grafadas corretamente e com um mínimo de humor e/ou lirismo...
E o problema é ainda mais sério em se tratando de um lançamento, quando as pessoas tendem a acreditar que você vai lembrar delas. Há conhecidos que reaparecem depois de anos e olham para você como se as tivesse encontrado ontem. Esse é um problema grave. Às vezes, reconheço o rosto, mas não lembro o nome. Em outras, lembro o nome, mas não lembro a história com aquela pessoa. Em algumas, olho o nome escrito no papelzinho, olho a pessoa, e me sinto em um supermercado com prateleiras vazias. Em eventuais lampejos de genialidade, encontro a frase certa, educada e gentil, que salva qualquer possível grosseria da falta de memória. No geral, entretanto, não funciona assim.
A dedicatória deveria ser simples e fácil, mas não é. São poucas palavras pessoais e intransferíveis que representam uma tortura. Sofrimento que pode ser maior ou menor dependendo da estrutura da cerimônia de autógrafos. Há locais já preparados para eventos dessa natureza, com pessoas experimentadas. Então o livro já chega ao autor com um papelzinho amigo para lembrar o nome de quem vai ganhar o chamego escrito. Isso ajuda demais.
Mas tem aqueles casos, diversos casos, em que o conhecido ou amigo do conhecido chega com o livro sem identificação. Pior: chega certo de que você vai lembrar de nome, apelido, acontecimentos e causos passados e, num repente, criar as três ou quatro linhas mais bem escritas da sua carreira. Amigos, naquele momento de muvuca, de estresse por conta de um evento em que você é o alvo (ou um dos alvos), com gente puxando conversa, garçons oferecendo drinques e a cabeça fazendo zum-zum-zum, não há como ser criativo.
Já tentei de tudo. Pensar umas frases bem bacanas, decorá-las e sapecá-las como carimbadas pelos livros. Fracasso; soam falsas. Já busquei o improviso total, megaperformático, com frases repentinas e aleatórias que deveriam levar a algum lugar, mas não levam. Experimentei palavras-chaves, expressões do momento da conversa... não, nada disso funciona. E parece que alguns leitores sabem disso, porque já chegam dizendo: não vale só escrever “com carinho”, porque eu mereço mais! Merece, não tenho dúvida disso, mas eu não consigo.
Não sei como funciona com meus amigos escritores. Gostaria muito de saber. De repente, o problema é só meu e eu que resolva essas pendências com o mercado editorial fazendo algum curso de postura e expressão. Já me disseram para treinar, porque a dedicatória é feito pênalti; é feio errar. Com treino ou sem treino, prefiro alimentar a suspeita de que, lá no fundo, todo escritor é assim. É que uns disfarçam melhor do que os outros. Vai saber...
Vou contar um segredo: eu já errei meu próprio autógrafo. Isso não é mentira. Fui assinar meu clássico “Cintrão” e a mão enroscou no meio. Não saiu nada parecido com meu nome. Não sei se alivia, mas já errei a assinatura no cheque. Assim, não se trata de uma resistência ao marketing pessoal, é leseira mesmo. Imagine, então, escrever palavras coerentes, grafadas corretamente e com um mínimo de humor e/ou lirismo...
E o problema é ainda mais sério em se tratando de um lançamento, quando as pessoas tendem a acreditar que você vai lembrar delas. Há conhecidos que reaparecem depois de anos e olham para você como se as tivesse encontrado ontem. Esse é um problema grave. Às vezes, reconheço o rosto, mas não lembro o nome. Em outras, lembro o nome, mas não lembro a história com aquela pessoa. Em algumas, olho o nome escrito no papelzinho, olho a pessoa, e me sinto em um supermercado com prateleiras vazias. Em eventuais lampejos de genialidade, encontro a frase certa, educada e gentil, que salva qualquer possível grosseria da falta de memória. No geral, entretanto, não funciona assim.
A dedicatória deveria ser simples e fácil, mas não é. São poucas palavras pessoais e intransferíveis que representam uma tortura. Sofrimento que pode ser maior ou menor dependendo da estrutura da cerimônia de autógrafos. Há locais já preparados para eventos dessa natureza, com pessoas experimentadas. Então o livro já chega ao autor com um papelzinho amigo para lembrar o nome de quem vai ganhar o chamego escrito. Isso ajuda demais.
Mas tem aqueles casos, diversos casos, em que o conhecido ou amigo do conhecido chega com o livro sem identificação. Pior: chega certo de que você vai lembrar de nome, apelido, acontecimentos e causos passados e, num repente, criar as três ou quatro linhas mais bem escritas da sua carreira. Amigos, naquele momento de muvuca, de estresse por conta de um evento em que você é o alvo (ou um dos alvos), com gente puxando conversa, garçons oferecendo drinques e a cabeça fazendo zum-zum-zum, não há como ser criativo.
Já tentei de tudo. Pensar umas frases bem bacanas, decorá-las e sapecá-las como carimbadas pelos livros. Fracasso; soam falsas. Já busquei o improviso total, megaperformático, com frases repentinas e aleatórias que deveriam levar a algum lugar, mas não levam. Experimentei palavras-chaves, expressões do momento da conversa... não, nada disso funciona. E parece que alguns leitores sabem disso, porque já chegam dizendo: não vale só escrever “com carinho”, porque eu mereço mais! Merece, não tenho dúvida disso, mas eu não consigo.
Não sei como funciona com meus amigos escritores. Gostaria muito de saber. De repente, o problema é só meu e eu que resolva essas pendências com o mercado editorial fazendo algum curso de postura e expressão. Já me disseram para treinar, porque a dedicatória é feito pênalti; é feio errar. Com treino ou sem treino, prefiro alimentar a suspeita de que, lá no fundo, todo escritor é assim. É que uns disfarçam melhor do que os outros. Vai saber...
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