ÁGUAS DE MARÇO >> Albir José da Silva

São Paulo continua molhado com as águas de janeiro e fevereiro e seus arquitetos já revisitam conceitos mais úmidos como o de palafitas. Chovem tempestades de março e candidatos de sempre. Mas São Paulo não pára e providencia casas para os desabrigados, cargos para os candidatos e cracolândia para os viciados, enquanto espera por outros ventos.

No Rio, o que chove é bala e autoridade perdida divulgando estratégicas informações por descuido. Agora os traficantes informados terão de se armar para enfrentar a polícia, a milícia, as outras facções, o disque-denúncia, os agentes duplos e triplos e a concorrência no transporte, no jogo, no fornecimento de gás e na televisão paga. É duro ser traficante no Rio!

Brasília, sempre a última a saber, descobriu que também fuma crack. Nascida para ser perfeita, seu problema continua sendo o que vem do Rio, de São Paulo, de Minas, do Sul, do Norte e do Nordeste: drogas e candidatos que, diga-se de passagem, são coisas diferentes. Por lá, afastado e preso o governante, corre-se o risco de que continue mandando mesmo sem mandato através do eleito pelos que ainda não foram punidos.

O lado do Pacífico em latinamérica amarga terremotos no chile e outras manifestações temperamentais de el niño e sua irmã bipolar. Treme, ainda, o continente com soluços de ditadores saudosistas que fecham jornais e prendem editores pelo crime de discordância.

Para o pobre Haiti, que já sofreu com terremotos e diplomatas faladores, março reserva George Bush – um flagelo governando, invadindo ou visitando, conforme registros recentes da história – que se apressa em limpar a mão depois de cumprimentar um haitiano.

Ninguém sabe o que Bush vem fazer na América Latina, mas especula-se que traz proposta de monarquia para este pedaço do planeta. Os países passariam a ser províncias e Bush, imperador, daria ordens de uma capital a ser escolhida entre as cidades que tivessem menos negros, índios, e outros defeitos comuns nestas plagas.

Construiria campos de concentração para os maus e dissidentes e daria títulos de propriedade na Amazônia para os bons e amigos. Crack, maconha, cocaína e corrupção seriam proibidos. O álcool, em compensação, estaria permitido para todas as idades, inclusive para o sono dos bebês, em substituição a camomila, casca de maçã e outros venenos. A tortura só poderia ser feita por especialistas, equipe multidisciplinar com médicos, psicólogos e capelães, para evitar danos irreversíveis ao paciente. Aulas de tiro seriam ministradas na educação infantil, mas com balas de festim do maternal até o jardim de infância.

Branqueamento de pele, à Michael Jackson, seria direito do cidadão, pago pelo SUS, que também ofereceria escova japonesa, marroquina, inteligente, de chocolate e demais procedimentos essenciais. As outras doenças, simples manifestações demoníacas, seriam atendidas nos centros internacionais de milagres, por meio de correntes, descarregos e outras curas menos invasivas.

Bush, em campanha, já teria solução para todos os problemas que nos afligem e alguns que ainda nem identificamos. Um assessor lhe sugere o slogan “Depois da tempestade vem a bonança”. Outro, bajulador, prefere “Depois da tempestade vem o Bush”. O estadista e poeta, de olhos no futuro e na história, decide: “Depois da tempestade vem a bushança”.

Vade retro! Que abril nos redima, nos lave a alma e enxugue os olhos.

Comentários

Este comentário foi removido pelo autor.
Meu Deus! O famigerado Jornal Nacional invadiu o Crônica do Dia?! :)

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