os malditos não choram ou elegia ao pão de cada dia >> Leonardo Marona

dedicado a John Coltrane e Tia Mulata


pão beijo na boca padaria madrugada café na cama ereção matinal namorada filé com fritas tédio fugidio declínio cama levita uivo desejo pálido copula evita destino trágica relação mutante orgulho cálido ovulação andar sobre o pus do sangue presságio casamento.

pão bebum no ralo da sinuca bafo de pinga punho escarro fétido na cara tapa de quem parece própria cara lavada amarga verniz da morte acalentada acende desfiladeiro armas e corações partidos copos de vidro mesas onde brindávamos tudo até o fim da noite amizade nada.

pão passo firme no assoalho ímpeto de mãos vazias prantos pavor pecado bafo frio cigarro longas unhas curvas túmulos dos teus desejos medonhos sonhos cultivados para sempre serem roídos ombros contrações latentes do teu sorriso sujo guardado junto do teu contato em esponjas de sol luz de banho sob olhar preguiça que guardava costas até noite quando sinais repetem sonhos que se repetem inúteis sem tuas sardas sinos no meu travesseiro.

pão trás leva esconde pecado perdão diário de dó de ló mentiras e alho no ritmo do vai e vem no nó da aureola do diamante intacto recente maculado a cada pão que sopra hálito diabo nas orelhas maltratadas por razões entranhas estranhas ao próprio diabo que é você mesmo com um saco de pão nas mãos voltando pela madrugada cara lavada perfumada outra para cair nos braços da mesma maior pecadora que aceita recolhe cacos das fatias de amor sobra da devassidão.

pão eterno cúmplice único a quem não precisamos jamais perdoar por seus farelos ou pedir perdão pelos sacos escuros onde os guardamos à noite quando só as formigas se mexem para sempre abandonados capachos da dor a quem muitos murmuram destinos e pecados.

Comentários

Belo texto em staccato, Léo! Pão bom de se comer.
Anônimo disse…
Leonardo, mais uma vez voce me surpreende. Parabéns

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