O LIVRO DA CLAUDIA FOI AO TEATRO >> Carla Dias >>


Nem ficar
que o bicho come
Nem correr
que o bicho pega
O negócio é espreitar
pra ver se o bicho cansa.
Claudia Letti


Sexta-feira passada foi 13. Não tenho nada contra sexta-feira, tampouco contra o 13 que até considero um número de sorte, já que única vez em que ganhei coisinhas de rifa foi porque escolhi 3 números que na soma davam 13. E na sexta-feira 13 de fevereiro foi tudo certo... Diazinho do bom!

Mas a semana passada, tive minha primeira quase terrorista sexta-feira 13...

O dia foi daqueles em que a gente pensa em pedir a conta do mundo. Eram tantas coisas para resolver e uma Carla só que não sabia se andava pra frente ou dava pulinhos pro lado. No decorrer do tal dia, teve até quem me insultasse com uma coleção de frases feitas. A tentativa de culpar a mim pela falta de responsabilidade própria, valendo-se de clichezinhos que vou te contar, me irritou tanto que passei o dia sem conseguir engolir nada. Afinal, mais bacana é quando você pisa na bola e assume. Tentar passar seu erro para outro o torna um verdadeiro imbecil aproveitador.

À tarde, recebi o livro da Claudia, a Dona Letti. Já o esperava, e ele chegou no meio dessa doideira. Ele passou o resto da sexta-feira 13 sobre a minha mesa, empacotadinho. De vez em quando, eu olhava pra ele e ficava muito a fim de abrir e conferir a capa! Mas achei melhor não, porque me conheço... Sou das que desembrulham a bala e a joga na boca!

No comecinho da noite – eu descabelada, cansada, a fim de enfiar a cabeça num buraco -, caiu uma chuva daquelas. Vocês sabem que eu amo uma chuva... Daquelas, então! Fiquei uns cinco minutos olhando para ela, rebelde, bonita. Eu sabia que, enquanto eu contemplava a chuva, a cidade estava se encharcando. Morro de culpa, mas...

Eu tinha um compromisso na sexta-feira 13 à noite. Eu e um casal de amigos, Paulo Renato e Raquel, combinamos de assistir a peça Querido Mundo, no Teatro Gazeta. Eu adoro essa peça e acho que os atores, Maximiliana Reis e Jarbas Homem de Mello, fazem um trabalho lindo com o texto do Miguel Falabella e da Maria Carmem Barbosa. Mas para saber mais sobre esse meu afeto, e vale saciar a curiosidade cultivada, clique AQUI.

Dei sinal, o ônibus parou, eu certa de que a sexta-feira já estava mais para sábado. Subi no ônibus e o motorista, olhando para o outro lado, sem me dar a menor bola, decidiu fechar a porta, enquanto eu ainda estava segurando nela, no meio do caminho para, efetivamente, entrar no ônibus. Só não fui expulsa dele, com direito a um belo tombo, porque depois de fazer laboratório de jogo de cintura durante todo o dia da sexta-feira 13, decidi que não seria ignorada pelo motorista de ônibus.

Entrei... Sentei... Cheguei ao teatro quinze minutos depois, contrariando a expectativa óbvia de que Sampa estaria empacada por conta da chuva.

Como cheguei cedo ao teatro, abri a bolsa, saquei de lá o envelope ainda lacrado, arranquei de dentro dele o livro da Claudia Letti, estaquei na entrada do teatro e comecei a ler. Nesse momento, que julguei seria o meu de paz do dia, as portas do teatro se abriram e de lá saíram muitas pessoas, público da peça anterior a que fui assistir. Eu que sou moça meio bicho do mato, senti-me afetada pelo falatório, gente pra lá e pra cá, fumando seus cigarros, comentando seus agrados. Não por fazerem o que faziam, mas sou daquelas que não sabe estar só no meio de muita gente desconhecida.

Diabo de sexta-feira 13...

Concentrei-me no livro, na leitura transeunte das palavras da Claudia Letti. Na poesia ou na prosa, a moça diz de um jeito pungente as façanhas da vida e as do ser humano também. Vez ou outra, meu olhar escapava do livro só para ver se meus amigos se aproximavam. Esperar é algo que me desperta o desejo claro de escapar do tempo e adiantar relógio. Pena que sou apenas um ser humano que consegue - tão só - cumprir horários.

Um homem se aproximou, cigarro na mão, disse algo que não entendi. Baixei o livro, olhei para ele e sorri meu sorriso deslocado: “como?”. E ele deu mais uma olhadinha no livro, “eu sei qual é o fim... quer que te conte?”. Sorri o meu sorriso ‘te peguei’ e “não, obrigada... são tantos os finais...”. Não contente, ficou do meu lado: “É auto-ajuda, né?”.

Né... Né... Né...

Respondi que não, “poesia e prosa”, e ele disse: “Ah...” e ficou por ali, com seus amigos e um cigarro atrás do outro. Mais tarde, me confidenciou que tinha de fumar, antes de assistir ao espetáculo, senão daria aquela vontade impossível de ignorar, bem no meio da festa. Eu que não fumo, quase soltei um “ah, eu sei... é igual quando não fazemos xixi, antes de sair de casa, e ficamos com vontade cinco minutos depois”. Mas achei que seria informação demais para o momento.

Meus amigos chegaram, assistimos ao espetáculo que, assim como as três vezes anteriores em que o assisti, foi lindo que só. Ri muito nessa comédia sobre gente tentando se descobrir capaz de superar tragédias e se permitir caminhar com a felicidade.

Minha trágica sexta-feira 13 acabou quando comecei a ler o livro da Claudia, amansou mais ainda quando meus amigos chegaram, e me fez muito feliz com a história do espetáculo. Fui dormir em paz, quase sem rastro do dia que me tirou do sério, me fez repensar o que ando fazendo da vida, me fez sentir nada bem-vinda ao ônibus Pompéia 478P.

Em tempo... Falarei mais sobre o livro da Claudia, o que foi ao teatro comigo, numa próxima crônica.

Site: www.carladias.com
Talhe - Blog:
www.talhe.blogspot.com

Comentários

Unknown disse…
Carla, levei até um susto... rs
Sua danada!
Saber que o livro amenizou um pouco as provocações de uma sexta-feira 13, me deixou alegremente sem jeito. E sem palavras. :)
Beijo grande,
Carla Dias disse…
Dona Letti: mais do que isso... Seu livro adoçou a noite. Lindo que só!
Anônimo disse…
Ah se todas as sextas-13 fossem iguais a esta aí... rs...

E o livrinho é uma jóia. Vai curtir de monte, aposto.

Beijoca,

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