OBAMA - O DESEJO REAL DE MUDANÇA! [Sandra Paes]


Ele veio sem muita conversa, sem muito explicar. Sim, o verso é de Chico Buarque, mas se encaixa perfeitamente pra esse jovem americano, hoje o mais célebre eleito presidente americano.

Mansamente, com seu jeito de ginga de jogador de basquete, e uma eloquência altamente sedutora e envolvente, foi se aproximando com o forte slogan: CHANGE.

Diante de candidatos fortíssimos como a veterana Sra. Clinton, ele não se intimidou. Continuou o trabalho de conquista, ignorando críticas, narizes empinados, na certeza de quem sabe seu destino: fazer o ponto máximo no jogo, que dessa vez não era de basquete, mas não deixava de simbolizar a mesma coisa.

Seria preciso vencer!

Acompanhei de perto esse moço, cheguei a ver a ginga com que ele dançou num programa vespertino, e percebi pelo ritmo dos quadris alguém totalmente solto na desenvoltura também da cintura. E gente com jogo de cintura é o que a América vem precisando hé muito tempo. Os americanos são famosos por serem duros de cintura.

E, depois, aquele sorriso, um sorriso de menino confiante, que não vive em função do julgamento alheio, mas do que tem dentro de si, do que ostenta com vida. Li, tempos depois que o nome dele significa “Abençoado, predestinado”.

Com todos esses apostos, mais o laureado título concedido por Harward, a mais famosa universidade americana, especialista em direito constitucional, estava muito claro que o rapaz tinha/tem todas as condições pra vencer qualquer desafio. Restava um porém: vencer o racismo na América.

O moço sabia tudo sobre vitória, e parece que carrega isso como um selo: um desafio se vence pela coragem, pela determinaçao, pela fé, e pela ternura, não pelas armas bélicas, pelas mentiras, e por jogos de falsas promessas, apostando na hipocrisia, na possibilidade de falar pra tentar agradar. Obama mostrou sempre essa transparência em suas falas, suas atitudes e sua elegância - não só física, mas postural e verbal. E sempre por todos os lados a força de sua presença acompanhada da mensagem subliminar básica: CHANGE!

Ganhou não só a convenção nacional de seu partido, mas a simpatia dos novos eleitores e mostrou que se um povo quer mudança tem que mostrar isso votando mesmo. Aqui, nos USA, votar não é obrigatorio, e ver filas e mais filas por todos os lados, antes da data da eleição pra não perder a chance de dizer “Quero mudança!”, ja mostrava, pelo menos pra mim, uma virada triplamente histórica nesse país.

Com a crise econômica que revela aos poucos uma maior crise institucional na América, o mundo se viu diante de um terremoto. As raízes da democracia e do capitalismo ameaçam ruir. Não seria mais possivel continuar como estava. A ameaça de recessão, acrescida à perda da liderança e da boa imagem da América no mundo, congelava a esperança e o sonho americano. E Obama soube como denunciar isso com clareza, ao declarar que a América teria que mostrar ao mundo que ela é a terra onde o sonho se faz realidade e que há esperança sempre quando se une forças e se trabalha pra mudar o que precisa ser mudado.

Essa a maior verdade revelada. Os republicanos não sabiam mais nada a não ser atacar moralmente o presidente forte como sua raiz, transparente em postura e fala, como quem passou por todas as vicissitudes da vida e não ser vergou.

E, diante disso, o desafio de uma economia desasatrada, um país numa guerra desnecessária, neuroticamente caótico, numa conduta velha e também imatura, precisava de um símbolo que poderia dar ao mundo a marca da união de forças, de competência e acima de tudo a necessidade de quebrar com mitos e tabus, tais como a cor da pele, a pouca idade cronológica, a ascendência multirracial, como formas de “pré-julgamento” para inviabilizar um cargo de tamanha responsabilidade: a presidência dos USA.

E Obama engloba a salvação não só do ‘novo mundo’- assim chamada América -, mas o novo mundo como o ideal de aquário, a possibilidade do mundo integrar um novo povo, uma nova forma de conduzir todas as questões, alguém que começa uma campanha viajando pelo planeta mostrando a necessidade de integração. Alguém que traz nas veias o sangue da velha mãe África, que morou na Ásia e conhece a cultura daquela região; alguém que traz na alma o inato saber do direito de cada um de ser livre e ter reais oportunidades de realizar seu sonho.

Sua biografia mostra que a vida o preparou pra chegar onde está e sua resposta às chances que a vida lhe deu revela sua determinação pra mostrar que há verdade em sua fala. Espero que a boa fortuna que simboliza seu nome lhe traga grandes parceiros de trabalho também - e a mostrar pelo discurso de agradecimento feito ao povo, dá pra perceber que esse homem tem intenção de instalar uma democracia mais madura, por que vai levar os anseios do povo à capital e não o contrário, e isso é inédito. A massiva votação nele mostra isso e aponta o desejo real de mudança contido na mente e no coração dos eleitores americanos.

O mundo só tem a ganhar com as idéias desse jovem promissor, e apertem os cintos, por que as mudanças vêm sim, e vão sacudir nossos sonhos, e como ele mesmo disse: “Escolha sem medo! Diga sim à mudança!” E é claro que tem muita gente que tem medo da mudança, e há ainda aquele ditado horrível: “ Em time que está ganhando não se mexe”, mas o time vem perdendo - e muito - e esse time representa o velho, o modelo arcaico de conduzir, a acomodação de padrões de crença, a manutenção de tabus, o medo de não ser bom o suficiente. E esse moço vem mostrar que tudo isso vai por terra.

Agora, vai caber a cada um de nós sermos parceiros na vida, dos padrões de mudança que escolhemos, e acreditar acima de tudo que pior do que estava não poderia ser mais.

Ser eleito um dia depois do falecimento de sua amada avó, a quem ele dedicou três dias de atenção quebrando sua campanha política, mostrou, para mim, pelo menos, que dentro dele tem um coração leonino da melhor qualidade, um homem que não põe o interesse do ego acima de seus afetos reais, e essa é a marca do verdadeiro rei.

Obama é o 44º Presidente americano. A soma desses números é oito e numerologicamente falando isso tambem é mudança. Quando esperamos por ela, ansiamos por ela, investimos nela, ela vem e melhor ainda com a aprovaçao de tantos. O dia 04 de novembro de 2008 marca um novo tempo pra todos nós. Com certeza!

Imagens: Obama, The Huffington Post Journal; Obama, S. L. Wilson; Obama, AP

Sandra Paes vive nos EUA.

Comentários

Maravilhoso, Sandra! Obrigada.
Beijo enorme.
Anônimo disse…
nossa q lindo!!1palavras exatas!
Sandra, eu não acompanhei a campanha. Mas dou-me por satisfeito com esse seu emocionado e bem escrito resumo. :)
Sandra, mesmo essa sendo uma luta e uma vitória norte-americana, o mundo tem mesmo é que se emocionar. Eu me emocionei com todo o rumo da campanha e com o seu ótimo texto. :)
Anônimo disse…
Sandra,
gostei muito do texto, claro, informativo e emocionado, nao fosse vce brasileira.
Eu tbem torci pra que vencesse a mudanca na figura do Sr. Obama.
Gracas a Deus ele eh o presidente hje e como disse ele pra vces americanos: "we can" e a America mostrou que pode e podera se modificar.
Obrigada por mais um otimo texto.
Beijos, Haydee
Meca disse…
Sandra, voce foi mágica! Captou o espirito e transcreveu. De uma maneira simples, clara, impecável.
Parabéns menina.
beijinhos
Meca
Unknown disse…
Sandra,
No início da campanha achei o Senador Obama "fake", como dizem os americanos - falso. Parecia como alguns políticos da nossa região. Num dos debates ele falou qualquer coisa como "possuir somente um carro" quando supostamente o Mc Cain teria 3 carros. Depois entendi que esta colocação era uma provocação em relação aos carros importados - "games people play "- Depois, quando o Mc Cain num dos debates se referiou ao Senador Obama como esse aí", eu lembrei da prepotência de algumas castas que ainda (infelizmente) existem por aqui. Com o tempo fui analisando melhor e hoje penso extamente igual a você. Você foi brilhante no seu artigo. E se o coração sempre fala mais alto a vitória será mais nobre. Obrigado pelo artigo,
Chico Moura
Carla Dias disse…
Sandra... É sempre inspirador quando aparece, principalmente na política, alguém como Obama. Confesso que, mesmo vivendo no Brasil, vendo de longe o que se passa, fiquei muito feliz por ele ter sido eleito. É estranho, mas de um estranhamento bom, a confiança que tenho nessa mudança cultivada por ele.
Sua crônica nos dá as palavras para descrever a esperança e o desejo de bons ventos a esse moço que, creio eu, não brincará com a vida daqueles que confiaram nele seus votos... E aos vizinhos de outros países.

Postagens mais visitadas