A HISTÓRIA DO MEU LIVRO -- Paula Pimenta

Uma noite qualquer, em outubro de 2004, eu me sentei na frente do computador e pensei: “Vou escrever um livro”. Essa cena já tinha se repetido algumas vezes, tenho uns três livros guardados que comecei e aposentei ainda nos primeiros capítulos, mas daquela vez foi diferente.
Quando comecei a escrever, eu não tinha a menor idéia do que viria a ser aquela história. Eu tinha um daqueles livrinhos de “significado dos nomes” e abri numa página qualquer. Bati o olho em “Fani”. Significado: “Diminutivo de Estefânia”. Gostei. Minha personagem principal já ia nascer com nome e apelido. E foi assim que eu comecei a história. Uma menina de 16 anos, em casa, em pleno fim de semana, por vontade própria. Uma menina que não tem nada a ver com a menina que eu fui, que saía em todos os fins de semana, que tinha milhões de amigos e não perdia uma festa. Acho que isso já responde à pergunta que sempre me fazem, se o livro é autobiográfico. Não, não é. A história da Fani é a história que eu gostaria de ter vivido.
Eu escrevi os dois primeiros capítulos, mostrei pra minha mãe e uma amiga, as duas gostaram muito, escrevi mais uns três, mostrei tudo pra minha prima, ela também gostou muito e aí aconteceu um fato em minha vida que me fez parar a escrita por um tempo. Eu me mudei pra Londres, em março de 2005. Lá, no começo, não dava pra escrever nada. Além de estar com a cabeça a mil e sem a menor inspiração, eu não tinha um computador, só fui comprar um notebook uns três meses depois, mas ainda assim a minha vontade de escrever não tinha aterrisado nas terras londrinas. Um pouco depois, comecei a fazer um curso de escrita criativa. E que curso! Ele acontecia em uma livraria megastore, que fechava às 18h. O curso começava às 19h, e então a livraria era só dos participantes. O moderador falava do assunto do dia, a gente discutia, e aí todo mundo era liberado para se sentar em qualquer lugar da livraria para escrever. Depois a gente se reunia novamente e lia para todos o que escreveu. No final, fazíamos uma conclusão. Era uma terapia da escrita. Esse curso é uma das coisas que eu mais tenho saudade em Londres. E foi exatamente nele que a minha vontade de continuar meu livro, já estacionado há uns cinco meses, aflorou.
Eu reli tudo o que tinha escrito, modifiquei umas partes (já influenciada pelo aprendizado do curso), e comecei a continuação. Eu gravei uma trilha sonora especialmente para escrever, gravei músicas que faziam com que eu entrasse no clima do livro, e toda noite colocava meu fone de ouvido e escrevia até de madrugada. Nos finais de semana, eu colocava o computador na mochila e ia para os parques, sentava embaixo de alguma árvore e aí é que a inspiração vinha mesmo. Uma pena não podermos nos sentar nos parques do Brasil pra escrever. No mínimo nos roubam o laptop e a história.
Meu livro foi virando realmente um livro, em vez de capítulos. Continuei mandando trechos para minha prima, mãe e amiga (as mesmas que vinham lendo desde o comecinho) e elas ficavam muito ansiosas pelos próximos, o que me fez ver que estava no caminho certo. Certa noite, eu acordei de madrugada e do nada me veio uma idéia. Como a protagonista era louca por cinema, por que eu não explorava mais isso e colocava um trecho de cada filme que ela gostava para ilustrar e costurar os capítulos? E foi o que fiz. Quando terminei de escrever o livro, pesquisei citações de vários filmes e consegui reunir mais de 200 interessantes. Penerei as que encaixavam melhor e só então defini quais delas iriam entrar. Foi a parte que deu mais trabalho, mas também a mais divertida, porque foi muito interessante tentar traçar um paralelo entre os filmes e os capítulos.
Não esqueço do dia em que terminei de escrever. Outubro de 2005. Quando escrevi FIM, caí no choro. Mandei um e-mail na mesma hora pra minha mãe: “Buááá, minha amiguinha foi embora...” E foi mesmo essa sensação que senti, como se alguém que estivesse me fazendo companhia durante todos aqueles meses tivesse viajado e me largado ali.
Mas na verdade, a Fani desembarcou no Brasil junto comigo. Mal cheguei aqui, comecei a procurar editoras para mostrar o livro. Foi aí que eu senti como é difícil publicar um livro no Brasil. No exterior é tão fácil! Tem uma profissão no USA e na Inglaterra que se chama “agente literário”. Você manda os três primeiros capítulos do seu livro pra vários desses agentes, por e-mail mesmo, eles vão ler com a maior atenção e te dar o retorno, se gostaram ou não. Se gostarem, vão te pedir a continuação e então eles é que vão correr atrás da editora pra você. No Brasil não funciona assim. Nós mesmos é que temos que imprimir o livro, bater na porta de cada editora e implorar pela atenção de alguém. O que me impressionou mais é que as pessoas nem querem ler o começo do seu livro, nem uma página. Simplesmente acham que você não tem competência pra escrever um livro bom, que dê lucro, e te dispensam.
Por sorte, uma amiga já tinha lançado um livro pela editora Autêntica e me apresentou para a dona de lá. No começo ela também não queria ler meu livro, mas quando eu contei o tema, ficou interessada. Poucos dias depois, minha amiga me ligou falando que o pessoal da editora tinha ligado pra ela. Leram meu livro e adoraram. E o principal: iam publicar! Mas não foi aí que eu comecei a comemorar, tinha um ‘porém’. A agenda de publicações daquele ano (2006) estava lotada. Só poderiam lançá-lo em 2007. Tudo bem, eu já tinha esperado tanto... assinei o contrato. Quando 2007 chegou, passaram pra 2008. Minha ansiedade, que já é grande, ficava ainda maior pelas perguntas vindas da família e amigos o tempo todo: “E o livro?”, “Você não ia lançar um livro?”, “Seu livro não vai sair mais?”
O tempo finalmente passou, 2008 chegou, e em abril meu livro entrou em produção. Começou a

O lançamento foi uma festa. Mais de cem pessoas compareceram. Eu não vi nada. Só assinei, assinei, assinei. No dia seguinte, me deu a maior tristeza. O acontecimento que eu tinha esperado por três anos, tinha chegado e passado. Mas logo fiquei feliz de novo, comecei a receber os muitos elogios e até hoje eles ainda não pararam de chegar. Todos os que lêem realmente parecem gostar, muitos dizem que choraram no final, e acho que não tem alegria maior pro escritor do que essa, causar identificação e emocionar o leitor.
E cá estou. Quase dois meses desde o lançamento e ainda completamente envolvida. Fiz um site, o http://www.fazendomeufilme.com.br/ e ele também tem feito sucesso (ainda bem, porque ele deu mais trabalho do que escrever o livro!). Agora já penso na continuação da história, que é o que as pessoas mais têm me pedido nos e-mails que tenho recebido.
Eu disse que a vida da Fani é a que eu gostaria de ter vivido, mas pensando agora, depois de recordar toda a saga do livro, penso que me enganei. Não troco essa história da minha vida por história de livro nenhum. Afinal, o melhor de tudo é poder escrever várias histórias na vida da gente. E “hoje eu sei que nenhum filme (ou livro) é melhor do que a própria vida”. E essa última frase não é minha. É da Fani.
Comentários
Parabéns, Abraços.
Mais uma vez, parabéns!
Agora a crônica me deu saudade do livro...
Ontem mesmo indiquei para uma amiga dar de presente de 15 anos, disse que não existe a menor possibilidade da menina não gostar do presente!
Eu, com 26, amei!!! Minha mãe, com + de 50... também amou!
Mais uma vez eu digo: seu livro é SENSACIONAL!!! Espero ansiosa pela continuação! Bjos, Mônia
vou procurar esse livro já!
Adorei!
beijos
Ana