(falta de) TEMPO -- Paula Pimenta
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára...”
(Cazuza)
(Cazuza)
Dois de novembro de 1999. Lembro perfeitamente deste dia. Eu estava voltando de Ouro Preto com um amigo, nós passamos em frente a um shopping, ele olhou, viu o shopping todo enfeitado de luzinhas de Natal e falou: "Natal, já? Tenho medo dessas coisas.”
E todo ano, quando começam a aparecer as tais luzinhas, cada vez mais cedo, eu penso que isso realmente dá muito medo. Não que eu não goste de Natal, muito pelo contrário, eu adoro. O que me assusta é a velocidade cada vez maior com que os meses passam. O Natal do ano passado foi antes de ontem! Só que mal passou o dia das crianças (deste ano), lá estavam as luzes me lembrando que antes de ontem já passou faz séculos, eu é que não vi, estava muito ocupada tentando correr na mesma velocidade do tempo.
Lembro que quando eu era pequena, os anos custavam a passar. Eu era louca pro Natal chegar bem rápido, mas o ano durava uma eternidade. Meu aniversário então... eu ficava com a mesma idade uma vida inteira, agora, mal passou a festa e já vem outro e outro e outro e estou vendo a hora em que vão me matricular em um clube de terceira idade.
O que assusta é que isso não é só impressão minha. Todos os dias escuto alguém comentar que já é novembro, que o ano voou... É como se já acordássemos atrasados e fôssemos dormir preocupados porque o dia não foi suficiente pra fazer tudo. Como explicar tal fenômeno se o relógio mostra direitinho os minutos passando, o calendário exibe dia por dia, e as horas continuam do mesmo tamanho dos outros anos?
Acho que a culpa dessa sensação é do volume de tarefas que nos incumbimos e da diversidade de opções que temos hoje em dia. Antigamente, as pessoas estudavam, se formavam, trabalhavam e pronto. Ficavam naquele trabalho pela vida toda, com o resto do tempo pra preencher com o que quisessem. Agora, mal formamos e vem a pós, o mestrado, o concurso, o emprego de três turnos... E no fim de semana ninguém mais fica em casa curtindo a família, já que tem o bar, a boate, a festa, o jogo de futebol, o show, o cinema... Quando aparece um minuto sem nada pra fazer, já ficamos desesperados pensando que estamos perdendo tempo e tratamos de arrumar um jeito nos ocupar. Imagino que por isso venha essa sensação dos dias correrem, na verdade somos nós que corremos e não ficamos um minuto de papo pro ar, observando o tempo passar.
Eu precisava de um ano de férias só pra colocar minha vida em ordem. Essa correria é ainda pior pra alguém ansiosa como eu, que planeja cada passo com 15 dias de antecedência. Tem tanta coisa que eu tenho que fazer e quando percebo já é hora de dormir, fica pra amanhã, e o amanhã já tem suas próprias demandas e acaba que as coisas vão sendo deixadas pro ano de 2054.
Preciso desesperadamente arrumar meu quarto; jogar muita coisa fora; tirar tudo do armário pra ver o que eu posso doar; terminar a apostila dos meus alunos que está há meses parada; fazer mais ginástica; estudar outras línguas; escrever a continuação do meu livro (aliás, não deu tempo ainda nem de divulgar o meu livro por aqui); terminar e promover o site do livro; terminar a música que eu comecei a fazer pro meu namorado antes do dia dos namorados e acabou ficando pro dia que der tempo dela ficar pronta; dar um banho no meu cachorro que mal acaba de tomar um, já precisa de outro; arrumar mais bares pra tocar; passar mais tempo com o meu pai; ligar mais pra minha madrinha; sair mais com as minhas amigas; ir ao cinema ver os filmes que já estão saindo de cartaz... Eu realmente precisava fazer tudo isso antes do Natal chegar. Mas pelo visto, vai ficar tudo pro Natal do ano que vem.
Dentre todos esses afazeres, tinha um que todas as terças-feiras me cutucava e pelo menos hoje eu dei conta de fazer: parar o tempo um pouquinho pra escrever a crônica do dia.
Menos um pra minha listinha.
Comentários
:)
bjs
Ana
Continue sendo esta menina que aprendemos a amar.
Beijinhos,
Janyr Menezes (INF 50).
Gostei muito da crônica!
Gosto imenso de uma frase do Montherland que diz assim:
"É preciso sempre adiar tudo para o dia seguinte."
beijo grande!
Ângela (Professora de Português e Literatura em Belo Horizonte).