FIRMAMENTO >> Eduardo Loureiro Jr.

Edição de Eduardo Loureiro Jr. sobre foto de Juseppe / Flickr.comDesgastou-se-me a palavra eu. O que era antes parede, agora é grade. Do lado de cá, pensamento: pássaro é feito de carne. Do lado de lá, imaginação: vôo é feito de ar. O menino se assombra com a cara branca do pai — homem fantasiando ser Vento. — Pai? É tu, pai? O pai abraça o filho sem deixar de ser Vento.

Oposição é contraste. Ajuste para ver os detalhes. Bate-boca invoca beijo. Conhecimento é reconhecimento. Evento é vento. Correntes são ar. Prende-se no que não se vê. E no que não se vê, liberta-se. Ver o que não há para que assim seja.

Quando a musa Música convoca, minha voz já está na dela. Corpo tem janela que se abre em canto. Tudo está por um trizpensamento. Vontade se achegando ao parapeito. Frio de alegria na barriga do morno.

Poesia é uma maneira encontrada pelas palavras para dizer exatamente aquilo que sempre quiseram dizer. Sem erros de interpretação. — De que planeta veio? — De barriga redonda de mãe, satélite cortado no umbigo. Ordem da vida é a que já é: independe de obediências. Palavra se fantasia de coisa só pra gente desmaquiar a luz. Criar é coisa de Deus. — Eu Sou.


Comentários

Nande disse…
Eduardo,
Nesse texto, deparei-me com uma das mais sensíveis e agudas definições de poesia que já vi:
"Poesia é uma maneira encontrada pelas palavras para dizer exatamente aquilo que sempre quiseram dizer. Sem erros de interpretação."
Exato.
Continue sempre avisando pra gente acompanhar as suas crônicas poéticas. São muito finas, inquietantes no bom sentido, chamando nosso olhar a prestar atenção a ângulos insuspeitados da nossa paisagem afetiva.
Parabéns!
Eduardo, criar é sim coisa de Deus e ouvindo/lendo você é quase possível tocá-Lo.
Grato, Fernando. É bom saber-me afetando os afetivos. :)

Marisa, quando você conseguir tocar Deus, me avisa. :)
O texto me lembrou do 'Planeta Lilás', do Ziraldo - não sei bem porque... :) Talvez pela delicadeza da criança assombrada...
Beijo.
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse…
Oi Eduardo.
Tadinho do Tiago, filho do Sr. Vento, acho que este dia
foi um marco p/ ele. Encontrar-se
com outra faceta do Pai.

Luciana
Debora, farei uma viagem ao Planeta Lilás. :)

Luciana, de face em face do pai, a gente conhece ele inteiro. :)
Anônimo disse…
lindo!!poesia é uma maneira encontrada pelas palavras de dizer exatamente aquilo q sempre quiseram dizer.sem erros de interpretação.
Ah, Marcela e Fernando, o mistério dos textos. Tenho que confessar que quase não deixo do jeito que está a frase de que vocês gostaram tanto. Algo em mim queria que ela ficasse mais ou menos assim: "poesia é maneira da palavra dizer o que quer". E só. Mas parece que o excesso de palavras fez bem aos ouvidos de vocês. E eu me rendo. :)
Carla Dias disse…
Que lindeza é essa que veio passear no teu texto? Tem cara formato coração e olhos no peito? Abre-se em leques ou como quem derruba portas de tamanha curiosidade que se curva em desejo.

Que lindeza de texto... Que poesia que me agrada e graceja com a minha alma. E eu sorrio pra ela.
Unknown disse…
Algo em vc sempre diz "poesia é a maneira da palavra dizer o q qer !E muito mais !!!renda-se e seja sempre bem vindo poeta ....
Carla, bem que eu estava sentindo falta de umas palavras no meu texto. Elas se esconderam de mim para só aparecer no seu comentário. :)

Marcela, Marcela... :) Rendo-me às suas boas-vindas.
Anônimo disse…
Edu,

Eu entendo seu texto como um grito de liberdade. Cada um é livre para fazer sua própria interpretação, disse vc. O poeta diz o q pensa, o q cria, o q vê o q gostaria q fosse. A forma como vc diz isso ninguém sabe dizer igual. Isso é q faz a diferença. Minhas tresloucadas deduções..rsrs

Obrigada por vc ter cantado para mim. Ainda estou feliz por isso.

Parto amanhã mas volto logo.
Será você, Dil? Adoro suas tresloucadas deduções. :) Cantarei sempre. Beijo,

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