...MAS AGORA VAMOS >> Albir José Inácio da Silva
Lá não deve ser pior que aqui. Ou não sairíamos daqui pra lá. Ou não promoveríamos a mudança. O que incomoda então?
Desde que abandonou o nomadismo, o homem passou a sofrer com os deslocamentos. Conheço pessoas que se emocionam ao falar da casa antiga. Não estou falando dos que foram obrigados a sair. Dos que foram expulsos. Dos exilados. Estes provavelmente nunca conseguiram sair. Ficaram lá sem poder estar, e é por isso que sofrem.
Falo dos que quiseram sair. Foram para lugares onde queriam ficar. Falo dos que ficaram felizes com a casa nova, mas, em algum momento, são alcançados por uma espécie de saudade – uma chuva morna de que não se consegue fugir e que encharca a alma. Não é saudade de um lugar. É saudade de um quando que aconteceu naquele lugar.
E quando ainda se está saindo, o que é que se sente? A saudade pode ser antecipada?
Aqui cheguei no que já não existe e vi crescerem paredes e cômodos.
Aqui às vezes não coube em mim de solidão humana, mesmo cercado de carinho.
Aqui corujamos o crescimento de filhos especiais. Vimos risos em boquinhas desdentadas e choros convulsos e dramáticos sem nenhuma lágrima mas com muita pirraça. Aqui vimos sucederem-se uniformes e cadernos, e transformarem-se caligrafias. Daqui os vimos sair para a primeira aula na faculdade e para o primeiro dia de trabalho. E descobrimos que não nos pertenciam. Aqui recebemos a surpresa de ser consolados por quem até então consoláramos, e aprendemos a tocar a casa a oito mãos.
Daqui saímos algumas vezes para nos despedir pela última vez daqueles que aqui não voltariam mais.
Cada parede, cada cor e cada móvel tem uma história. História que segue, que evolui para outras cenas, mas que já olha para trás.
Não há queixas. Vamos juntos, vamos felizes, vamos crescendo. Mas daqui a pouco estas portas serão fechadas por nós pela última vez. Continuaremos a nos ver todos os dias, mas não nos veremos mais aqui.
Aqui é um tempo que fica. Fecha-se um ciclo.
Aqui voltarei nostálgico ao passar pelas ruas próximas.
Aqui voltaremos em reminiscências que nos apertarão a garganta e acelerarão o peito.
Mas agora vamos.
Desde que abandonou o nomadismo, o homem passou a sofrer com os deslocamentos. Conheço pessoas que se emocionam ao falar da casa antiga. Não estou falando dos que foram obrigados a sair. Dos que foram expulsos. Dos exilados. Estes provavelmente nunca conseguiram sair. Ficaram lá sem poder estar, e é por isso que sofrem.
Falo dos que quiseram sair. Foram para lugares onde queriam ficar. Falo dos que ficaram felizes com a casa nova, mas, em algum momento, são alcançados por uma espécie de saudade – uma chuva morna de que não se consegue fugir e que encharca a alma. Não é saudade de um lugar. É saudade de um quando que aconteceu naquele lugar.
E quando ainda se está saindo, o que é que se sente? A saudade pode ser antecipada?
Aqui cheguei no que já não existe e vi crescerem paredes e cômodos.
Aqui às vezes não coube em mim de solidão humana, mesmo cercado de carinho.
Aqui corujamos o crescimento de filhos especiais. Vimos risos em boquinhas desdentadas e choros convulsos e dramáticos sem nenhuma lágrima mas com muita pirraça. Aqui vimos sucederem-se uniformes e cadernos, e transformarem-se caligrafias. Daqui os vimos sair para a primeira aula na faculdade e para o primeiro dia de trabalho. E descobrimos que não nos pertenciam. Aqui recebemos a surpresa de ser consolados por quem até então consoláramos, e aprendemos a tocar a casa a oito mãos.
Daqui saímos algumas vezes para nos despedir pela última vez daqueles que aqui não voltariam mais.
Cada parede, cada cor e cada móvel tem uma história. História que segue, que evolui para outras cenas, mas que já olha para trás.
Não há queixas. Vamos juntos, vamos felizes, vamos crescendo. Mas daqui a pouco estas portas serão fechadas por nós pela última vez. Continuaremos a nos ver todos os dias, mas não nos veremos mais aqui.
Aqui é um tempo que fica. Fecha-se um ciclo.
Aqui voltarei nostálgico ao passar pelas ruas próximas.
Aqui voltaremos em reminiscências que nos apertarão a garganta e acelerarão o peito.
Mas agora vamos.
Comentários
Nos últimos anos tenho mudado algumas vezes de casa, e, sempre que saio, lanço um último olhar carinhoso e murmuro uma prece de agradecimento: "Muito grato, casa". E fecho a porta enquanto abro a lágrima.
Grato a você por me lembrar desses momentos. :)
Tua crônica me encheu de saudade de “aquis” que se perderam com o tempo. Achei de uma sutileza bonita a forma como você disse a vida... Aqui.
Sempre bom te ler! :)