VELHO >> Sergio Geia
Era
só o que faltava. Se não bastassem os poucos cabelos a denunciar. Se não
bastasse que esses poucos cabelos são poucos cabelos brancos e querem
transformar sua cabeça numa Groenlândia. Se não bastassem os vincos que invadem
sua cara por conta do afrouxamento da musculatura. Sem contar que esse afrouxamento
muscular infelizmente não se limita à cara, mas se estende a outras partes do seu
corpo, até aquelas que você só de pensar sente um calafrio. Se não bastassem os
dentes que já não conseguem dar conta de um inofensivo amendoinzinho. Se não
bastassem os amigos dos seus filhos te chamarem de tio. Agora até jogador de
futebol denuncia que você está velho!?
Eis,
amigo, a notícia do jornal que me chamou a atenção essa manhã: “25 jogadores que mostram que você está
velho”. Que petulância! E o primeiro parágrafo desta crônica foi se
desnudando na minha cabeça na mesma proporção em que a vontade de jogar a
notícia no lixo crescia. No entanto, minha autoestima não iria se abalar com uma
noticiazinha mequetrefe dessas, ah, não, e logo tratei de saber quem eram esses
boleiros que com certeza, não eram do meu tempo.
Pensei
nas partidas de futebol de botão que travava com meu tio lá na casa da minha
vó. Ele tinha uns botões com fotos do Leônidas, do Pelé, do Garrincha, do Pepe,
do Zito, jogadores que, por óbvio, conhecia, mas não vi jogar. Ele tinha um
esquadrão branco que dizia ser o time do Santos, uma beleza. Mas eis que para a
minha surpresa, nenhum deles estava lá. Tinha outros, aparentemente mais novos;
bem mais novos.
O
primeiro da lista, vestindo a camisa do Ituano, era o Gil Baiano. O cara teve
sua melhor fase jogando pelo Bragantino num timaço dirigido pelo Luxemburgo que
foi campeão paulista. Chutava forte, batia bem falta. Desse eu lembro.
O
segundo era o Nilson. Um centroavante que apareceu no Internacional de Porto
Alegre e que jogou no Palmeiras. Lembro-me de uma final, acho que foi em 1995,
ou 1996, em que ele fez um gol no Corinthians. O Palmeiras era pior que o
Corinthians, mas saiu ganhando, depois tomou a virada. É, o Nilson; desse eu
lembro também. O outro era o Marcelo Passos, jogador do Santos, meio de campo,
camisa 10, muito técnico. Parecia que tinha um potencial estupendo, mas não
estourou. Lembro dele também.
Nasa:
jogador do Vasco, campeão brasileiro em 1997 contra o Palmeiras, num time em
que jogava o Edmundo. Sorato: também do Vasco, fez um gol no São Paulo em pleno
Morumba numa final de brasileiro. Roberto Gaúcho: DESSE EU NÃO LEMBRO, NÃO!!! A
notícia diz que era ponta-esquerda, jogou no Cruzeiro nos anos 90. NÃO,
DEFINITIVAMENTE, NÃO SEI QUEM É. Gaúcho eu só lembro do Renato, do Ronaldinho,
de um centroavante do Palmeiras que pegava pênalti, MAS ROBERTO GAÚCHO EU NÃO
SEI QUEM É NÃO!!! Leto: desse eu lembro. Caíco: lembro também. Maisena: sei.
Serginho Fraldinha: hum. Capitão: tá bom.
Resolvi
parar de perder tempo com essas inutilidades, amigo. Principalmente quando mansamente
me veio à cabeça uma palestra do filósofo Cortella, em que ele falava que a
nova geração não tinha visto o Senna correr; e que quando o Senna corria não
tinha celular, muito menos internet. E eu vibrava aos domingos com o Ayrton. Inutilidades,
amigo. Inutilidades. Deixa desligar essa porcaria e ouvir Ray Conniff que eu
ganho mais...
Ilustração: “Velho
Homem em Tristeza” de Van Gogh
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