ESCUTAR É PRECISO >> Carla Dias >>

Nos últimos dias, eu não consigo tirar da cabeça um filme que assisti há algum tempo. Um Conto Chinês é muito interessante, e em diversos aspectos. Então, essa lembrança me levou a outro filme: Cookie.


Um Conto Chinês (Um cuento chino/2011) e Cookie (2013) têm algo em comum: um chinês que não fala o idioma de quem o acolhe. Um Conto Chinês fala sobre um homem solitário, que coleciona artigos de jornais sobre casos curiosos, e um chinês que está em busca de seu tio. Em Cookie, a empregada chinesa de uma mulher que perdeu o marido e o filho em um acidente de carro desaparece, deixando o filho aos cuidados da patroa e um endereço falso.


Ambos os filmes tratam, essencialmente, do poder da comunicação. Quando estamos dispostos, ao acessarmos a empatia nos tornamos capazes de elevar a nossa capacidade de entendimento.

Sou suspeita para falar sobre Ricardo Darín, porque sou fã do ator, assisto a todos os filmes dele. Especialmente em Um Conto Chinês, ele está genial, porque se trata de um personagem acostumado à solidão, mal-humorado, com uma rotina repleta de detalhes, rituais que o mantém enclausurado em seu universo. Quando a vida de Roberto é invadida pelo chinês Jun (Ignacio Huang), que não fala uma palavra em espanhol, ao mesmo tempo em que ele lida com a volta de um antigo afeto, Mari (Muriel Santa Ana), ele reluta, mas acaba por se envolver pela vida dessas pessoas. Ignacio Huang está sensacional no filme. É muito clara a sintonia entre Darín e Huang, o que só enriquece a trama.


Em Cookie, Adeline (Alice Taglioni) é uma aeromoça que, ainda adolescente, perdeu o marido e o filho em um acidente. Depois disso, isolou-se, permitindo que somente sua irmã e cunhado façam parte de sua vida. A empregada de Adeline é chinesa, e pede para que a patroa cuide de seu filho, enquanto ela resolve um sério problema muito. A empregada não volta, e Adeline descobre que o endereço que ela lhe deu é falso. A partir daí, enquanto busca informações sobre o desparecimento da empregada, ela é obrigada a lidar com uma criança da qual não sabe nem mesmo o nome.


Esses filmes não me voltaram à memória à toa, e não apenas porque são ótimos e me fez bem assisti-los. Em um momento em que tem sido raro se escutar o que o outro tem a dizer - sem impor o seu próprio ponto de vista como certo e imutável -, a ideia de se aprender a escutar o outro, ainda que não seja possível se compreender o dito, em um primeiro momento, me enche de esperança. Quem sabe, dia desses, seremos menos intolerantes ao impormos nossas certezas, e mais gentis com a compreensão de que dialogar ainda é a melhor forma de se chegar a um bom desfecho. E o faremos sem pressa, que compreender outro idioma (pensamento), com o qual não se teve qualquer contato antes, leva tempo e pede por paciência.

carladias.com

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