TENTANDO CONSEGUIR >> Cristiana Moura

Não havia cabimento em fingir-se triste ou tensa, mas tanta alegria em tempos adversos a constrangia.

— Tá conseguindo estudar?
— Tô tentando conseguir.

Tentar já lhe bastava. Não exigia muito nem de sei mesma, nem dos outros. Este deve ser o segredo da alegria de Clarice — ela se contenta. Ela só ainda não sabe chorar. Talvez por isso, vira e mexe, senta  falta de ar.

— Viver, por vezes, tira-me o fôlego — ouvi-la dizer certa vez.

Tanto sua alegria, quanto seu desassossego marcaram encontro com aquele moço. Philos mexe com ela. Pode contar nos dedos de uma só mão as vezes em que se encontraram. No entanto, se sente como se o conhecesse há vidas. Ele acredita que o que ela sente é só desejo. Mas como dizer só em se falar em desejo? O moço do Sul não percebe toda a intensidade e urgência de seus sentimentos.

Clarice não tem grandes conflitos. Gosta do trabalho, segue seus estudos. Tem boas relações familiares. Seu filho já é grande e bem encaminhado. Parece uma mulher comum. Mas toda essa parecência não lhe cabe. É que ela, ao mesmo tempo que se contenta, se afoga em desejos querendo o novo, o desconhecido.

— Moram muitas mulheres em mim!

Ah, conviver com família, colegas, amigos é fácil. Complexo é conviver com estas mulheres que a habitam. Todo mundo sabe que muitas mulheres juntas rende muito barulho. Tem a que é caseira, a outra da balada, a focada em trabalho, uma outra que parece uma criança mimada, outra que é a sensualidade em pessoa. Ela já nem sabe quantas é.

Chegou em casa cansada, colocou uma música e todas se aquietaram ao som de Gil. Entre o contentamento e os desejos Clarice vai dialogando com as mulheres que a habitam. Vai tentando conseguir...

Comentários

Zoraya disse…
E em você, hein Cristiana, parece haver mil mulheres também! Beijos

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