UM POUCO DE VERGONHA NA CARA, POR FAVOR >> Sílvia Tibo


Eram mais ou menos sete horas da manhã de um sábado, feriado.

Naquele dia, o vizinho resolveu acordar cedo, decidido a ser o primeiro usuário da quadra de tênis do condomínio.

Despertei, então, junto com o sol. E com os gritos do vizinho-tenista (ou metido a), que vibrava enlouquecidamente a cada ponto marcado, bem ali, debaixo da janela do meu quarto.

No momento em que meus ouvidos estavam quase finalmente adaptados ao barulho vindo da quadra e eu, então, estava prestes a pegar no sono de novo, depois de duas horas de tentativas frustradas, eis que surge um som novo, agora vindo da janela do banheiro.

Preocupada, pulei da cama. Afinal, dessa vez os gritos não tinham tom de comemoração. Da janela, avistei dois homens numa discussão calorosa, ao lado de um carro prata estacionado em cima da calçada do prédio.

Na portaria, algumas pessoas já se aglomeravam para assistir à cena, embasbacadas. E, embora a minha visão da janela do quarto não fosse tão privilegiada quanto a dos que estavam lá embaixo, a sensação de estranhamento e perplexidade era exatamente a mesma.

Pelo que me disseram mais tarde, os brigões não eram moradores ou sequer visitantes do prédio.  E foi então que me perguntei: o que leva duas pessoas a saírem de suas casas, numa manhã de feriado, entrarem juntas num carro e pararem ao pé da janela dos outros para discutir, aos berros, problemas que não interessam a mais ninguém, senão a si próprios?

Definitivamente, é muito pra mim. De onde eu venho, roupa suja se lava dentro de casa, no próprio tanque (ou, adaptando o ditado à modernidade, na própria máquina de lavar).

Convenhamos, a calçada alheia não é o melhor lugar para se debater o que quer que seja. Que briguem, que discutam, que se esbofetem, já que assim desejam! Mas longe da minha janela, por obséquio.

Nos últimos tempos, por onde têm andado o bom senso, a gentileza e a urbanidade? Devem estar perdidos numa das muitas gavetas do armário de casa, junto com o desconfiômetro.

A Veja BH da última semana do mês de outubro trouxe, como reportagem de capa, o “Manual do Belo-Horizontino Civilizado”, com uma série de indelicadezas e grosserias a serem evitadas em nome da boa convivência na cidade. Na lista, figuram atitudes como deixar de limpar a sujeira do cachorro e jogar lixo e bitucas de cigarro nas ruas.

Para a próxima edição, sugiro que se acrescente, ao topo do ranking das boas maneiras, o respeito à janela alheia. E desejo, com todas as forças, que o tal manual chegue ao conhecimento do vizinho-sem-noção, assim como aos ouvidos dos brigões-de-calçada.

Um pouco de vergonha na cara é sempre de bom tom. E não faz mal a ninguém.

Comentários

Leonardo disse…
O egoísmo. Sempre o egoísmo, querida. Não há espaço para senso de coletividade... escrever sobre isso é um ótimo passo para melhorar o problema. Parabéns!
Lud disse…
Sil, com toda a sua delicadeza e respeito pelas pessoas, vc tem mais do que autoridade para falar dessas coisas. Adorei! bjos!
Anônimo disse…
Realmente, bom senso é um artigo em extinção. Talvez até mesmo uma lenda. Costumo brincar que não acredito em coelhinho da páscoa e bom senso...
http://aquioualgumlugar.com/2012/07/11/eu-nao-acredito-em-coelhinho-da-pascoa-ou-em-bom-senso/
Unknown disse…
Pois é, irmão! Viver em condomínio é um teste de paciência, né? Escrever ajuda a acalmar rsrsrs.
Beijos!
Unknown disse…
Delícia receber sua visita aqui, Lud!
Beijos, querida! Obrigada!
Unknown disse…
Adorei seu blog, Juliana! Já salvei nos favoritos pra visitar sempre. Beijos.

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